“Meditamos
sobre a Luz Divina do adorável Sol da Consciência Universal,
que
estimula nosso poder de percepção espiritual”
Om Svah
Cada
um tem as suas manias e eu também tenho as minhas, algumas delas, devidamente
assumidas, porque sobejamente intrínsecas à minha pessoa. Afirmo que é uma
mania, apenas, porque acho que mais ninguém o faz, ou se o faz, não fala nisso,
pelo menos sistematicamente, ou com a intensidade ou necessidade com que o
faço. Por isso, é uma mania, sim, pelo menos, no meu caso.
Também
não sei porque o faço, mas faço-o constantemente. Olho para uma pessoa, umas
que conheço, outras que não, tanto faz crianças como adultos e até mesmo
idosos, e ponho-me a observar cuidadosamente, nos mínimos detalhes, com quem
ela ou ele se parecerá, tentando perceber, por exemplo, se os olhos são uma
herança materna ou paterna, a boca, o nariz, o seu perfil, etc… etc… etc… E não se trata de querer "adivinhar". É ler nos seus traços, na sua fisionomia, nas suas características, no aspecto. Isso sim.
Porque
o faço, não sei. É uma mania. É quase um vício. O facto é que gosto de perceber
essa coisa que é o que trazemos de trás, das gerações passadas, a genética
daqueles que nos trouxeram a este mundo. Afinal, somos todos um, sendo que,
nessa fusão de ADN, não há ninguém igual a ninguém. Ninguém se repete, porque
não somos clones. Pelo menos por enquanto. Assim, cada um guarda, religiosamente, o seu completo historial, que está marcado na totalidade do seu ser e se repercute, de
maneira mais ou menos acentuada, em todo o seu físico, ou seja, em toda a matéria da qual somos um composto.
A
beleza, ou a falta dela, é, de certa forma, uma convenção, e todo o registo dos
nossos traços, falam, dizem de onde vêm, e têm as suas próprias características,
as suas “qualidades”, quaisquer que elas sejam, bem como o seu significado. Mas
não só. O porte, o modo de ser, mais feminino ou masculino, esse equilíbrio ou
desequilíbrio, que leva muitas vezes a que uma coisa pareça outra completamente
diferente.
É daí
que vem o meu especial interesse por essa matéria, embora o faça um pouco
intuitivamente. Já tenho lido alguma coisa sobre isso, precisamente
porque é um assunto que tem o meu especial interesse, caso contrário,
certamente não me daria ao trabalho de procurar informação a esse respeito. E
por tudo isto, aconteceu um episódio, há relativamente pouco tempo, que achei
interessante e chamou a minha atenção.
Moro
num prédio com nove andares. Dado que cada patamar tem seis apartamentos, é
bastante gente, sempre a entrar e a sair. Por isso, cruzo-me frequentemente,
com os vizinhos. Uns de longa data, outros mais recentes, porque há sempre uns
que vão, para dar a vez a outros.
Há um
casal que já conheço há algum tempo, embora sem grandes intimidades. Bom dia,
boa tarde, como vão, e pouco mais. Têm um filho, o Pedro, de trinta e dois anos,
que vejo com mais frequência, porque sai várias vezes ao dia para passear o
cão. E sempre que o vejo, associo-o imediatamente aos pais. Só que, desde
sempre, nunca consegui encontrar nele, traços que reflictam parecenças com o
pai ou com a mãe.
Parvoíces
minhas. Manias. Talvez outras pessoas consigam encontrar as parecenças que eu
não consigo. Os próprios pais, certamente. O facto, é que, não há vez nenhuma
que, ao vê-lo, não faça, repetida e insistentemente, esta relação parental,
buscando qualquer coisa que os assemelhe ou que os junte. Tenho alguma
necessidade disso? Claro que não. Mas não faço isso só com ele. Como já referi,
de um modo geral, faço-o com toda a gente. Daí, que considere isso uma
verdadeira mania.
Mas
devo dizer que, da minha análise, resulta sempre um conjunto de parecenças, que
fazem sentido e que têm a sua razão de ser. Algumas são mais do que evidentes e
qualquer pessoa pode constatar. Outras, nem por isso, passando despercebido
para muitos, mas não para mim.
No
caso do Pedro, sendo totalmente franca e honesta comigo, sem estar a
inventar, nunca consegui encontrar o mínimo sinal de parecença, o menor detalhe de afinidade, deduzindo que as
minhas faculdades intuitivas não estavam a funcionar com ele. Paciência. Isto
não é relevante, nem tem interesse nenhum para ninguém. Se me desse ao trabalho
de falar com os pais a este respeito, o que não faria muito sentido, talvez eles
me revelassem semelhanças que eu nunca consegui encontrar.
Um dia, cruzando-me com o casal, ela ficou pendurada a conversar comigo,
dizendo que às vezes tem necessidade de falar e o marido não é muito
conversador. E, então, começou a desabafar um pouco da sua vida, das suas
coisas. Coisas de nada, sem importância, mas tendo percebido que ela precisava
mesmo disso, deixei-a falar e fui ouvindo, simplesmente. De repente a conversa
rumou aos filhos e fiquei sabendo que eles só têm aquele filho, coisa que eu já
tinha desconfiado.
O
curioso, é que, sempre que penso que a minha intuição não está a responder ou
não está certa, alguma coisa tem por trás, alguma coisa se esconde,
impedindo-me de compreender seja o que for, pelo que acabo por concluir que o
problema é meu. É falha minha, porque não encontro outra explicação. Foi o
caso.
A conversa fluía e com a maior naturalidade, sem mais nem menos, começou a falar dos irmãos do
Pedro. De repente fiquei perdida, sem perceber nada do assunto, pensando que
tinha perdido alguma parte, que por qualquer razão me teria escapado e por
isso, ingenuamente, perguntei, “mas não disse que só tem um filho?” E com toda
a tranquilidade, ela respondeu: “sim, o Pedro, mas nós não conseguíamos ter
filhos, de modo que o Pedro é adoptado”.
Ah?!... Estava explicado o mistério. Agora sim, eu entendia e fazia todo o sentido. Estava tudo certo. A única coisa errada nisto tudo, foi, simplesmente, e uma vez mais, ter duvidado da minha intuição. Mas como também não sou dona da verdade! Nem eu nem ninguém.
Contudo, quer se aceite ou não, quer se queira ou
não, existe uma coisa que se chama intuição, o equivalente a percepção
espiritual e que, apesar de não ser muito valorizada, fala sempre mais alto do
que tudo, para nos revelar apenas e somente a Verdade.