O céu estava com
um fundo de azul suave e coberto de pinceladas de nuvens brancas, tortas,
irregulares, que alternavam entre si, com a suavidade do fundo celestial.
Eu tinha-me
recostado um pouco cansada, acabando por me deitar com a cabeça apoiada no
braço do sofá em que estava, e depois esticar-me, saboreando o início de tarde
calma e tranquilamente relaxada, por oposição aos imensos problemas que
pairavam sobre a minha cabeça, sobrecarregando o meu espírito e a minha mente.
Várias questões
estavam no ar, mas uma em especial, parecia que nunca iria terminar, o que me
estava a tirar todas as forças, a roubar toda a minha energia, bem como a
coragem e a vontade de viver. Viver a vida, o sonho, tudo o que houvesse no meu
presente e tudo o que estivesse para vir. Mas, de facto, não conseguia ter
sossego, sempre dominada por pensamentos negativos, fazendo-me sentir mal e às
vezes muito mal, dando oportunidade a crises de pânico.
Tudo o que está
no nosso caminho, seja bom ou mau, é para vivermos, querendo ou não. E neste
caso, não querendo entrar propriamente em pormenores, não havia escolha
possível. A única escolha era a aceitação, o que estava a ser muito difícil
para mim. Às vezes sentia-me revoltada, mesmo sabendo que não devia, não podia,
mas… fazer o quê?
A questão em si,
complicada e delicada, tinha surgido aparentemente do nada e por isso mesmo
deixava-me impotente, sem a menor possibilidade de alterar a situação, pois
não dependia de mim. Há anos que se arrastava e eu ia levando e encarando como
podia. Umas vezes com mais paciência, outras vezes sem a menor paciência. E é
assim que a vida nos testa. Por vezes levando-nos ao limite.
Olhando o céu,
intervalado de azul e branco, estive uns cinco minutos presa nesta paisagem,
que poderia parecer monótona, mas era muito mais do que isso. Relaxante e
tranquila, em que nada se alterava, nada se movia. Ou, se se movia, era tão,
mas tão lentamente, que o meu olhar não conseguia perceber a mais pequena alteração.
Inconscientemente,
estabeleci uma analogia entre aquela paisagem absolutamente estagnada e o
problema que tanto me afligia. Não era normal olhar o céu com nuvens, sem que
elas se deslocassem, por muito lento que fosse o seu caminhar. Mas aquelas,
estavam completamente paradas, sem o menor movimento. E foi aí que pensei: tal
qual o problema que tanto me aflige. Nada se move, nada muda. Era como se o
universo estivesse em comunicação comigo, mostrando-me aquele panorama, para
que, uma vez mais, eu percebesse que a única solução era aceitar e nada mais.
Ao cabo de mais
ou menos uns cinco minutos e cansada de tudo o que passava na minha cabeça,
quase sem querer, fechei os olhos, a fim de desanuviar e pensar em outra coisa
qualquer. Para onde fui, nem sei. Que pensamentos passaram pela minha
mente nesse entretanto, francamente não tenho ideia. Talvez porque era
precisamente essa a intenção ou porque nem sequer deu tempo para isso.
Desligar-me. Mas passados que foram uns segundos apenas, tentando acomodar-me
um pouco melhor na posição do sofá em que estava, e sem ter noção disso, abri
os olhos quase sem querer, para logo os fechar outra vez. Só que não!…
Surpresa das
surpresas. A paisagem que estava fixa, sem o menor movimento, durante os cinco
minutos em que estive a observá-la, por achar que não era muito natural que as
nuvens não se movessem, por muito pouco que fosse, surpreendentemente, estava
completamente mudada. Não havia a mais pequena comparação. Agora, o céu estava
todo coberto pela suavidade da brancura das nuvens, que pareciam algodão
desfiado, mas que cobria tudo, não havendo um bocadinho de azul à mostra.
E pensei, raios,
como pode? Durante cinco minutos nada aconteceu. Tudo estava parado.
Estranhamente parado. Fecho os olhos por uns breves segundos e quando os abro,
parecia que estava noutro lugar. Parecia que as nuvens estavam à espera que eu
fechasse os olhos para alterarem a sua posição. Mas era uma mudança radical.
Não havia rasto da anterior. Em cinco minutos nada se moveu, parecendo que ia
ficar assim para todo o sempre. De repente, em escassos segundos, modificou-se
do dia para a noite. Era inconcebível! Mas era o que era.
Foi então que se
fez luz. Na verdade, aquilo era uma mensagem do universo, dizendo-me que tudo
era assim. Quando menos esperamos, a vida dá um passo adiante. Mesmo quando já nada
esperamos. Nada é eterno. Tudo tem o seu tempo e de um instante para o outro, tudo
pode mudar.
Sem dúvida. Era
uma mensagem, uma mensagem perfeita. Tão perfeita, que dois dias depois, o
problema que há tanto me afligia, dava um passo em frente. Um passo que
considerei gigante, diante dos obstáculos que se entrepunham e que pareciam não
ter fim.
Mas aquela
mensagem foi uma coisa extraordinária, por duas razões: pela carga do conteúdo
que ela continha e pela percepção que a minha consciência teve a capacidade de
alcançar. Uma simples mensagem, mas uma muita especial mensagem, que podia ter
passado completamente despercebida, perdendo todo o seu real potencial, zerando
e anulando, simplesmente e completamente a sua função – a beleza da suprema e
eterna interacção entre o universo e o homem.