sexta-feira, 13 de março de 2020

Aqui não há nada de errado que você possa fazer. Aqui você é amado infinitamente… - 84



Esta maravilhosa frase é de um livro que li há um tempo, de alguém do sexo masculino que viveu uma experiência de quase morte (EQM), tendo sobrevivido, e com a qual aprendeu a ver e a valorizar a vida de modo diferente. É o que sempre acontece nestes casos. E por isso decidiu escrever um livro para partilhar esta bonita e enriquecedora experiência.

Resumindo, ele entra em estado de coma e segundo os médicos, o seu estado é grave, não dando assim muita esperança à família da sua recuperação.

Muitas pessoas entram em estado de coma sem que isso implique a morte. Às vezes o estado de come até precisa de ser induzido. Neste caso particular ele entra em estado de coma e contra todas as previsões, as mais pessimistas, não morre. Consegue recuperar-se. O inusitado é que não perde a totalidade da consciência, o que lhe permite lembrar-se da “viagem” que fez enquanto aparentemente ausente, em estado de coma. E quando volta à vida, isto é, quando se recupera, tem uma bonita história para contar.

Não vou contar a história com todos os detalhes. Vou limitar-me a abreviar e concentrar-me apenas naquilo que no momento me interessa.

Então, a dada altura da sua viagem pelo inconsciente ele chega a um lugar muito bonito. Um jardim cheio de flores maravilhosas e uma atmosfera surreal, onde se sente muita paz. Um lugar belíssimo, sem igual, onde apetece entrar para não mais sair. E mesmo à entrada desse lugar tão especial aparece uma linda menina, muito jovem e de uma beleza extraordinária, que o recebe com um sorriso e um olhar de uma incrível doçura.

Ele não imagina onde está, mas está deliciado com o que lhe está a acontecer. Contudo, há um receio da parte dele, o receio de “manchar” aquele lugar paradisíaco. E então, lendo o pensamento dele, ela lhe transmite mentalmente a seguinte mensagem: “aqui não há nada de errado que você possa fazer… aqui você é amado infinitamente”…

Lembro-me perfeitamente que quando li isto fiquei impressionadíssima com o conteúdo desta mensagem. Com a força do amor que ela encerra. E se eu tinha alguma dúvida enquanto lia o livro, sobre a veracidade deste depoimento, aqui, foram-se todas. Dei-me por vencida.

Transportando isto para a vida real, pensei que jamais existiria este estado de alma, esta vibração, na terra, enquanto seres encarnados. Durante alguns dias andei em êxtase com esta mensagem sempre presente, porque a achei uma coisa do “outro mundo”, por assim dizer. Mas ao mesmo tempo sentia uma certa tristeza por não podermos vivenciar a autenticidade de uma amor assim. De um sentimento de tal modo nobre, puro, genuíno, elevado ao mais alto grau. Era bonito de mais para poder ser sentido e vivido aqui na terra. Mas aí, à força de tanto meditar sobre o assunto, vieram-me à lembrança passagens da vida entre mim e o meu pai, nas quais encontrei uma certa analogia. E então percebi que afinal aquele amor não era tão impossível. Tal vibração amorosa paira por entre seres encarnados, no nosso mundo, planeta terra, mas passa facilmente despercebida, porque o nosso tecido material fecha a passagem e impede tal percepção por ser uma vibração muito elevada.

“Aqui não há nada de errado que você possa fazer”. Lembro-me de que na altura pus esta frase à consideração, na minha aula de meditação na universidade sénior e a resposta consensual que tive foi que por ser o “céu” não havia nada para fazer e não havendo nada para fazer não há como errar. Fiquei devastada com a pobreza da interpretação dada. E prossegui com a segunda frase “Aqui você é amado infinitamente”, mas não houve observações. Pode ser que tenham entendido ou não. Talvez até nem tenham achado nada de tão espectacular como eu achei. Mas isto não é fácil no nosso mundo.

Numa tarde quente de verão, estávamos na casa de campo do meu pai, que tinha ido apanhar um balde inteiro cheio de figos para mim. Para mim, porque eu adoro figos e, por saber disso, ele deu-se ao trabalho de ir apanhá-los só para mim. Às tantas chegou de visita ao tio, uma prima minha, com a família toda. Ela gostava muito do meu pai. Chegaram, cumprimentámo-nos todos, abancaram e a conversa começou. E de repente ela reparou no balde cheio de figos. Tanto comentou e desejou os figos que fez com que o meu pai imediatamente lhos oferecesse sem mais delongas. E enquanto ela se desfazia em agradecimentos e toda desvairada por causa do meu pai lhe ter dado os “meus” figos, a minha irmã mais nova que estava presente, veio ter comigo indignadíssima porque o pai tinha ido apanhar os figos de propósito para mim e não para ela(!). E não se conformava, achando que eu devia exigir os meus “direitos”.

Eu compreendia o ponto de vista dela. Mas ela só via as coisas de um lado, o lado da irmã. Não conseguia ver o lado do pai. E o que eu via não era o facto de eu ter ficado sem os figos, porque os figos, a bem dizer, não eram de ninguém e nas figueiras havia muito mais para apanhar. O que eu não conseguia deixar de ver, era a felicidade do meu pai, por fazer a sobrinha feliz por tão pouco. E se isso o fazia feliz, então eu estava feliz e portanto, não havia nada de errado. Era uma questão de amor. E quando me lembrei deste episódio, percebi que aquela mensagem bonita se encaixava ali perfeitamente bem. O meu querido e amado pai só não tinha feito nada de errado para comigo porque por mim ele era amado infinitamente. E como o meu amor por ele era genuíno, a mensagem encaixava sem o menor favor. Portanto, aqui na terra é possível, sim. E quando testemunhamos uma experiência a este nível, então, somos abençoados, porque o cosmos nos permitiu tal abertura de espírito, o que infelizmente ainda não é para todos.

Outro caso é o facto de muito perto de partir desta vida, o meu pai, quase em jeito de pedido de desculpa, me confidenciou que das três casas que tinha, todas tinham ficado em nome da minha irmã mais nova e não uma para cada uma das três filhas que tinha, o que seria normal. É que ele achava que essa, a mais nova, não tinha as capacidades que nós tínhamos para enfrentar a vida. Por isso ele assim tinha decidido.

Em primeiro lugar ele não tinha que pedir desculpa. Para mim a decisão dele era soberana e eu só tinha que aceitar. Em segundo lugar eu percebia muito bem o que ele queria dizer com aquilo de ela não ter as capacidades de vingar que nós tínhamos. E por último, eu o amava demais, para questionar uma decisão dele. É mesmo tudo uma questão de amor. Mais uma vez a mensagem encaixava perfeitamente e eu tinha a particularidade de me sentir feliz, numa situação em que qualquer outra pessoa se sentiria injustiçada. Não havia julgamentos a fazer. A única coisa que para mim importava era vê-lo feliz com as decisões que tomava. Há quem não entenda isto. Há quem não deixe entrar no seu coração a energia do amor. São escolhas a fazer. Renunciar à matéria para sentir algo muito mais importante e valoroso – o amor incondicional – vale a pena.

Entretanto, a minha irmã está com problemas monetários graves, não obstante as heranças que lhe foram deixadas, não só por parte do pai. Mas esse é o karma dela. Com efeito, mesmo que o meu pai não me tivesse dado a explicação que deu, é como se eu sempre soubesse que as casas lhe pertenciam a ela, porque eram o instrumento da sua aprendizagem, ou seja, a lição que tiraria desta vida.

Outra coisa que acho extraordinário é também o facto de o meu pai não ter ficado nada incomodado com a sua decisão. Acredito que estávamos os dois na mesma sintonia e portanto não eram necessárias explicações adicionais, perante um facto bem reconhecido e assumido a nível das nossas almas.

E aqui fica a mensagem para aqueles que amo verdadeiramente:


“Aqui não há nada de errado que você possa fazer.

Aqui você é amado infinitamente”…



segunda-feira, 9 de março de 2020

Um salto "quântico" - 83



Muita gente sofre de crises de pânico. Mas quem não tem esse problema não valoriza o sofrimento que isso é, o que eu compreendo. E quem nunca teve deve pensar que não tem importância, que é uma coisa estúpida, que pode ser evitado, que se tem porque se quer, etc…, etc…, etc…

As crises de pânico são uma coisa muito séria. Deixam as pessoas completamente arrasadas e muito mais. Tem gente que não sai à rua com medo. Tem gente que se inibe de tudo o que se possa imaginar por causa do medo do pânico, que pode ser generalizado ou por uma razão específica.

Falando assim, até parece que sou especialista no assunto. E de certa forma sou, mas não pelas melhores razões, ou seja, não por ser médica, mas porque bem cedo comecei a padecer desse mal horroroso. E sei o que é ficar “inválida” por causa do pânico. E sei o que é não querer ou não conseguir sair à rua, falar com as pessoas, fazer o que se tem que fazer por causa das crises de pânico.

E não foi à falta de lutar contra isso. Quanto mais crises eu tinha mais dominada por elas eu ficava. Andei em médicos e mais médicos, medicamentos, mas o pânico persistia. Foram muitos anos a lutar contra o pânico. Foram sessões com psicólogos e de tudo eu tentei, mas o pânico dava cabo de mim.

E tinha muitos colegas, mulheres na sua maioria, mas também homens, que tinham o mesmo problema. E o que isso interferia na vida profissional, para não falar do desgaste na vida pessoal!? Era muito complicado. Era terrível. E depois eram as consequências irreversíveis que se projectavam em todas as áreas das nossas vidas. Até hoje eu penso, felizes daqueles que não compreendem. É porque nunca passaram por isso.

Uma crise de pânico derruba-nos. Deita-nos completamente por terra, às vezes no sentido literal da palavra. Depois, seguem-se uma série de sentimentos nada dignificantes como a humilhação, por exemplo, porque se fica sempre com a consciência de que se deveria ter sido capaz de ultrapassar. Mas como? O sentimento de inferioridade e de impotência, como “não valho nada, sou um zero à esquerda, não mereço o respeito nem a admiração de ninguém, só atraio a pena, pena de mim própria e do desprezo dos outros” e por aí fora. É um nunca mais acabar de intolerância e desaprovação do próprio e dos outros. E depois voltar a encarar tudo, voltar à “normalidade”… até à próxima crise, que nunca se sabe quando vem. De repente, no momento menos oportuno, na situação mais indesejável, na altura menos própria, para uma vez mais nos derrubar.

Mas eu não queria. Eu não queria aquilo. Estava farta, cansada. Eu não precisava daquilo para nada. Era isso que eu pensava e achava que era impossível livrar-me daquele problema. Mas aí é que eu estava enganada porque um dia, com efeito, livrei-me do pânico de uma vez por todas. Sem mais nem menos, porque assim o quis.

E um dia, estando eu a trabalhar, levantei-me para ir à fotocopiadora que ficava numa pequena sala dentro do espaço em que trabalhávamos. E como só havia uma, às vezes estava ocupada e tínhamos que esperar. E foi isso que aconteceu. Cheguei lá e estava uma colega a utilizar a máquina, pelo que me aproximei com os papéis que tinha na mão, aguardando que ela terminasse o que estava a fazer. De repente, sem mais nem menos, começo a sentir o corpo todo a estremecer. Mas ainda não era exactamente o meu corpo, ainda era fora do meu corpo. Porém, já estava a começar a afectar a minha cabeça, que deu imediatamente o alarme. Daí, a instalar-se a crise, eram fracções de segundo. Portanto, ao primeiro sinal de tomada de consciência, resolvi agir. E pensei, mais uma crise de pânico que está pronta para tomar conta de mim. Voltei a pensar para comigo mesma o quanto eu estava fartíssima daquilo e porquê aquilo? Era preciso pôr um fim, se é que era possível. Era urgente. E tive plena consciência de que era chegado o momento de fazê-lo. Mas como? Se as outras pessoas não conseguiam como é que eu iria conseguir?

Mas eu não era os outros. Eu era eu. Em fracções de segundo percebi que estava pronta para mudar essa situação. Era chegada a hora. Ou era naquele momento ou nunca mais seria. Senti a energia negativa subir, preencher todo o meu ser, mas ao contrário das outras vezes em que me deixava contaminar por ela e assumia que estava mal, muito mal, prestes a morrer, desta vez fiquei quieta, parada, como se nada estivesse a acontecer. Ninguém se apercebeu de nada e eu própria fiquei como que de fora, como simples espectadora do medo avassalador que inundava todo o meu ser. A única coisa que tinha em mente era “não faz mal, deixa estar, vai passar, não é nada” e coisas assim do género, enquanto permanecia imóvel e aparentemente serena e calma.

E a onda de energia fez o seu trabalho habitual, rondando a minha paciência, testando as minhas capacidades e os meus limites, enquanto eu resistia heroicamente. Eu sabia que era tudo ou nada. Eu tinha plena consciência de que tinha feito uma auto análise e tinha tomado  consciência de que seria mais forte do que o pânico. Mas não foi por magia! A chave para este confronto foi o facto de acreditar que seria capaz de não me deixar vencer pelo medo e o medo era morrer. Por isso trabalhei secretamente para não ter mais medo de morrer e aceitar o que quer que fosse.

Finalmente, não encontrando o terreno fértil como sempre encontrava, a onde de energia negativa deu-se por vencida e desistiu, partindo subitamente. Assim, tive consciência de que estava liberta. Tive consciência de que tinha controlado o meu emocional. E imediatamente a seguir à saída dessa energia negativa, uma onde de energia muito positiva dava entrada no meu ser, invadindo-me sem permissão, de um bem estar inaudito. Era uma sensação maravilhosa e de uma leveza incrível. Era o melhor presente que eu acabava de receber da vida e bem que o merecia. Agora tinha consciência de que algo muito importante e muito especial tinha acontecido e eu tinha conseguido, ou melhor, tinha conquistado.

De facto, não era pouca coisa. Aquele momento tinha sido decisivo para alterar o padrão de registo do medo. Eu estava a salvo mas não era só em relação àquele momento específico, não. Eu tinha acabado de vencer de uma vez por todas as minhas crises de pânico. Claro que o medo voltaria. Voltaria sempre, muitas vezes, porque o medo faz parte de nós. Quem não sente "medo"? Mas daí até se transformar em pânico, isso não. Isso não voltaria mais porque eu já não estava em situação de lhe dar entrada. Algo muito importante tinha mudado. Algo fundamental e decisivo.

E o que antes me parecia impossível foi resolvido num breve instante em que me permiti apenas fazer um simples salto "quântico”.