Quando
as pessoas falam e se indagam sobre a vida depois da morte, é sempre uma grande
dificuldade falar sobre o assunto porque… é complicado. Mas a vida depois da
morte existe, sem sombra de dúvida. Tentar passar a palavra é que é difícil,
porque não há perguntas para este assunto, nem respostas para as mesmas, que
deixem as pessoas em geral entendidas e satisfeitas com o que se possa dizer. Normalmente
pretende-se uma resposta concisa, perfeita, exacta. E num assunto destes isso é
algo impossível. Se as pessoas não tiverem já consigo uma intuição que as faça
chegar lá, também não vai adiantar nada falar no assunto, porque não vão
conseguir ligar-se. Se já lá estiverem, então sim, o que se falar sobre esse
assunto não carece de muita perguntas porque a coisa é aceite de forma natural
e intuitiva.
Quando
o meu filho era pequeno muitas vezes tinha alergias. E uma das alergias mais
frequentes era ao chocolate. Ele podia comer chocolate mas até uma determinada
quantidade. Quando ultrapassava aquele limite que o corpo dele lá sabia, era
certo que a alergia aparecia. E depois eram as comichões e a pele com prurido. Por
isso, com frequência, lá ía eu com ele ao pediatra que observava e conforme o
caso, prescrevia o medicamento acertado.
Numa dessas
vezes em que ele mais uma vez teve alergia o médico receitou dois medicamentos.
Dois frascos de vidro, mais ou menos do mesmo tamanho, um para ele tomar o
xarope, outro para passar na pele e suavizar a erupção. E depois era esperar
que o tempo fizesse o seu efeito.
Era o
terceiro ou quarto dia que estava a tomar e durariam para uma semana ou um pouco
mais. Como ele teria nessa altura uns nove anos, era eu que lhos administrava. Assim,
após as refeições, lá vinha a colher de sobremesa de xarope e o de passar no
corpo à noite depois do banho e de manhã quando se levantava.
Os dois
frascos de tamanho idêntico estavam sobre a pedra mármore de um móvel na casa de
jantar, onde eu os colocava sempre na mesma ordem: primeiro o xarope e ao lado
o outro da coceira.
Uma tarde
de sábado, estava eu sentada no sofá da sala com a televisão ligada enquanto ia
fazendo outras coisas, quando me apercebi de que uma energia se apoderara do
meu espaço e pouco a pouco interferia comigo. Passava para lá, passava para cá.
Passado pouco tempo voltava a fazer o mesmo e assim, repetidamente, por aí
fora. Percebi que era a energia da minha falecida mãe, só não conseguia
perceber o que é que queria. E sempre que aquela energia se manifestava eu
indaga-me, na esperança de conseguir decifrar o motivo da sua presença.
Uma entidade
desencarnada só se manifesta por um motivo imperioso. Ao contrário do que
muitos acreditam, não andam cá e lá porque esta já não é a terra deles, já não
é o seu mundo. Mas sim, vêm em nosso auxílio quando têm essa missão. Porque todos
estamos destinados a cumprir missões. Todos temos os nossos “deveres”, as
nossas tarefas espirituais. E a minha falecida mãe era uma grande protecção do
meu filho. Talvez porque ela desencarnou muito cedo e não nos pode valer de
muito nesta vida. O facto é que ela se fez presente sempre que foi necessário. Umas
vezes porque eu a chamava, outras vezes por sua própria iniciativa. Foi o caso.
Eu estava tranquila da vida, achando que estava tudo bem, mas ela estava
constantemente a passar à minha frente numa chamada de atenção que eu não
conseguia descortinar, não conseguia antever.
E à
medida que o tempo caminhava, a sua energia se tornava mais forte, mais rápida,
mais prepotente. Várias vezes me levantei para inspeccionar o meu filho no
quarto, que estava sempre entretido com os seus jogos e no seu mundo de sempre. Portanto,
não tinha a menor ideia do que aquilo poderia ser.
Até que
chegou a hora do jantar e fui para a cozinha preparar as coisas para jantarmos.
Jantámos e a seguir ao jantar, novamente na cozinha, chamei o meu filho que já
se tinha levantado, para tomar o xarope. Ele imediatamente acorreu, dizendo que
não era preciso ser eu a dar-lho, que ele mesmo o tomaria. Não vendo qualquer
impedimento, respondi-lhe que sim, ao mesmo tempo que lhe passei para a mão a
colher de sobremesa com que o tomaria. E lá foi ele todo contente por se sentir
independente a tomar o xarope sozinho. É então que depois de tomar o remédio
sozinho, retorna à cozinha com a colher numa mão e o frasco por fechar na
outra. Passou para a minha mão a colher e disse-lhe que deixasse o frasco em
cima da bancada que eu o colocaria no sítio. Assim foi. E voltou para o seu
quarto para as suas brincadeiras.
Quando
pego no frasco e o levo para o seu lugar, sobre a pedra mármore junto ao outro,
e vou colocá-lo no lugar certo, cai a ficha. Vem-me imediatamente à ideia que
da última vez que lhe tinha dado o remédio, por uma pressa qualquer, não
coloquei o frasco na ordem certa, ou seja, tinha alterado a posição dos
frascos. E o frasco que estava sempre em primeiro plano, o de tomar, tinha
passado para o segundo. Azar! Ele tinha acabado de ingerir o que era de passar
no corpo.
Aflita,
comecei imediatamente e sofregamente a ler a burla que falava da substância em
termos “venenosos”, e a chamada de atenção para a eventual toma do medicamento.
O meu querido filho, por minha culpa, tinha acabado de ingerir uma substância
altamente tóxica. Percebi então o que aquela intervenção queria dizer. Uma vez
mais a minha saudosa e amada mãe tinha
vindo fazer o que lhe era possível. Por isso ela corria de um lado para o
outro, para me chamar a atenção de algo que estava prestes a acontecer. A energia
dela passava precisamente junto aos frascos dos medicamentos. Era sempre ali e
só ali. Mas agora estava explicado.
A seguir
segue-se o caos. Pego no meu filho, entro aflita no elevador e saio do prédio a
gritar. Vem o homem do café e grito-lhe por amor de deus que me chame uma
ambulância para ir para o hospital. Assim foi. A ambulância chegou e lá fomos
os dois para o hospital, rezando e chorando quantas lágrimas havia para deitar
e rogando aos céus e a tudo o mais que o meu querido filho se salvasse.
Estivemos
no hospital o tempo necessário para resolver o problema e regressámos a casa
com ele são e salvo. Isto foi um fim de semana. Na segunda-feira quando fui
trabalhar marquei logo uma consulta para o pediatra para o pôr ao corrente da
situação, que me garantiu que não havia o menor problema no que aconteceu, uma
vez que a quantidade tóxica do produto era tão, mas tão baixa, que mesmo que
ele tivesse tomado o frasco inteiro, o mais que lhe podia acontecer era ficar
nauseado e vomitar.
Tudo bem,
percebi que não tinha passado de um grande, grande susto e que a vida do meu
filho não tinha estado em risco. Excelente. Em todo o caso a minha mãe viera em
meu auxílio. Porquê, então, uma vez que não havia grande problema? Pois… porque
ela sabia que eu não sabia disso, e que uma vez o remédio tomado, eu ia ficar
em pânico como fiquei. É normal. Qual é a mãe que não ficaria? E portanto, a
advertência dela era dizer-me simplesmente que os frascos estavam trocados. Mas
como podia eu adivinhar?
Não é
fácil. Estávamos em planos diferentes. Nem sempre é fácil receber a mensagem
deles do outro lado da vida. Aqui mesmo nesta vida quantas vezes as pessoas se
comunicam sem se conseguirem entender, com coisas simples, parece que falam
línguas diferentes!? Há vida depois da morte? A vida apenas se limita a
continuar. Num outro plano, sem lugar, sem tempo, sem matéria, mas é para lá
que ela segue e prossegue. A vida é infinita, imortal. Apenas mudamos de rumo. Se
isso não fosse verdade, ela não se teria podido manifestar. Ah, mas isso não
acontece com todos. Pois não! É por isso que uns sabem e entendem. Outros não.