domingo, 20 de maio de 2012

Em Cambridge - 31


Quinze dias após o nascimento da minha primeira neta, a Sofia, eu estava em Cambridge a dar o apoio possível à jovem família que estava a crescer. A Sofia era muito bem vinda e todos estávamos muito felizes com a sua chegada. 

O apartamento em Cambridge era muito bonito e estava inserido numa urbanização magnífica. Muito moderno, com paredes em portas de vidro de cima abaixo, para se integrar o mais possível na natureza, bem dentro do jardim. Fosse o que fosse que eu estivesse a fazer, parecia que estava sempre no meio da floresta, porque a arborização daquele lugar era extremamente densa e muito bem cuidada. Dava-nos um sossego e uma paz muito grande. 

Logo nos primeiros dias tive um sonho que se repetiu por três noites consecutivas. O sonho era sempre o mesmo e acontecia sempre no mesmo local, apenas  com pequenas variações de imagem. O que importa é que, quando acordava, sabia que o sonho era o mesmo. As pessoas, as cenas e a acção, bem como a sensação, eram uma só. Por isso o sonho era o mesmo e com uma intensidade enorme. Parecia real, completamente. Era como se durante a noite, onde quer que fosse, eu viajasse até lá. 

Comentei o assunto com a minha nora querida e descrevi-lhe o sonho, que ela ouviu com toda a atenção. Passava-se num jardim muito verde, com a relva muito bem cuidada. Uma piscina de fundo azul, com a água transparente, onde estavam uns rapazes muito jovens a jogar bola uns com os outros. Havia várias pessoas na piscina, mas eu só via dois rapazes. Eu não estava dentro da piscina. Estava algures, uns metros afastada e apenas observava.  

O sol deixava passar uns raios que atravessavam a piscina e a revestiam de uma luz muito especial. Aquele momento era de uma riqueza espiritual muito grande, apesar de não saber quem eram nem onde estavam. Mas a minha sensação, por estar naquele lugar e a energia que tudo aquilo me passava era uma coisa extraordinária. Ali morava a paz, o bem estar, a tranquilidade absoluta. Era um momento de extrema felicidade. Quando acordava, continuava a sentir uma paz interior inesquecível, uma felicidade do outro mundo. Bom demais mais para ser verdade, pensava eu. 

Por três noites seguidas fui privilegiada com aquela bênção, que eu agradecia a Deus e perguntava a mim mesma, de onde viria aquilo, quem era aquela gente, etc, etc. Só sabia que era muito bom. 

O tempo passou e o sonho também. Enquanto isso, deliciava-me com a minha pequena Sofia, que crescia dia a dia. E o dia de regressar a Lisboa, à televisão, chegou. 

De vez em quando, pensava no sonho, com a finalidade de ir buscar aquele sentimento de paz e tranquilidade que ele me oferecia. Era muito bom e eu precisava daquilo. Especialmente, quando me sentia muito sozinha, o que ultimamente acontecia com frequência. E depois, o Henrique ia ficar em Cambridge, sozinho e a minha nora tinha que regressar com a pequena Sofia, sozinha, também, e isso deixava-me angustiada. Mesmo sabendo que era uma situação temporária, não deixava de me preocupar, até que ele regressasse de vez. 

Isto passou-se no início de Julho. No final de Agosto um amigo confidenciou-me que gostaria de me apresentar um colega. Eu que já estava habituada à minha solidão, fiquei um pouco surpreendida e embaraçada. Ele falou do colega, que era uma boa pessoa, etc, etc e que não haveria mal algum em nos conhecermos e fazermos uma amizade, porque não? Pensei, pensei e aceitei. Disse-lhe que sim. 

Uns dias depois, aceitei um convite para jantar, do próprio, ou seja, do amigo. O jantar foi óptimo, o passeio excelente e tudo correu muito, muito bem. Fiquei encantada com a companhia que muito me surpreendeu. Depois dias depois aceitei novo convite para ir ver a casa de campo dele, em Alcobaça. Adorei. Ficámos lá o fim de semana e passeámos pelos arredores que eu pouco conhecia. Entendemo-nos muito bem e decidimos, sem perder tempo com detalhes, ficar juntos. Assim, ele veio viver para a minha casa na cidade e aos fins de semana, então, lá íamos nós para a casa de Alcobaça. 

Os dias foram passando, até que veio um fim de semana em que ele me disse que os filhos e as respectivas namoradas e amigos e amigas, iriam lá passar um fim de semana connosco. Assim foi. Chegaram, instalaram-se, acabou o nosso sossego, mas era uma festa ter aquela juventude toda lá. Ele estava feliz e eu idem. No domingo de manhã, nós estávamos na cozinha a preparar o almoço para aquele pessoal todo e eu tive que vir cá fora ao jardim, fazer qualquer coisa. De repente, olho para a piscina e o que vejo? 

Estavam todos a jogar à bola. A luz era perfeita. O sol atravessava a água azul, revestindo-a de uma luminosidade fora do comum. A alguns metros de distância, observava os rapazes e percebia que a sensação boa de estar ali, era a mesma do sonho e o quadro que se me deparava era exactamente o do sonho que tivera em Cambridge, que eu jamais ousaria pensar que se tratava de uma premonição, anunciando um futuro muito breve, que me proporcionaria uma vida que até então nunca tinha tido, nem imaginara que alguma vez seria possível(!).  

Pena que tão pouco tenha durado…


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