Há dez minutos que eu estava sentada,
com a atenção focada no quadro em frente, à espera de ser chamada para a
consulta de oftalmologia, num dos Hospitais da Cuf. Tinha tido consulta há
cerca de seis meses no hospital público, por isso, em princípio estaria tudo
bem. Mas o problema da alergia, para o qual já tinha consultado a dermatologista,
não me dava tréguas. Por vezes, as minhas pálpebras começavam a inchar de uma
maneira estranha, ficando vermelhas, o que me dava imensa comichão, difícil
de resistir. E quanto mais coçava, mais comichão me dava e os olhos ficavam uma
lástima por dentro e por fora. Já tinha ido à farmácia e também me tinham dado
gotas para a alergia ocular e pomadas e cremes para as pálpebras, mas nada
surtia grande efeito e eu estava muito baralhada no meio de tanta coisa, que já
não sabia o que fazer. Decidi então, na tentativa de ser uma última vez, ir a
um oftalmologista privado, levar toda a tralha que tinha da farmácia e dos
outros médicos, para me orientar e dizer o que deveria fazer correta e
definitivamente e pôr fim àquele suplício que, não sendo nada de muito grave,
nem por isso deixava de me incomodar o suficiente.
Ao fim de dez minutos de espera, uma
assistente vem à sala de espera chamando o meu nome e pedindo-me para a
acompanhar. Encaminhou-me pelo corredor e parou, com papéis na mão, dizendo
para aguardar a auxiliar de enfermagem que me levaria à sala de exames, onde
seria devidamente observada para depois ser vista pelo médico.
E aí, pensei para comigo mesma, que não
pretendia exames. Não precisava. Só queria uma opinião em relação ao que
deveria fazer exatamente como certo e mais nada. Mas acabei por ser
interrompida nos meus pensamentos, pela auxiliar de bata branca que,
dirigindo-se à minha pessoa, me cumprimentou e me pediu para a acompanhar. Bem,
lá fui com ela, cogitando na possibilidade de a interpelar para me poder
explicar em relação ao pretendido, porque achava que realmente não necessitava
de exames.
O facto é que ela abriu a porta do
gabinete e pediu para me sentar em frente ao equipamento, sem que eu recusasse e
falasse o que tinha em mente. Porque é que me hei de sujeitar a estes exames?
Em princípio estará tudo bem!? Portanto, para além da consulta, ia ter de pagar
mais os exames, que não são propriamente baratos. Mas o facto é que da minha
boca nada saía. E eu até me sentia indignada comigo mesma, pelo facto de não me
explicar e dizer, atenção, eu não vim aqui para fazer exames, vim por outro
motivo.
Mas, entretanto, enquanto a minha
cabeça trabalhava cheia de dúvidas e de incertezas, a auxiliar, uma garota
muito jovem, muito calma e simpática, diz que não está a perceber o que se está
a passar com o equipamento, que tem estado em perfeitas condições e de repente
não quer funcionar. Não quer funcionar?! Ouvi bem o que ela disse e a minha
intuição imediatamente deu sinal de alerta, conectando-se.
Silenciosa, ela tentava por todas as
vias que estavam ao seu alcance, perceber o que se passava com o computador,
enquanto eu continuava com os meus pensamentos em negação, achando que era uma
perda de tempo e de dinheiro, fazer aqueles exames e o melhor seria aproveitar
a oportunidade de o computador estar a meu favor e dizer que não tinha
importância, porque eu não precisava de fazer os exames.
Ela pedia desculpa, dizendo que realmente não conseguia perceber o que se estava a passar e eu sempre pensando que estava na altura de falar. Só que não me saía o que eu queria dizer, o que não é muito normal em mim. E ela desfazendo-se em desculpas pelo tempo que achava que me estava a roubar. O que ela não sabia é que esse era o menor dos males, uma vez que eu tinha o tempo todo por minha conta. E mais, o que ela nem imaginava é que o computador estava sob um controle que ela desconhecia. E eu sabia também que não falava porque me estava a dar conta dessa situação insólita e precisava de ter a certeza absoluta disso. Porque, tal facto, podia ter-me escapado e passado completamente despercebido. Mas se a minha intuição tinha dado sinal, eu estava simplesmente a seguir a sua indicação e de acordo com essa informação vinda do campo holístico, o problema do computador não funcionar era pura e simplesmente consequência da minha dúvida. Assim, decidiu chamar um colega para, em conjunto, tentarem resolver o problema.
As novas tecnologias são a grande
maravilha, a maior descoberta do mundo em que vivemos e porque não dizer
universal, independentemente do seu tamanho, dimensão e infinidade. As
tecnologias abrem-nos as portas para outros patamares nunca antes imaginados. E
por último, mas não muito, a inteligência artificial é a maior conquista do ser
humano até hoje. Mas não será a última, acredito que não. Com ela é possível
fazer o impensável e chegar sabe-se lá onde. Quem, em sã consciência, acredita
que hoje em dia poderia viver sem Internet, sem telemóvel, sem computador, etc...!?
A evolução tecnológica disparou e
continua a disparar a uma velocidade sem precedentes. É importante estar a par
e tentar acompanhar, o que pode não ser tarefa fácil. Cada um deve fazer o
melhor que puder e contribuir para este crescimento e, mais importante do que
tudo, utilizar as novas ferramentas para coisas válidas, para coisas que valham
a pena e ajudem a humanidade a progredir positivamente e não de maneira fútil e
desinteressante e muito menos para a destruição e para o mal. Temos toda essa
pesada responsabilidade. Validar as tecnologias e seguir sempre nessa direção,
sem dúvida. Contudo, por mais longe que consigamos chegar, aonde quer que elas
nos levem, e não obstante a falta e a necessidade que nos fazem, para não falar
da dependência… apesar de tudo e não desvalorizando absolutamente nada, a mente
humana ganha pontos. Sem dúvida, e é isso que me dá força e ânimo e vontade de
caminhar sem medo e sem angústia.
Há já alguns anos atrás, quando na RTP
comecei a trabalhar com o computador e posso dizer com toda a verdade, que fui
das primeiras mulheres a utilizar o computador para a quase totalidade do meu
trabalho, estando um dia num programa de excel, aconteceu uma coisa interessante.
Eu já trabalhava em excel há muito tempo, mas uma vez em que tive que parar
para atender o telefone, o écran interrompeu o excel, como era natural, e começou
a passar um fundo que tinha sido escolhido por mim e que era umas flores de
lótus, muito bonitas e muito relaxantes.
Já tinham passado pelos meus olhos
centenas de vezes, mas naquele dia, antes de reiniciar o trabalho de excel,
fiquei a admirar e pensei que era muito bonito o que via. Apenas, se fosse eu
que tivesse feito, teria alterado as cores das flores e ter-lhes ia dado outras
tonalidades, que surgiram de imediato na minha imaginação, lamentando o facto
de não conseguir ser exactamente como eu gostaria, o que não era nada de
importante.
E de repente, sem mais nem menos, as
flores começam a cair com as cores alteradas, precisamente como eu as tinha
imaginado. Sem pôr nem tirar. Fiquei perplexa, sem perceber o que se estava a
passar. Como é que podia acontecer uma coisa daquelas? Eu já tinha o programa
há séculos e aquilo nunca tinha acontecido. Naquele dia pensei nas flores com
outras cores e ele, como que obedecendo à minha vontade, desata a deitar as
flores precisamente como eu as imaginei!?... Exatamente naquele momento!
Depois, falando com um técnico a quem relatei
o assunto sem entrar em pormenores, foi-me explicado que provavelmente o
programa estava muito pesado, o que de facto aconteceu, e que levou à
desconfiguração da imagem. Claro, estava explicado. Tinha que haver uma
explicação. Mas porque é que só aconteceu exactamente no momento em que a minha
cabeça como que “pediu”? A mente humana ganha pontos ou não?!
Voltando atrás, a minha dúvida
continuava em relação a fazer ou não os exames e o computador continuava a não
dar sinais de querer avançar. Agora, os dois assistentes em silêncio, olhavam
para o écran, na tentativa de encontrar a solução, enquanto eu ainda não me
tinha decidido se queria ou não fazer os exames. Neste impasse todo, cheguei finalmente
à conclusão de que mais uns exames não iriam fazer mal, antes pelo contrário, e
o dinheiro, também não era por aí. Como se diz: vão-se os anéis, ficam-se os
dedos.
Pois bem, naquele preciso momento
decidi que sim, faria os exames. Sim, já não tinha dúvidas. E também não tinha
dúvidas de que naquele preciso momento, o computador deixaria de continuar a
dar trabalho aos dois assistentes, para recomeçar imediatamente a trabalhar,
obedecendo à minha vontade, e repito, de querer fazer os exames, o que de facto
aconteceu, para grande alívio dos dois, que estavam completamente baralhados. Coincidência? Não. Muito pelo contrário. A falta de coragem do ser humano faz com que se torne incapaz de validar os factos tal como são, preferindo enquadrá-los e qualificá-los apenas como insignificantes coincidências, sem qualquer relevância.
O homem ainda continua de olhos
fechados, sem os conseguir abrir. Mas só não os abre porque não quer. Porque
não acredita em si. Acredita em tudo e mais alguma coisa. Acredita em tudo o
que vê e ouve, só não acredita no que não vê e não ouve. Pôr a inteligência a
trabalhar para se desligar da intuição não resulta. As duas coisas têm que
caminhar juntas. Continua a existir uma Verdade Maior por descobrir. E essa não
se pode ensinar nem transmitir, porque é parte inerente e exclusiva do ser
humano e cada um tem o que tem.
As novas tecnologias são a marca do tempo. A inteligência artificial comandará o mundo novo. Mas à frente de tudo e maior do que tudo, para os que querem e para os que não querem, para os que acreditam ou não… para nossa maior felicidade e para o nosso maior bem… a mente humana sempre se sobreporá e sempre ganhará pontos.