Quinze dias após o nascimento da minha
primeira neta, a Sofia, eu estava em Cambridge a dar o apoio possível à jovem
família que estava a crescer. A Sofia era muito bem vinda e todos estávamos
muito felizes com a sua chegada.
O apartamento em Cambridge era muito
bonito e estava inserido numa urbanização magnífica. Muito moderno, com paredes
em portas de vidro de cima abaixo, para se integrar o mais possível na
natureza, bem dentro do jardim. Fosse o que fosse que eu estivesse a fazer,
parecia que estava sempre no meio da floresta, porque a arborização daquele
lugar era extremamente densa e muito bem cuidada. Dava-nos um sossego e uma paz
muito grande.
Logo nos primeiros dias tive um sonho que
se repetiu por três noites consecutivas. O sonho era sempre o mesmo e
acontecia sempre no mesmo local, apenas com pequenas variações de
imagem. O que importa é que, quando acordava, sabia que o sonho era o mesmo. As
pessoas, as cenas e a acção, bem como a sensação, eram uma só. Por isso o
sonho era o mesmo e com uma intensidade enorme. Parecia real, completamente.
Era como se durante a noite, onde quer que fosse, eu viajasse até lá.
Comentei o assunto com a minha nora
querida e descrevi-lhe o sonho, que ela ouviu com toda a atenção. Passava-se
num jardim muito verde, com a relva muito bem cuidada. Uma piscina de fundo
azul, com a água transparente, onde estavam uns rapazes muito jovens a jogar
bola uns com os outros. Havia várias pessoas na piscina, mas eu só via dois
rapazes. Eu não estava dentro da piscina. Estava algures, uns metros afastada e
apenas observava.
O sol deixava passar uns raios que
atravessavam a piscina e a revestiam de uma luz muito especial. Aquele momento
era de uma riqueza espiritual muito grande, apesar de não saber quem eram nem
onde estavam. Mas a minha sensação, por estar naquele lugar e a energia que
tudo aquilo me passava era uma coisa extraordinária. Ali morava a paz, o bem
estar, a tranquilidade absoluta. Era um momento de extrema felicidade.
Quando acordava, continuava a sentir uma paz interior inesquecível, uma
felicidade do outro mundo. Bom demais mais para ser verdade, pensava eu.
Por três noites seguidas fui privilegiada
com aquela bênção, que eu agradecia a Deus e perguntava a mim mesma, de onde
viria aquilo, quem era aquela gente, etc, etc. Só sabia que era muito bom.
O tempo passou e o sonho também. Enquanto
isso, deliciava-me com a minha pequena Sofia, que crescia dia a dia. E o dia de
regressar a Lisboa, à televisão, chegou.
De vez em quando, pensava no sonho, com a
finalidade de ir buscar aquele sentimento de paz e tranquilidade que ele me
oferecia. Era muito bom e eu precisava daquilo. Especialmente, quando me sentia
muito sozinha, o que ultimamente acontecia com frequência. E depois, o Henrique
ia ficar em Cambridge, sozinho e a minha nora tinha que regressar com a
pequena Sofia, sozinha, também, e isso deixava-me angustiada. Mesmo
sabendo que era uma situação temporária, não deixava de me preocupar, até que
ele regressasse de vez.
Isto passou-se no início de Julho. No
final de Agosto um amigo confidenciou-me que gostaria de me apresentar um
colega. Eu que já estava habituada à minha solidão, fiquei um pouco
surpreendida e embaraçada. Ele falou do colega, que era uma boa pessoa, etc,
etc e que não haveria mal algum em nos conhecermos e fazermos uma amizade,
porque não? Pensei, pensei e aceitei. Disse-lhe que sim.
Uns dias depois, aceitei um convite para
jantar, do próprio, ou seja, do amigo. O jantar foi óptimo, o passeio excelente
e tudo correu muito, muito bem. Fiquei encantada com a companhia que muito me
surpreendeu. Depois dias depois aceitei novo convite para ir ver a casa de
campo dele, em Alcobaça. Adorei. Ficámos lá o fim de semana e passeámos pelos
arredores que eu pouco conhecia. Entendemo-nos muito bem e decidimos, sem
perder tempo com detalhes, ficar juntos. Assim, ele veio viver para a minha
casa na cidade e aos fins de semana, então, lá íamos nós para a casa de
Alcobaça.
Os dias foram passando, até que veio um
fim de semana em que ele me disse que os filhos e as respectivas namoradas e
amigos e amigas, iriam lá passar um fim de semana connosco. Assim foi.
Chegaram, instalaram-se, acabou o nosso sossego, mas era uma festa ter aquela
juventude toda lá. Ele estava feliz e eu idem. No domingo de manhã, nós
estávamos na cozinha a preparar o almoço para aquele pessoal todo e eu tive que
vir cá fora ao jardim, fazer qualquer coisa. De repente, olho para a piscina e
o que vejo?
Estavam todos a jogar à bola. A luz era
perfeita. O sol atravessava a água azul, revestindo-a de uma luminosidade fora
do comum. A alguns metros de distância, observava os rapazes e percebia que a
sensação boa de estar ali, era a mesma do sonho e o quadro que se me deparava
era exactamente o do sonho que tivera em Cambridge, que eu jamais ousaria
pensar que se tratava de uma premonição, anunciando um futuro muito breve, que
me proporcionaria uma vida que até então nunca tinha tido, nem imaginara
que alguma vez seria possível(!).
Pena que tão pouco tenha durado…