sábado, 19 de maio de 2012

O Paulo e a Laura - 30


O Paulo Martinho, meu colega de trabalho, foi o meu primeiro e melhor amigo quando me transferi de armas e bagagens para a Delegação da RTP nos Açores. Ele queria o melhor para mim como eu para ele. Ele protegia-me, defendia-me, dava-me conselhos, estava sempre atento a qualquer necessidade que eu pudesse ter e enfim... foi realmente excepcional. Era como se fôssemos irmãos.  

Era muito divertido, muito bem disposto e tinha muitas namoradas que trocava com frequência. Sempre que começava um namoro novo ficava doido por me apresentar pessoalmente a nova "vítima" para eu dar a minha opinião. Durante dois anos, foram várias. Cada uma que eu via, olhava para ela e percebia que não era a tal. E outra e outra. Todas foram passando, com ele fazendo grandes planos de casamento e filhos, mas assim que eu as via, dizia-lhe o que sentia, que não tinha chegado ainda a hora, porque não via em nenhuma delas a que realmente seguiria caminho com ele pela vida fora.  

Às vezes ele até ficava um bocadinho chateado por eu não lhe dar um pouco de esperança, porque ele queria e estava ansioso, mas eu tinha de ser verdadeira. E bastava-me um olhar rápido para que e minha intuição se abrisse e falasse. E ia-lhe dizendo não, não e não. O facto é que, ao fim de algum tempo, com umas mais, com outras menos, ele chegava ao pé de mim e comunicava-me que tinha terminado, dizendo-me "tinhas razão, ainda não foi desta". 

Até que um dia ele me falou de uma namorada nova, que mais uma vez queria que eu conhecesse. E andava feliz da vida, mas a dita cuja não aparecia. Bem que ele falava todo excitado, mas ela não aparecia. Não levei muito a sério e até pensei que era alguma das suas muitas fantasias. 

Como o tempo passava e ela não dava à costa, um dia insisti com ele e disse-lhe que a queria ver, como tinha acontecido com todas as outras. Então ele respondeu que ainda não podia ser, mas que me ia mostrar uma foto. E assim foi. Puxou da carteira e sai uma foto da Laura. Um pouco mais nova que ele, a Laura tinha um aspecto jovem, fresco, puro e era linda como uma flor. Fiquei deliciada com a foto, olhei para ele, sorri e disse-lhe: "quero conhecê-la pessoalmente, mas não preciso disso para te dizer que é ela, a tal especial, por quem tanto esperaste". 

Ele olhou para mim com um olhar muito aberto e perguntou se eu tinha a certeza. Respondi que, sem sombra de dúvida, era ela.  

Lembro-me perfeitamente, como se fosse hoje e já lá vão mais de tinta anos, da festa que ele fez, tão feliz, tão alegre, cheio de energia que nos contagiou a todos e me deu dois beijos, abraçando-me e dizendo-me palavras carinhosas, tal era o momento que estava vivendo. E o Paulo dizia "Lili, querida, tu és especial"... e eu ria, das maluqueiras dele. 

Então, um dia, a Laura apareceu em pessoa. Era exactamente como na foto, com aquele ar jovial, fresco, alegre, bem disposta e feliz. E o Paulo e a Laurinha casaram, tiveram um menino e uma menina, e foram felizes para sempre(!?), com todas as dificuldades que tiveram que atravessar, como toda a gente. 

E viva a intuição que é das coisas mais preciosas que temos para nos conduzir e aos outros também, neste mundo às vezes difícil.

 

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