Muita
gente sofre de crises de pânico. Mas quem não tem esse problema não valoriza o
sofrimento que isso é, o que eu compreendo. E quem nunca teve deve pensar que
não tem importância, que é uma coisa estúpida, que pode ser evitado, que se tem
porque se quer, etc…, etc…, etc…
As
crises de pânico são uma coisa muito séria. Deixam as pessoas completamente
arrasadas e muito mais. Tem gente que não sai à rua com medo. Tem gente que se
inibe de tudo o que se possa imaginar por causa do medo do pânico, que pode ser
generalizado ou por uma razão específica.
Falando
assim, até parece que sou especialista no assunto. E de certa forma sou, mas
não pelas melhores razões, ou seja, não por ser médica, mas porque bem cedo
comecei a padecer desse mal horroroso. E sei o que é ficar “inválida” por causa
do pânico. E sei o que é não querer ou não conseguir sair à rua, falar com as
pessoas, fazer o que se tem que fazer por causa das crises de pânico.
E
não foi à falta de lutar contra isso. Quanto mais crises eu tinha mais dominada
por elas eu ficava. Andei em médicos e mais médicos, medicamentos, mas o pânico
persistia. Foram muitos anos a lutar contra o pânico. Foram sessões com
psicólogos e de tudo eu tentei, mas o pânico dava cabo de mim.
E
tinha muitos colegas, mulheres na sua maioria, mas também homens, que tinham o
mesmo problema. E o que isso interferia na vida profissional, para não falar do
desgaste na vida pessoal!? Era muito complicado. Era terrível. E depois eram as
consequências irreversíveis que se projectavam em todas as áreas das nossas
vidas. Até hoje eu penso, felizes daqueles que não compreendem. É porque nunca
passaram por isso.
Uma
crise de pânico derruba-nos. Deita-nos completamente por terra, às vezes no
sentido literal da palavra. Depois, seguem-se uma série de sentimentos nada
dignificantes como a humilhação, por exemplo, porque se fica sempre com a
consciência de que se deveria ter sido capaz de ultrapassar. Mas como? O
sentimento de inferioridade e de impotência, como “não valho nada, sou um zero
à esquerda, não mereço o respeito nem a admiração de ninguém, só atraio a pena,
pena de mim própria e do desprezo dos outros” e por aí fora. É um nunca mais
acabar de intolerância e desaprovação do próprio e dos outros. E depois voltar
a encarar tudo, voltar à “normalidade”… até à próxima crise, que nunca se sabe
quando vem. De repente, no momento menos oportuno, na situação mais
indesejável, na altura menos própria, para uma vez mais nos derrubar.
Mas
eu não queria. Eu não queria aquilo. Estava farta, cansada. Eu não precisava
daquilo para nada. Era isso que eu pensava e achava que era
impossível livrar-me daquele problema. Mas aí é que eu estava enganada
porque um dia, com efeito, livrei-me do pânico de uma vez por todas. Sem mais
nem menos, porque assim o quis.
E
um dia, estando eu a trabalhar, levantei-me para ir à fotocopiadora que ficava
numa pequena sala dentro do espaço em que trabalhávamos. E como só havia uma,
às vezes estava ocupada e tínhamos que esperar. E foi isso que aconteceu.
Cheguei lá e estava uma colega a utilizar a máquina, pelo que me aproximei com
os papéis que tinha na mão, aguardando que ela terminasse o que estava a fazer.
De repente, sem mais nem menos, começo a sentir o corpo todo a estremecer. Mas
ainda não era exactamente o meu corpo, ainda era fora do meu corpo. Porém, já
estava a começar a afectar a minha cabeça, que deu imediatamente o alarme. Daí,
a instalar-se a crise, eram fracções de segundo. Portanto, ao primeiro sinal de
tomada de consciência, resolvi agir. E pensei, mais uma crise de pânico que
está pronta para tomar conta de mim. Voltei a pensar para comigo mesma o quanto
eu estava fartíssima daquilo e porquê aquilo? Era preciso pôr um fim, se é que
era possível. Era urgente. E tive plena consciência de que era chegado o
momento de fazê-lo. Mas como? Se as outras pessoas não conseguiam como é que eu
iria conseguir?
Mas
eu não era os outros. Eu era eu. Em fracções de segundo percebi que estava
pronta para mudar essa situação. Era chegada a hora. Ou era naquele momento ou
nunca mais seria. Senti a energia negativa subir, preencher todo o meu ser, mas
ao contrário das outras vezes em que me deixava contaminar por ela e assumia
que estava mal, muito mal, prestes a morrer, desta vez fiquei quieta, parada, como
se nada estivesse a acontecer. Ninguém se apercebeu de nada e eu própria fiquei
como que de fora, como simples espectadora do medo avassalador que inundava
todo o meu ser. A única coisa que tinha em mente era “não faz mal, deixa estar,
vai passar, não é nada” e coisas assim do género, enquanto permanecia imóvel e
aparentemente serena e calma.
E
a onda de energia fez o seu trabalho habitual, rondando a minha paciência,
testando as minhas capacidades e os meus limites, enquanto eu resistia
heroicamente. Eu sabia que era tudo ou nada. Eu tinha plena consciência de que
tinha feito uma auto análise e tinha tomado consciência de que seria
mais forte do que o pânico. Mas não foi por magia! A chave para este confronto
foi o facto de acreditar que seria capaz de não me deixar vencer pelo medo e o
medo era morrer. Por isso trabalhei secretamente para não ter mais medo de
morrer e aceitar o que quer que fosse.
Finalmente,
não encontrando o terreno fértil como sempre encontrava, a onde de energia
negativa deu-se por vencida e desistiu, partindo subitamente. Assim, tive
consciência de que estava liberta. Tive consciência de que tinha controlado o
meu emocional. E imediatamente a seguir à saída dessa energia negativa, uma
onde de energia muito positiva dava entrada no meu ser, invadindo-me sem
permissão, de um bem estar inaudito. Era uma sensação maravilhosa e de uma
leveza incrível. Era o melhor presente que eu acabava de receber da vida e bem
que o merecia. Agora tinha consciência de que algo muito importante e muito especial
tinha acontecido e eu tinha conseguido, ou melhor, tinha conquistado.
De
facto, não era pouca coisa. Aquele momento tinha sido decisivo para alterar o
padrão de registo do medo. Eu estava a salvo mas não era só em relação àquele
momento específico, não. Eu tinha acabado de vencer de uma vez por todas as
minhas crises de pânico. Claro que o medo voltaria. Voltaria sempre, muitas
vezes, porque o medo faz parte de nós. Quem não sente "medo"? Mas daí
até se transformar em pânico, isso não. Isso não voltaria mais porque eu já não
estava em situação de lhe dar entrada. Algo muito importante tinha mudado. Algo
fundamental e decisivo.
E
o que antes me parecia impossível foi resolvido num breve instante em que me
permiti apenas fazer um simples salto "quântico”.
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