Era uma sala de trabalho cheia de homens e mulheres, num dia normal e eu lá. Cada um fazia o que tinha que fazer e eu idem. Concentrada que estava no meu trabalho, a páginas tantas apercebo-me de que três ou quatro colegas, homens, estavam às voltas com uma resma de papel impresso, que queriam furar duma só vez, num furador gigante, para que ficasse tudo o mais certinho possível dentro de um dossier.
Lembro-me de que pareciam umas baratas tontas. Ora experimentava um, ora experimentava outro, mas por mais esforços que fizessem não conseguiam dar conta do recado, pois a resma tinha uma altura considerável. Mas eram os homens fortes da sala. Os que sempre resolviam tudo, que sempre sabiam de tudo, os senhores da verdade.
O facto é que já ali estavam naquela dança
havia bastante tempo, nas sucessivas tentativas que sempre falhavam. E de
repente parei o que estava a fazer para observar. Vi as tentativas individuais
e então percebi que estavam todos a cometer o mesmo erro. É que estavam a utilizar
apenas e somente a força física, porquanto aquilo não se compadecia disso. Era
uma resma muito alta, que mal entrava no furador. A força física ali não podia
funcionar. Não tinha espaço. Eu sabia, porque vinte anos atrás, tinha
praticado durante alguns anos, vários tipos de artes marciais e tinha
tido um mestre que nos dava lições de como utilizar a força da mente.
Então, sem dizer uma só palavra, levantei-me, como um robô, dirigi-me à mesa onde o drama se estava a passar, insinuando que me dessem espaço. Quando a minha intenção ficou clara, logo começaram as risadas e outras coisas mais. Ignorando por completo, afastei-os e numa única vez baixei devagar o furador sobre a resma, para perceber quanta força física seria preciso utilizar, a fim de não desperdiçar a que teria de canalizar para a mente. Claro que ninguém percebeu o que eu estava a fazer e os risos entre dentes continuaram. Ignorei. E agora, que já tinha o dado que precisava, era só executar.
Nesse preciso momento, visualizei o meu
antigo mestre a partir uma quantidade de tijolos empilhados uns sobre os
outros, com uma só batida de mão na vertical. Era lindo de se ver. E nem um ai,
nem a mão magoada, nada. Pensei, está na hora de pôr em prática aquilo que sei.
E foi o que fiz. De uma única pancada e com a força certa centrada na mente, o
furador percorreu a resma de cima a baixo, furando todo o papel, folha por
folha, mas todo ao mesmo tempo, da primeira à última. E eu ali, impecável, sem
dor, sem praticamente me ter dado conta do que tinha feito, mas estava feito. A
mente tinha sido soberana. A força da mente fizera o que eu havia ordenado.