sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O pior cego é aquele que não quer ver - 41


Onze de Setembro de 2001. Eu tinha vindo do almoço com uma colega que não tinha estado comigo no dia anterior, dia do meu aniversário e vinha muito bem disposta. Entrei na minha sala e dirigi-me ao meu local de trabalho para ver se tinha havido alguma ocorrência durante a minha ausência. Mas antes mesmo de me instalar, dois colegas engenheiros, altos cargos de estrutura, um dos quais meu chefe directo, estavam encostados à minha secretária, olhando atentamente a emissão da RTP num écran que estava em frente à minha secretária. Quando deram pela minha presença apressaram-se a informar-me de que tinha havido um  terrível acidente. Um avião tinha chocado com as torres gémeas em Nova York. 

Fiquei a falar sozinha, em silêncio, repetindo para mim mesma o que tinha acabado de ouvir: "um avião chocou com as torres gémeas"... meu Deus, como é que podia acontecer uma coisa daquelas? Bem, podia, como não!? Que horror! 

Um grande acidente, diziam eles, ao mesmo tempo que insistiam para que eu visse o que eles estavam a ver. E repetiam: "já viu uma coisa assim"? E as imagens passaram novamente, com eles chamando a minha atenção, apesar de eu estar cem por cento focada na televisão para me inteirar do que em princípio não passaria de um incidente.

Para eles, aquelas imagens já eram repetidas. Para mim era a primeira vez que as via. E acompanhando o filme, apercebo-me de que não vi o mesmo que eles, ou seja, o que eles diziam ter sido um acidente, para mim não era acidente nenhum. Eu vi quando o avião começa a descrever uma curva em direcção ao edifício. Para mim estava mais do que claro de que aquilo tinha sido propositadamente. Ao contrário do que eles me queriam fazer crer, aquilo não tinha nada de acidental. 

E disse em voz alta e bom som que aquilo não era um acidente. Eles olharam para mim, espantados, dizendo "então não viu?" Sim, dizia eu, claro que vi, mas o que eu vi não foi um acidente. Não há ali falha alguma, antes pelo contrário. Ele vai intencionalmente ao edifício. Ele vai ao alvo com toda a convicção. Aquilo é um atentado, dizia eu, sem a menor sombra de dúvida. E eles sorriam, com cara de idiotas, qual atentado, coisa nenhuma. Um acidente! 

Nesta altura, eu, que já estava passada com eles, só pensava, meu Deus, a guerra começou. Isto é muito grave. E eles continuavam a achar que eu estava a fantasiar, que estava louca e riam a gozar comigo. Eu estava sem palavras, aterrada e apalermada com a falta de perspicácia daqueles dois, que não eram quaisquer dois. Eram pessoas idóneas, responsáveis, com cargos de grande responsabilidade. Homens já maduros, com experiência de vida bastante; homens com cursos superiores, cultos, etc, etc... mas a falta de visão deles deixava-me completamente perplexa! Era uma coisa que não tinha explicação. 

E, inesperadamente, o segundo atentado aconteceu em directo, com o mundo nos olhos postos perante algo que parecia impossível de acreditar, só que agora já não havia como "esconder", não havia como arranjar desculpas perante aquela loucura toda que estava diante dos nossos olhos. Mas eles continuavam a apreciar o "acidente", continuando a achar espantosa a "coincidência". Uma enorme coincidência! Dois acidentes em condições idênticas, num tão curto espaço de tempo!? 

A minha consternação era tão grande com a burrice deles... mas a minha apreensão conseguia ser ainda maior, porque aquilo era o prenúncio de uma guerra mais do que declarada à América, ao mundo. Donde viria? Dos Árabes?... Era uma hipótese. 

Mas os meus colegas e superiores continuavam impávidos e serenos nas suas convicções de falsos santos e inocentes homens de boa fé, desdenhando das minhas preocupações e dos meus comentários de horror pelo que se seguiria. Seríamos todos envolvidos numa guerra sem tréguas, era só isso em que eu pensava e uma enorme tristeza foi invadindo todo o meu ser, enquanto aquelas imagens terríveis continuavam a passar, envoltas num terror sem precedentes, em directo e a cores, onde se ouvia o estrondo de seres humanos que se atiravam ou caíam de todos os andares das torres mais altas do mundo, até então superadas só pelos Árabes. 

Era o inferno em vida. O mundo inteiro estava em choque. A América vibrava na mais alta frequência de energia negativa possível e inacreditável. Parecia um pesadelo que não ia acabar mais. Uma dor avassaladora arrasava a terra. O planeta azul estava mergulhado no caos. 

Tenho a certeza de que eles sabiam o que se estava a passar. Era impossível não saberem. É claro que eles viam o mesmo que eu. Mas tinham medo de opinar. Quando as pessoas são inseguras, omitem-se e anulam-se, preferindo calar-se para não arriscar. Então, não há intuição que valha, não há nada que fale mais alto e ficam cegas e surdas e mudas se preciso for, porque é seguro. Assim não correm o risco de errar. Mas esse, sim, é o pior erro que se pode cometer.

E condoídos pelo infeliz acidente dos dois aviões continuavam lamentando a terrível coincidência, porque era uma incrível coincidência!...
 

Não acreditando no que ouvia e deixando-os profundamente indignados, pelo menos na aparência, perguntei: "não me digam que vai ser preciso um terceiro, para entenderem o que se está a passar"? 

E o terceiro aconteceu. 


sábado, 2 de fevereiro de 2013

"Alice no País do Quantum" - 40



Para muita gente não existem coincidências. É claro que elas existem, a questão está na maneira somo são interpretadas. 

Eu tinha acabado de ler um mail que alguém especial me tinha enviado e estava fascinada com as palavras que me eram dedicadas, bem como com a apreciação a meu respeito. Era uma espantosa declaração de amor, que me tinha deixado bastante emocionada. 

E achei que tinha que retribuir na mesma moeda; afinal, amor com amor se paga. Assim, no meio de um turbilhão de pensamentos, o cérebro tentava dar resposta à mente, confusa de emoção, mas não me vinha nada que me satisfizesse, até que, de repente, surgiram laivos de um poema que tinha escrito há muito tempo. Não fazia ideia quanto, mas sabia que o tinha escrito há muito anos atrás. 

Achando que ali estava a resposta, abri o arquivo do meu livro de poesia, que contém todos os poemas que escrevi ao longo de quarenta anos e fui buscar o poema que tem por título "No Silêncio".

Li e reli e encontrei nele as palavras certas, o sentimento que me afluía, a emoção que por mim passava. De tal forma, que nem me dei ao trabalho de ver outros, para o caso de se adequarem mais à circunstância. Era aquele que me tinha vindo à ideia e era aquele que exprimia exactamente o momento e a situação actual.
 

Achei curioso, espantoso, mas entendi que a poesia é fruto de sentimentos expressos sempre de maneira diferente. Nada se repete. Podem repetir-se as situações ou os acontecimentos, as histórias ou os amores, mas só na aparência, porque a origem nunca mais será a mesma. Ela é prisioneira do tempo e o tempo nunca é o mesmo.

Peguei então no poema e com um copy past coloquei-o no mail de resposta. E como sempre, deixei o registo da data, verificando que o tinha escrito no dia 29.01.1992 o que, para 2013, fazia vinte e um anos. Vinte e um anos é muito tempo! E dei comigo de regresso ao passado, ao mesmo tempo que me lembrei de um pormenor interessante. Há vinte e um anos atrás, depois de o ter escrito, pensei muito na razão de me ter saído aquilo, aquelas palavras, aquela composição poética. Perguntei-me a mim mesma porque o tinha escrito e para quem, mas a pergunta caía no vazio, porque não havia resposta. Saíra, simplesmente, e aparentemente sem fazer muito sentido. Mas a poesia, fruto do inconsciente, é assim mesmo, não tem data nem hora marcada. 

Assolou-me então uma questão pertinente. Seria justo, seria verdadeiro, responder com um poema que não tinha sido feito para aquela ocasião, ainda que fosse mencionada a data? Mas era aí que estava a essência da coisa, a origem de tudo. 

Mergulhada nesta dúvida, pensei comigo mesma, "que dia é hoje"? Era exactamente 29.01, mas com vinte e um anos em cima. Não sei porquê, fiquei mais aliviada, achei que aquela coincidência já não era assim uma simples coincidência, mas um sinal de que estava a fazer a coisa certa. Exactamente no mesmo dia, eu nem queria acreditar. Era espantoso! Voltei a pensar na questão de não ter um motivo para o ter escrito há vinte anos atrás e não ter a quem ter sido dedicado. De facto, lembro-me perfeitamente de sempre me ter interrogado a esse respeito. Porquê? Para quem? 

E aí, fez-se luz. Não tinha sido por um acaso qualquer que a minha mente o tinha ido buscar. Há vinte anos atrás, a vinte e nove de Janeiro, aconteceu uma coisa espectacular, um chamado salto quântico, em consequência de um desfasamento entre a mente e o espírito. E esse salto equivaleu a um percurso preciso de vinte e um anos, nem um dia a mais, nem um dia a menos. Durante vinte e um anos a minha mente ficou à espera da resposta que o espírito tão bem sabia. Aquele presente/tempo já existia no futuro, ou seja, já estava traçado, mas só agora se fazia presente no tempo. Ele aí estava finalmente encaixado no puzzle da vida. Mais uma vez, passado presente e futuro são um só. 

Estas coisas não são tão transcendentes assim. Elas acontecem com muito mais frequência do que aquilo que se possa imaginar. A questão é que nos passam despercebidas, porque não lidamos com os assuntos de ordem espiritual, muito menos com a física quântica. Todo o nosso trabalho psíquico é de ordem racional e sempre com base na matéria, caso contrário, não é aceite com credibilidade na nossa mente, na nossa vida, no nosso mundo. 

A mente tem um enorme trabalho a fazer, porque está habituada a condicionar tudo. Isso limita a acção do espírito e mantém-nos eternamente aprisionados e incapazes de alcançar patamares mais elevados e chegar a respostas que nos faltam, vindas de todos os lados. Talvez as nossas vidas tivessem mais sentido se prestássemos mais atenção à nossa volta e, especialmente, se fôssemos mais livres de espírito. 

A "Alice do País das Maravilhas" é hoje bem mais poderosa. Hoje, ela é "Alice no País do Quantum".

Havia uma jovem corajosa

Que viajava mais depressa do que a luz.

Um dia ela partiu

Pelo caminho destinado

E só regressou na noite anterior. 

 

 

“Breve História do Tempo” (Stephen Hawking)