Eu
estava de passagem em casa da minha irmã, quando soube que Rita e Nuno iam lá
almoçar. Era a oportunidade de a conhecer, porque nunca nos tínhamos
encontrado. Além disso estava grávida, o que era uma alegria para ambas as
famílias. E assim o jovem casal apareceu.
Feitas
as devidas as apresentações achei que era uma garota simples e educada,
simpática e assessível. E a única coisa que eu sabia dela é que por ter sido
secretária do sogro, teve assim a oportunidade de conhecer o Nuno. A vida faz o
trabalho que tem que fazer. O universo abre-nos o caminho, dá-nos até escolhas,
mas a responsabilidade é nossa. Os acordos e as missões são para serem
cumpridas.
Muitas
vezes penso no meu casamento e no facto de ao fim de doze aos me ter
divorciado, porquê(?), porque é que não deu certo, porque é que não
continuámos, ect…, etc…, etc… e chego sempre à mesma conclusão. O que tinha que
ser feito, foi feito. O resto, à luz dos registos akáshicos, não é relevante. A
missão era: une-te àquele indivíduo e tem um filho com ele. Só com ele. Despois
faz o que entenderes. E foi o que aconteceu. Quando penso no que éramos, tão
diferentes um do outro nalgumas coisas, noutras nem tanto, mas diferentes. Era
um verdadeiro choque, um enorme desafio. No entanto, esse choque foi superado
para que uma criança nascesse e também tivesse a sua missão. Cada um tem o seu
selo especial porque é único. E às vezes não conseguimos perceber de imediato
qual é o nosso papel nisto ou naquilo, mas se deixarmos o tempo passar, mais
tarde é só olhar para trás para ver o desenho que ficou impresso na estrada da
nossa vida e está lá tudo. Foi assim porque tinha que ser assim.
Voltando
atrás, o almoço começou a decorrer num ambiente descontraído e agradável, onde
se dizem piadas e se ri muito. E já quase no fim do almoço, Nuno chega-se bem
juntinho à namorada e segreda-lhe qualquer coisa que termina assim “… mãe dos
meus filhos” a que ela correspondeu com um sorriso de conivência, de
concordância e que ao mesmo tempo confirmava a sua felicidade.
Achei
curioso ele tê-la definido como “a mãe dos filhos dele” em vez de tratá-la por
“meu amor”, “minha querida” ou de outra forma qualquer carinhosa dentro deste
género. Mas não foi assim. E ela não se importou nada, bem pelo contrário,
ficou até vaidosa, digamos, por ele a ter tratado daquele jeito. Pois, é que
Rita tinha uma missão. Ela não sabia, nem ela nem ninguém e muito menos eu, mas
isso não interessa. Rita estava apenas cumprindo a missão a que estava
destinada.
E
esta cena que para todos passou completamente despercebida, para mim não
passou. Foi um alerta, daqueles alertas inexplicáveis, mas aos quais já me
habituei e que mais tarde se esclarecem, porque tudo tem a sua razão de ser.
E
um pouco mais tarde, conversa para lá, conversa para cá, fiquei a saber que já
sabiam o sexo da criança, uma menina e até o nome já tinham. Perguntei e
responderam “Adriana”. Adriana(!)… um nome não muito vulgar, mas que achei
bonito e que soava bem. Pareceu-me uma escolha interessante e apeteceu-me saber
porque tinham escolhido aquele nome, mas achei que não faria muito sentido e
decidi não falar. Em todo o caso, o meu sensor ou a minha intuição novamente
deu sinal sem que, no entanto, tivesse a mais pequena ideia do porquê e portanto
descartava e passava à frente, ou seja, ignorava por completo.
Acabado
o almoço, e eles tiveram que se retirar logo de seguida, ficamos nós, os
“adultos” ou os “velhos” por ali, no relaxe, a curtir a existência, sem nenhuma
preocupação em especial, enquanto as conversas rolavam também descontraidamente
até que, de repente, minha irmã salientou o facto do companheiro estar
preocupado ou apreensivo pelo facto de ter uma neta e não um neto.
Ingenuamente, como é meu hábito, porque estou sempre alheia a tudo - sendo que
é nesse alheamento que encontro os pontos que mais ninguém encontra -, ingenuamente,
perguntei porquê. Ah, porque como ele teve dois rapazes, acha que não vai saber
lidar com uma menina. Sorri e pensei, ele há-de habituar-se. Será uma excelente
aprendizagem.
O
tempo passou, Adriana nasceu, correu tudo às mil maravilhas e como é natural, Adriana
virou o centro do universo familiar.
Há
pouco tempo, estando num outro grupo familiar, alguém falou que no Domingo ia
almoçar com o Fernando e a Guida, minha irmã, que vivem juntos há uns bons anos.
Fernando ficou viúvo duas vezes, da mãe dos filhos e da segunda mulher. Da
terceira separou-se e veio uma quarta que é precisamente a actual, minha irmã.
E o casamento funciona muito bem. Os rapazes ficaram sem a mãe muito pequenos e
depois foram criados com a madrasta e foi outro choque quando ficaram sem ela.
Isto tudo já eu sabia, mas o que eu não sabia é que a primeira mulher, a mãe dos
filhos, se chamava Adriana. E a conversa continuou: é por isso que a bebé se
chama Adriana. Adriana? Isso eu não sabia.
A
missão da Rita estava cumprida com todo o rigor. Adriana voltava para continuar
o amor que uma vida curta lhe tinha roubado cedo demais, o amor incondicional
pelos filhos. A lei da reencarnação manifestava-se assim, agora, através de
Rita, a “mãe dos filhos” de Nuno, conforme ele mesmo a tinha denominado.
Era
essa a razão pela qual o meu sensor tinha dado o alerta. O puzzle acabava de
fechar.