sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

A mensagem - 108

 

O céu estava com um fundo de azul suave e coberto de pinceladas de nuvens brancas, tortas, irregulares, que alternavam entre si, com a suavidade do fundo celestial.

Eu tinha-me recostado um pouco cansada, acabando por me deitar com a cabeça apoiada no braço do sofá em que estava, e depois esticar-me, saboreando o início de tarde calma e tranquilamente relaxada, por oposição aos imensos problemas que pairavam sobre a minha cabeça, sobrecarregando o meu espírito e a minha mente.

Várias questões estavam no ar, mas uma em especial, parecia que nunca iria terminar, o que me estava a tirar todas as forças, a roubar toda a minha energia, bem como a coragem e a vontade de viver. Viver a vida, o sonho, tudo o que houvesse no meu presente e tudo o que estivesse para vir. Mas, de facto, não conseguia ter sossego, sempre dominada por pensamentos negativos, fazendo-me sentir mal e às vezes muito mal, dando oportunidade a crises de pânico.

Tudo o que está no nosso caminho, seja bom ou mau, é para vivermos, querendo ou não. E neste caso, não querendo entrar propriamente em pormenores, não havia escolha possível. A única escolha era a aceitação, o que estava a ser muito difícil para mim. Às vezes sentia-me revoltada, mesmo sabendo que não devia, não podia, mas… fazer o quê?

A questão em si, complicada e delicada, tinha surgido aparentemente do nada e por isso mesmo deixava-me impotente, sem a menor possibilidade de alterar a situação, pois não dependia de mim. Há anos que se arrastava e eu ia levando e encarando como podia. Umas vezes com mais paciência, outras vezes sem a menor paciência. E é assim que a vida nos testa. Por vezes levando-nos ao limite.

Olhando o céu, intervalado de azul e branco, estive uns cinco minutos presa nesta paisagem, que poderia parecer monótona, mas era muito mais do que isso. Relaxante e tranquila, em que nada se alterava, nada se movia. Ou, se se movia, era tão, mas tão lentamente, que o meu olhar não conseguia perceber a mais pequena alteração.

Inconscientemente, estabeleci uma analogia entre aquela paisagem absolutamente estagnada e o problema que tanto me afligia. Não era normal olhar o céu com nuvens, sem que elas se deslocassem, por muito lento que fosse o seu caminhar. Mas aquelas, estavam completamente paradas, sem o menor movimento. E foi aí que pensei: tal qual o problema que tanto me aflige. Nada se move, nada muda. Era como se o universo estivesse em comunicação comigo, mostrando-me aquele panorama, para que, uma vez mais, eu percebesse que a única solução era aceitar e nada mais.

Ao cabo de mais ou menos uns cinco minutos e cansada de tudo o que passava na minha cabeça, quase sem querer, fechei os olhos, a fim de desanuviar e pensar em outra coisa qualquer. Para onde fui, nem sei. Que pensamentos passaram pela minha mente nesse entretanto, francamente não tenho ideia. Talvez porque era precisamente essa a intenção ou porque nem sequer deu tempo para isso. Desligar-me. Mas passados que foram uns segundos apenas, tentando acomodar-me um pouco melhor na posição do sofá em que estava, e sem ter noção disso, abri os olhos quase sem querer, para logo os fechar outra vez. Só que não!…

Surpresa das surpresas. A paisagem que estava fixa, sem o menor movimento, durante os cinco minutos em que estive a observá-la, por achar que não era muito natural que as nuvens não se movessem, por muito pouco que fosse, surpreendentemente, estava completamente mudada. Não havia a mais pequena comparação. Agora, o céu estava todo coberto pela suavidade da brancura das nuvens, que pareciam algodão desfiado, mas que cobria tudo, não havendo um bocadinho de azul à mostra.

E pensei, raios, como pode? Durante cinco minutos nada aconteceu. Tudo estava parado. Estranhamente parado. Fecho os olhos por uns breves segundos e quando os abro, parecia que estava noutro lugar. Parecia que as nuvens estavam à espera que eu fechasse os olhos para alterarem a sua posição. Mas era uma mudança radical. Não havia rasto da anterior. Em cinco minutos nada se moveu, parecendo que ia ficar assim para todo o sempre. De repente, em escassos segundos, modificou-se do dia para a noite. Era inconcebível! Mas era o que era.

Foi então que se fez luz. Na verdade, aquilo era uma mensagem do universo, dizendo-me que tudo era assim. Quando menos esperamos, a vida dá um passo adiante. Mesmo quando já nada esperamos. Nada é eterno. Tudo tem o seu tempo e de um instante para o outro, tudo pode mudar.

Sem dúvida. Era uma mensagem, uma mensagem perfeita. Tão perfeita, que dois dias depois, o problema que há tanto me afligia, dava um passo em frente. Um passo que considerei gigante, diante dos obstáculos que se entrepunham e que pareciam não ter fim.

Mas aquela mensagem foi uma coisa extraordinária, por duas razões: pela carga do conteúdo que ela continha e pela percepção que a minha consciência teve a capacidade de alcançar. Uma simples mensagem, mas uma muita especial mensagem, que podia ter passado completamente despercebida, perdendo todo o seu real potencial, zerando e anulando, simplesmente e completamente a sua função – a beleza da suprema e eterna interacção entre o universo e o homem.