Numa tarde quente de fim de verão, sentei-me no sofá da minha sala, junto à
varanda, olhando o horizonte e toda a paisagem que se estende pela serra. Com o
calor que se fazia sentir e a preguiça a apertar, fui-me estendendo, até
encontrar uma posição bem confortável e relaxante. Aos poucos os olhos foram
fechando e fiquei naquele estado em que o sono leve toma conta de nós, sem que
estejamos num sono profundo. Era apenas uma dormência agradável, resultante do
"dolce far niente". Tanto assim que, várias vezes, a
consciência emergia, fazendo-me perceber que mergulhava em sonhos
múltiplos, dos quais nada entendia.
Isto aconteceu durante todo o tempo em que estive nessa deliciosa sorna.
Não eram sonhos que me incomodassem, era apenas o subconsciente à toa. Até
que o sono foi um pouco mais profundo. Sabia-o pelo acordar e percebia
que afinal tinha mesmo dormido.
Sonhava com muita coisa ao mesmo tempo, sem conseguir definir nada.
Mas, de repente, aparece no meu sonho uma figura masculina que pouco a
pouco se foi aproximando de mim e à medida que se aproximava ia
ficando mais definido, até que vi exactamente quem era. Chegou bem pertinho e
vinha dar-me um beijo. Eu senti essa presença como se estivesse ali
ao pé de mim. E percebi que me vinha dar um beijo, ao que reagi positivamente,
sem pensar muito, porque era absolutamente inesperado. Mas era agradável. Uma
surpresa gratificante. E no preciso momento em que esse beijo se consolidaria e
tanto bem teria feito à minha alma, estupidamente, acordei com o telemóvel
a tocar.
Fiquei muito chateada, porque estava a dormir tão bem e aquele
beijo ia ser maravilhoso, tendo ficado sem efeito, porque o telemóvel o
interrompeu abruptamente. O telemóvel tem sempre que tocar nos momentos
menos oportunos. Mas tinha que ver e atender. O que seria tão importante assim?
Uma chatice qualquer. O facto é que tinha acabado com a minha deliciosa sesta.
Pego no telemóvel, atendo e espantosamente ouço a voz da pessoa que estava
no meu sonho. O assunto não tinha nada a ver, porque não tenho a menor
intimidade com a pessoa em causa, mas por mais estranho que possa
parecer, era ele.