Sempre que eu conhecia uma pessoa, inclusivé criança, tinha o hábito de ver
as mãos e dar uma olhadela nas linhas da mão. Talvez não fosse uma boa prática,
mas não conseguia deixar de o fazer. É que esta, era a maneira de ficar com uma
ideia geral e bastante precisa da pessoa em causa. E isso era importante para
mim.
Quando conheci o Álvaro, essa necessidade não se manifestou como
habitualmente, pelo menos logo de início. Só passado algum tempo é
que me veio aquela curiosidade. E ao olhar as mãos dele pela primeira vez, algo
de estranho se me deparou. Depois de fazer o cálculo da idade, percebi que a
linha da vida terminava naquela altura. Achei que estava confundida e que essa
indicação seria a mudança da vida dele, relativamente ao divórcio com a
ex-mulher. E como vivíamos em constante brincadeira, num clima de muita
descontracção por nos sentirmos muito bem um com o outro, sinceramente, não me
dei ao trabalho de aprofundar o assunto. Nem me apetecia pensar naquilo. Estava
tudo tão bem!
O tempo foi passando e lá voltei a ver as mãos dele, sendo que a informação
era a mesma, por mais que eu tentasse ver outra coisa, por mais que não
quisesse ver o que estava bem patente. A linha da vida dele era bem explícita.
Terminava ali, independentemente do que eu tentava "inventar" e ponto
final. E tentava inventar razões para aquele término de linha, baralhando-a com
outras linhas, tentando tirar ilacções e interpretações diferentes, que nada
tinham que ver com a "verdade" nua e crua.
Limitava-me a pensar que não podia ser. Ele era uma pessoa saudável. Além
de fumar, não tinha vícios. Porque haveria de morrer, logo agora que nos
tínhamos acabado de conhecer e estávamos tão felizes? Tudo corria bem. Mais que
bem. Tudo era perfeito. Certamente eu estava errada, só podia ser isso. Éramos
muito felizes e isso era a única coisa que me importava.
Evidentemente que nunca lhe falei neste assunto claramente. Eram apenas
suposições de mau gosto da minha parte e ignorância no que respeitava à leitura
das mãos. Precisava aprofundar os meus conhecimentos para não correr riscos tão
sérios de me enganar em casos de vida ou de morte. Era preciso ter muito
cuidado.
E os dias foram passando, com a nossa vida a correr às mil maravilhas, que até parecia um sonho. E passou um mês. E passou outro mês. E passaram três meses. E passaram mais uns meses e tudo era perfeito. E chegou o sétimo mês e como tudo fosse realmente bom demais para ser verdade, as coisas mudaram.
Assim, numa madrugada de domingo, depois de ter sido submetido a uma terceira
cirurgia, no espaço de apenas uma semana e apenas por causa de
uma hérnia, o Álvaro partia para não mais voltar.
E a vida continua, diziam-me.
A vida continua, sim, porque "uns têm a coragem de partir e
outros têm a coragem de ficar".
Mas a prévia leitura das mãos acabou. Nunca mais. Foi a promessa que fiz a
mim mesma.
Muito original sua história e uma boa lição de vida também.
ResponderEliminarAcabei perceber mais ainda porque cruzaste o meu caminho!
A minha história não e muito nem pouco original.
ResponderEliminarA minha história, infelizmente, ela e verdadeira.