Andar nos
supermercados nem sempre é fácil. Uns vão para fazer compras, outros parece que
vão passear. Uns levam uma listinha, mas outros nem por isso. E depois levam o
que nem precisavam e o que realmente era preciso não chega a casa. No meio
disto tudo acho interessante olhar para os carros e respetivos “donos”. Tem
tudo a ver. Normalmente, os mais gordinhos são os que levam os carros recheados
de tudo o que não deviam. Quantas vezes me dá vontade de chegar perto e
perguntar se não tem vergonha de levar as porcarias que leva, não tendo em
conta a saúde. Mas cada um tem o direito às suas escolhas, porque não?! E
quanto maior é o supermercado maior é a canseira.
Por regra, vou
sempre ao mesmo supermercado, mas às vezes vou a outro, porque não encontrei o
que queria ou porque quero uma coisa diferente. Por exemplo, gosto muito do pão
de alfarroba, além de que alfarroba é bom para o fígado. E, apesar de raramente
comer pão, quando me apetece, é o pão de alfarroba que tenho de comprar. Não há
no meu supermercado habitual. Só há num a que raramente vou. Portanto, quando
quero, vou lá propositadamente, o que é um pouco estranho, ir a um espaço tão
grande só por causa disso. Mas vou.
Um dia, estando
numa fase dessas, lá fui ao Continente, para apenas comprar o pão de alfarroba.
Claro que sempre invento mais qualquer coisa, só por vergonha. Todos os outros
vêm com os carros cheios e eu com um pão na mão!? Aproveito para trazer uma
salada diferente, uma aveia também diferente da habitual, com a desculpa de que
é bom variar, etc… e depois de escolhidas as compras, dirigi-me para a fila da
caixa, a fim de pagar e sair dali para fora.
As caixas são
numeradas e é preciso ficar na fila para chegar a vez de cada um. Chegada a
vez, temos de nos dirigir para a caixa correspondente à chamada. Portanto, lá
fui eu para a fila, com umas quantas pessoas à minha frente, aguardando vez.
Enquanto estou na fila, que aos poucos vai avançando, vou dando uma olhadela
para as pessoas e respetivas compras e fazendo as minhas silenciosas observações
e considerações, achando que aquilo sim, aquilo não, como se alguém estivesse a
dar importância ao meu pensamento.
E foi aí que
aconteceu uma coisa interessante. Ou talvez não. Dependendo de cada um. Aquilo
a que alguns chamam simplesmente de coincidência, para mim, não deixando de ser
uma coincidência, tem muito mais do que isso. Não é uma coisa vã, passageira,
do momento. É muito, mesmo muito relevante. As coincidências. Sempre as
coincidências, que nos deixam a pensar se se trata de uma coisa sem importância
ou se, pelo contrário, tem realmente importância, porque é muito mais do que
uma coincidência. E o que seria mais do
que isso? Capacidades das quais não temos conhecimento e que nem sonhamos ter?!
Um cérebro que
foi feito para ser muito maior do que o uso que até hoje lhe damos. Claro que
se a coincidência não for devidamente evidenciada e levada em conta, não serviu
de nada e cai por terra, desfazendo-se na poeira global. E aí passou, talvez,
uma grande oportunidade de nos defrontarmos com o que não sabemos, com o que
desconhecemos. E se não mudarmos a nossa
atitude em relação a isso, isso e outras coisas ainda mais importantes, nunca
serão direcionadas para o mundo a que pertencem.
Ah, mas não
sabemos nada disso, nunca ninguém nos falou disso… etc. Cabe a cada um de nós
lá chegar, sem o empurrão de ninguém. Trata-se da evolução individual da
espiritualidade, um mundo que nos liga a outra dimensão mais elevada do que
esta que temos atualmente. Que existe e está há séculos ou milénios, para não
dizer, desde sempre, à nossa espera e para o qual, sempre teimamos em fechar os
olhos. É um deslumbramento a que parece que fazemos questão de não querer
assistir. Porque temos medo, insegurança e nos tira da nossa zona de conforto.
Teimamos em continuar parados, fazendo todos o mesmo caminho. Mas esse caminho
é já muito velho e, embora muito gasto, ninguém se quer desviar dele.
E assim, dia
após dia, hora após hora, continuamos a mentir, cada um a si mesmo, para não
sermos perturbados pela nossa consciência que, contudo, não deixa de,
continuamente, apelar ao seu deus, quem quer que ele seja, onde quer que ele
esteja ou exista, para ser feliz, e isto e aquilo. E das coisas mais
importantes do ser humano a “independência”, onde fica ela no meio disto tudo?
A independência que revela ou desmascara a real natureza o “homem”, porque
perdeu a sua liberdade e não a consegue recuperar. Em cada coincidência há o
censor da grandiosidade do ser humano que pode muito bem começar nas
pequeníssimas coisas.
Eu estava na
fila e já só tinha duas pessoas à minha frente. Pensei, só mais dois números e
depois eu, que número será? Dezoito, veio à minha cabeça. Disparate, pensei,
sei lá que número é, e depois o que é que isso interessa? Pus-me a olhar para
um lado e para o outro, para dispersar as minhas habituais parvoíces. Ouvi
chamar vinte e tal. E a pessoa da frente seguiu em direção à respetiva caixa. Passado
um bocadinho, novamente vinte e qualquer coisa. Posicionei-me no lugar certo
para a próxima chamada que seria eu. Neste entretanto, ainda pensei, mas o
dezoito existe, não existe?! Se estão a chamar vinte e tal! E de novo, em
pensamento, ralhei comigo mesma, por continuar a dar crédito a uma coisa que
não tinha ponta por onde se pegar, pois qualquer número serviria para apenas
poder chegar à caixa e pagar.
E finalmente, a
chamada veio, dando resposta ao meu dilema e mostrando-me, uma vez mais, que
este tipo de coisas acontece por uma razão muito simples. É quando a mente
entra pelo tempo dentro, a caminho do futuro, longe ou perto, não interessa.
Ali foram apenas uns minutos. Mas muito ou pouco, ela entra na linha do tempo,
avançando o necessário até onde está a resposta, para imediatamente voltar à
posição do aqui e agora. E assim, para minha grande surpresa, mas nem tanto,
porque eu sabia que não era uma simples coincidência, o número de chamada
aparecia no écran, ao mesmo tempo que uma voz dizia: dezoito.