Esta
maravilhosa frase é de um livro que li há um tempo, de alguém do sexo masculino
que viveu uma experiência de quase morte (EQM), tendo sobrevivido, e com a qual
aprendeu a ver e a valorizar a vida de modo diferente. É o que sempre acontece
nestes casos. E por isso decidiu escrever um livro para partilhar esta bonita e
enriquecedora experiência.
Resumindo,
ele entra em estado de coma e segundo os médicos, o seu estado é grave, não
dando assim muita esperança à família da sua recuperação.
Muitas
pessoas entram em estado de coma sem que isso implique a morte. Às vezes o
estado de come até precisa de ser induzido. Neste caso particular ele entra em
estado de coma e contra todas as previsões, as mais pessimistas, não morre.
Consegue recuperar-se. O inusitado é que não perde a totalidade da consciência,
o que lhe permite lembrar-se da “viagem” que fez enquanto aparentemente
ausente, em estado de coma. E quando volta à vida, isto é, quando se recupera,
tem uma bonita história para contar.
Não
vou contar a história com todos os detalhes. Vou limitar-me a abreviar e
concentrar-me apenas naquilo que no momento me interessa.
Então,
a dada altura da sua viagem pelo inconsciente ele chega a um lugar muito
bonito. Um jardim cheio de flores maravilhosas e uma atmosfera surreal, onde se
sente muita paz. Um lugar belíssimo, sem igual, onde apetece entrar para não
mais sair. E mesmo à entrada desse lugar tão especial aparece uma linda menina,
muito jovem e de uma beleza extraordinária, que o recebe com um sorriso e um
olhar de uma incrível doçura.
Ele
não imagina onde está, mas está deliciado com o que lhe está a acontecer.
Contudo, há um receio da parte dele, o receio de “manchar” aquele lugar
paradisíaco. E então, lendo o pensamento dele, ela lhe transmite mentalmente a
seguinte mensagem: “aqui não há nada de errado que você possa fazer… aqui você
é amado infinitamente”…
Lembro-me
perfeitamente que quando li isto fiquei impressionadíssima com o conteúdo desta
mensagem. Com a força do amor que ela encerra. E se eu tinha alguma dúvida
enquanto lia o livro, sobre a veracidade deste depoimento, aqui, foram-se
todas. Dei-me por vencida.
Transportando
isto para a vida real, pensei que jamais existiria este estado de alma, esta
vibração, na terra, enquanto seres encarnados. Durante alguns dias andei em
êxtase com esta mensagem sempre presente, porque a achei uma coisa do “outro
mundo”, por assim dizer. Mas ao mesmo tempo sentia uma certa tristeza por não
podermos vivenciar a autenticidade de uma amor assim. De um sentimento de tal
modo nobre, puro, genuíno, elevado ao mais alto grau. Era bonito de mais para
poder ser sentido e vivido aqui na terra. Mas aí, à força de tanto meditar sobre
o assunto, vieram-me à lembrança passagens da vida entre mim e o meu pai, nas
quais encontrei uma certa analogia. E então percebi que afinal aquele amor não
era tão impossível. Tal vibração amorosa paira por entre seres encarnados, no
nosso mundo, planeta terra, mas passa facilmente despercebida, porque o nosso
tecido material fecha a passagem e impede tal percepção por ser uma vibração
muito elevada.
“Aqui
não há nada de errado que você possa fazer”. Lembro-me de que na altura pus
esta frase à consideração, na minha aula de meditação na universidade sénior e
a resposta consensual que tive foi que por ser o “céu” não havia nada para
fazer e não havendo nada para fazer não há como errar. Fiquei devastada com a
pobreza da interpretação dada. E prossegui com a segunda frase “Aqui você é
amado infinitamente”, mas não houve observações. Pode ser que tenham entendido
ou não. Talvez até nem tenham achado nada de tão espectacular como eu achei.
Mas isto não é fácil no nosso mundo.
Numa
tarde quente de verão, estávamos na casa de campo do meu pai, que tinha ido
apanhar um balde inteiro cheio de figos para mim. Para mim, porque eu adoro
figos e, por saber disso, ele deu-se ao trabalho de ir apanhá-los só para mim.
Às tantas chegou de visita ao tio, uma prima minha, com a família toda. Ela
gostava muito do meu pai. Chegaram, cumprimentámo-nos todos, abancaram e a
conversa começou. E de repente ela reparou no balde cheio de figos. Tanto
comentou e desejou os figos que fez com que o meu pai imediatamente lhos
oferecesse sem mais delongas. E enquanto ela se desfazia em agradecimentos e
toda desvairada por causa do meu pai lhe ter dado os “meus” figos, a minha irmã
mais nova que estava presente, veio ter comigo indignadíssima porque o pai tinha
ido apanhar os figos de propósito para mim e não para ela(!). E não se
conformava, achando que eu devia exigir os meus “direitos”.
Eu
compreendia o ponto de vista dela. Mas ela só via as coisas de um lado, o lado
da irmã. Não conseguia ver o lado do pai. E o que eu via não era o facto de eu
ter ficado sem os figos, porque os figos, a bem dizer, não eram de ninguém e
nas figueiras havia muito mais para apanhar. O que eu não conseguia deixar de
ver, era a felicidade do meu pai, por fazer a sobrinha feliz por tão pouco. E
se isso o fazia feliz, então eu estava feliz e portanto, não havia nada de
errado. Era uma questão de amor. E quando me lembrei deste episódio, percebi
que aquela mensagem bonita se encaixava ali perfeitamente bem. O meu querido e
amado pai só não tinha feito nada de errado para comigo porque por mim ele era
amado infinitamente. E como o meu amor por ele era genuíno, a mensagem
encaixava sem o menor favor. Portanto, aqui na terra é possível, sim. E quando
testemunhamos uma experiência a este nível, então, somos abençoados, porque o
cosmos nos permitiu tal abertura de espírito, o que infelizmente ainda não é
para todos.
Outro
caso é o facto de muito perto de partir desta vida, o meu pai, quase em jeito
de pedido de desculpa, me confidenciou que das três casas que tinha, todas
tinham ficado em nome da minha irmã mais nova e não uma para cada uma das três
filhas que tinha, o que seria normal. É que ele achava que essa, a mais nova,
não tinha as capacidades que nós tínhamos para enfrentar a vida. Por isso ele
assim tinha decidido.
Em
primeiro lugar ele não tinha que pedir desculpa. Para mim a decisão dele era
soberana e eu só tinha que aceitar. Em segundo lugar eu percebia muito bem o
que ele queria dizer com aquilo de ela não ter as capacidades de vingar que nós
tínhamos. E por último, eu o amava demais, para questionar uma decisão dele. É
mesmo tudo uma questão de amor. Mais uma vez a mensagem encaixava perfeitamente
e eu tinha a particularidade de me sentir feliz, numa situação em que qualquer
outra pessoa se sentiria injustiçada. Não havia julgamentos a fazer. A única
coisa que para mim importava era vê-lo feliz com as decisões que tomava. Há
quem não entenda isto. Há quem não deixe entrar no seu coração a energia do
amor. São escolhas a fazer. Renunciar à matéria para sentir algo muito mais
importante e valoroso – o amor incondicional – vale a pena.
Entretanto,
a minha irmã está com problemas monetários graves, não obstante as heranças que
lhe foram deixadas, não só por parte do pai. Mas esse é o karma dela. Com
efeito, mesmo que o meu pai não me tivesse dado a explicação que deu, é como se
eu sempre soubesse que as casas lhe pertenciam a ela, porque eram o instrumento
da sua aprendizagem, ou seja, a lição que tiraria desta vida.
Outra
coisa que acho extraordinário é também o facto de o meu pai não ter ficado nada
incomodado com a sua decisão. Acredito que estávamos os dois na mesma sintonia
e portanto não eram necessárias explicações adicionais, perante um facto bem
reconhecido e assumido a nível das nossas almas.
E
aqui fica a mensagem para aqueles que amo verdadeiramente:
“Aqui não há nada de
errado que você possa fazer.
Aqui você é amado
infinitamente”…