A Joana veio ter comigo e começou a falar da amiga, de quem gostava muito. O filho sofria de epilepsia e tinha crises com frequência, nuns períodos mais do que noutros. A amiga sofria por causa do filho, como aconteceria com qualquer mãe e ela sofria por causa da amiga. O garoto tinha feito uns exames recentes e aguardava-se o resultado, que seria anunciado pelo médico, numa próxima consulta e resultante de dados laboratoriais.
A Joana levou a semana toda a falar-me do mesmo assunto. Vivia o drama da amiga como se fosse dela. Quando percebi isso, pensei que talvez pudesse ajudá-las de alguma maneira. E faltavam ainda alguns dias para terem o resultado dos exames médicos. A epilepsia estava controlada. O problema é que podiam surgir outras coisas que alterassem o quadro clínico.
Nesse dia fui para casa a pensar no assunto e à noite, antes de dormir, concentrei-me. Mal fechei os olhos comecei a visualizar a figura do médico por detrás da secretária, de bata branca e de pé. Com os óculos na ponta do nariz ele segurou o envelope que abriu com um objecto metálico cortante e com os dedos tirou de lá a carta que desdobrou. Aqui, a minha mente parou. Eu não sabia o que lá estava escrito. Mas logo de seguida, o médico pousou a carta sobre a secretária e olhando para a Cidaliza, a mãe do garoto, com um ar bem tranquilo e também sem surpresa, disse: "para além do que já se sabe, não há mais novidade nenhuma". E com esta resposta, finalizei a minha visualização.
No outro dia quando nos encontrámos, perguntei-lhe quando era a consulta. Ela disse que era dali a dois dias e que a amiga estava cada vez mais ansiosa. Então, disse-lhe que, se quisesse ajudá-la, podia dizer-lhe que estava tudo bem. Ela não entendeu e disse-me que não estava tudo bem. Aliás, não estava nada bem. O garoto podia começar a ter crises novamente e não se sabia o que mais teria.
Insisti com ela e disse-lhe que tinha entendido tudo e percebia o que se estava a passar, por isso mesmo, queria dizer-lhe que podia tranquilizar a amiga, dizendo-lhe que não estivesse tão preocupada, que não precisava. E repeti-lhe o que o médico havia dito na minha visualização. Mas ela parecia que não ouvia sequer o que lhe estava a dizer.
Uns dias depois encontrámo-nos, começamos a falar disto e daquilo, mas ela já não falava do assunto. Então, perguntei-lhe se já havia notícias do filho da Cidaliza. Com uma enorme desenvoltura e como se nunca tivesse ouvido aquilo antes, respondeu que ela estava muito aliviada, porque o médico tinha dito que "para além do que já se sabia, não havia novidade nenhuma"(!)...
A visualização através da concentração é
uma coisa que toda a gente deveria exercitar e perceber o que é. É claro que
para isso é preciso uma abstracção total do "ego". Mas não é nada de
tão transcendente. O passado, o presente e o futuro são um só. Nesse encontro,
encontramos a resposta.