terça-feira, 24 de setembro de 2013

O beijo - 42


Numa tarde quente de fim de verão, sentei-me no sofá da minha sala, junto à varanda, olhando o horizonte e toda a paisagem que se estende pela serra. Com o calor que se fazia sentir e a preguiça a apertar, fui-me estendendo, até encontrar uma posição bem confortável e relaxante. Aos poucos os olhos foram fechando e fiquei naquele estado em que o sono leve toma conta de nós, sem que estejamos num sono profundo. Era apenas uma dormência agradável, resultante do "dolce far niente". Tanto assim que, várias vezes, a consciência emergia, fazendo-me perceber que mergulhava em sonhos múltiplos, dos quais nada entendia.

 

Isto aconteceu durante todo o tempo em que estive nessa deliciosa sorna. Não eram sonhos que me incomodassem, era apenas o subconsciente à toa. Até que o sono foi um pouco mais profundo. Sabia-o pelo acordar e percebia que afinal tinha mesmo dormido.

 

Sonhava com muita coisa ao mesmo tempo, sem conseguir definir nada. Mas, de repente, aparece no meu sonho uma figura masculina que pouco a pouco se foi aproximando de mim e à medida que se aproximava ia ficando mais definido, até que vi exactamente quem era. Chegou bem pertinho e vinha dar-me um beijo. Eu senti essa presença como se estivesse ali ao pé de mim. E percebi que me vinha dar um beijo, ao que reagi positivamente, sem pensar muito, porque era absolutamente inesperado. Mas era agradável. Uma surpresa gratificante. E no preciso momento em que esse beijo se consolidaria e tanto bem teria feito à minha alma, estupidamente, acordei com o telemóvel a tocar.

 

Fiquei muito chateada, porque estava a dormir tão bem e aquele beijo ia ser maravilhoso, tendo ficado sem efeito, porque o telemóvel o interrompeu abruptamente. O telemóvel tem sempre que tocar nos momentos menos oportunos. Mas tinha que ver e atender. O que seria tão importante assim? Uma chatice qualquer. O facto é que tinha acabado com a minha deliciosa sesta.

 

Pego no telemóvel, atendo e espantosamente ouço a voz da pessoa que estava no meu sonho. O assunto não tinha nada a ver, porque não tenho a menor intimidade com a pessoa em causa, mas por mais estranho que possa parecer, era ele.