Para muita gente não existem
coincidências. É claro que elas existem, a questão está na maneira somo são
interpretadas.
Eu tinha acabado de ler um mail que alguém
especial me tinha enviado e estava fascinada com as palavras que me eram
dedicadas, bem como com a apreciação a meu respeito. Era uma espantosa
declaração de amor, que me tinha deixado bastante emocionada.
E achei que tinha que retribuir na mesma
moeda; afinal, amor com amor se paga. Assim, no meio de um turbilhão
de pensamentos, o cérebro tentava dar resposta à mente, confusa de emoção,
mas não me vinha nada que me satisfizesse, até que, de repente,
surgiram laivos de um poema que tinha escrito há muito tempo. Não fazia ideia
quanto, mas sabia que o tinha escrito há muito anos atrás.
Achando que ali estava a resposta, abri o
arquivo do meu livro de poesia, que contém todos os poemas que escrevi ao longo
de quarenta anos e fui buscar o poema que tem por título "No
Silêncio".
Li e reli e encontrei nele as palavras certas, o sentimento que me afluía, a
emoção que por mim passava. De tal forma, que nem me dei ao trabalho de ver
outros, para o caso de se adequarem mais à circunstância. Era aquele que me
tinha vindo à ideia e era aquele que exprimia exactamente o momento e a
situação actual.
Achei curioso, espantoso, mas entendi que
a poesia é fruto de sentimentos expressos sempre de maneira diferente. Nada se
repete. Podem repetir-se as situações ou os acontecimentos, as histórias ou os
amores, mas só na aparência, porque a origem nunca mais será a mesma. Ela é
prisioneira do tempo e o tempo nunca é o mesmo.
Peguei então no poema e com um copy
past coloquei-o no mail de resposta. E como sempre, deixei o registo
da data, verificando que o tinha escrito no dia 29.01.1992 o que, para 2013,
fazia vinte e um anos. Vinte e um anos é muito tempo! E dei comigo de regresso
ao passado, ao mesmo tempo que me lembrei de um pormenor interessante. Há
vinte e um anos atrás, depois de o ter escrito, pensei muito na razão de me ter
saído aquilo, aquelas palavras, aquela composição poética. Perguntei-me a mim
mesma porque o tinha escrito e para quem, mas a pergunta caía no vazio,
porque não havia resposta. Saíra, simplesmente, e aparentemente sem fazer
muito sentido. Mas a poesia, fruto do inconsciente, é assim mesmo, não tem data
nem hora marcada.
Assolou-me então uma questão
pertinente. Seria justo, seria verdadeiro, responder com um poema que não tinha
sido feito para aquela ocasião, ainda que fosse mencionada a data? Mas era aí
que estava a essência da coisa, a origem de tudo.
Mergulhada nesta dúvida, pensei comigo
mesma, "que dia é hoje"? Era exactamente 29.01, mas com vinte e um anos
em cima. Não sei porquê, fiquei mais aliviada, achei que aquela coincidência já
não era assim uma simples coincidência, mas um sinal de que estava a fazer a
coisa certa. Exactamente no mesmo dia, eu nem queria acreditar. Era
espantoso! Voltei a pensar na questão de não ter um motivo para o ter
escrito há vinte anos atrás e não ter a quem ter sido dedicado. De facto,
lembro-me perfeitamente de sempre me ter interrogado a esse respeito. Porquê?
Para quem?
E aí, fez-se luz. Não tinha sido por um
acaso qualquer que a minha mente o tinha ido buscar. Há vinte anos
atrás, a vinte e nove de Janeiro, aconteceu uma coisa espectacular, um
chamado salto quântico, em consequência de um desfasamento entre a mente e
o espírito. E esse salto equivaleu a um percurso preciso de vinte e um
anos, nem um dia a mais, nem um dia a menos. Durante vinte e um anos a minha
mente ficou à espera da resposta que o espírito tão bem sabia. Aquele
presente/tempo já existia no futuro, ou seja, já estava traçado, mas só agora
se fazia presente no tempo. Ele aí estava finalmente encaixado no puzzle da
vida. Mais uma vez, passado presente e futuro são um só.
Estas coisas não são tão transcendentes
assim. Elas acontecem com muito mais frequência do que aquilo que se possa
imaginar. A questão é que nos passam despercebidas, porque não lidamos
com os assuntos de ordem espiritual, muito menos com a física
quântica. Todo o nosso trabalho psíquico é de ordem racional e sempre com base
na matéria, caso contrário, não é aceite com credibilidade na nossa mente, na
nossa vida, no nosso mundo.
A mente tem um enorme trabalho a fazer,
porque está habituada a condicionar tudo. Isso limita a acção do espírito e
mantém-nos eternamente aprisionados e incapazes de alcançar patamares mais
elevados e chegar a respostas que nos faltam, vindas de todos os
lados. Talvez as nossas vidas tivessem mais sentido se prestássemos mais
atenção à nossa volta e, especialmente, se fôssemos mais livres de
espírito.
A "Alice do País das
Maravilhas" é hoje bem mais poderosa. Hoje, ela é "Alice no
País do Quantum".
Havia uma jovem corajosa
Que viajava mais depressa do que a luz.
Um dia ela partiu
Pelo caminho destinado
E só regressou na noite anterior.
“Breve História do Tempo” (Stephen
Hawking)