Éramos quatro e
Inajá estava sentada à minha frente. A conversa como sempre, estava focada na
pessoa dela, mas agora com mais impacto, pelo facto de ser a despedida. Era o
último sábado em Portugal, ou na “Europa”, conforme ela sempre fazia questão de
mencionar, penso que para ampliar o valor do seu discurso, adaptando-o às suas
ambições. Ao fim de seis anos difíceis de aguentar, por causa do dinheiro,
tinha finalmente decidido voltar à base e por ser sábado, estávamos como de
costume a almoçar à hora de sempre, no lugar de sempre. Assim, falava de todos
os pormenores da sua ida para Natal, RN, Nordeste Brasileiro, que eu amo demais!
Por mim, voltaria lá vezes sem conta, pois aquilo é um verdadeiro paraíso.
Praia maravilhosa, calor, águas quentes e água de coco e não preciso de mais
nada.
Conhecendo bem o
meio para onde vai e as pessoas que estão à sua volta, a conversa foi fluindo e
a páginas tantas, Inajá falou duma filha da prima Altair - uma família
nordestina, com quem sempre teve o melhor relacionamento possível - que tem um
menino com cerca de dois anos. Eu não sabia da existência dessa criança, mas
quando ela falou no neto de Altair, a qual faleceu há uns cinco anos, imediatamente
se fez luz, para ficar a saber que essa criança, esse menino, era
a reencarnação de Altair.
O processo de
reencarnação é das coisas mais fascinantes do mundo espiritual. Li muita coisa
sobre o assunto, e lembro-me que ficava sempre a planar, completamente rendida,
com mil e uma perguntas às quais tentava dar resposta através de longas horas
de meditação. Achava maravilhoso poder saber quem eu era de verdade, de onde
vinha e para onde iria, e não só eu, mas cada um de nós, como seres humanos
encarnados.
Contudo, também
tive sempre consciência de que era um assunto deveras complicado de entender,
aceitar e decifrar. É que não é uma coisa para a qual exista uma chave, um
código, um meio de decifrar o enigma, apesar de que há quem ache que, através
dos olhos, é possível decifrar esse mistério. Daquilo que sei e que entendo,
não existe uma regra. As coisas do mundo espiritual não são assim. Têm que ser
alcançadas através da nossa evolução espiritual e não de regras que não existem.
Olhei para Inajá
tentando falar somente com o olhar, pois tive receio da reação dos que estavam
à mesa connosco. Nem toda a gente acredita nestas coisas, nem têm obrigação de
acreditar, mas eu, mais do que acreditar, eu sei, sendo que tenho que respeitar
a opinião dos outros, como eles a minha, e como quem não teve a certeza do que
ouviu, perguntei por essa criança, a que logo Inajá respondeu que sim, o neto
de Altair, comentando com toda a euforia, que era a perfeita reencarnação de
Altair, pois era exatamente a personalidade da falecida avó. Aí estava a
resposta conclusiva, para que não restassem dúvidas e por isso me atrevi a
falar, dizendo que era natural, pois era Altair que estava de volta. Para meu
grande espanto, não houve risadas nem reações que me deixassem desconfortável,
o que muito apreciei.
Inajá assume
sempre muito bem, apesar de que tudo o que é espiritualidade lhe passa ao lado.
E não é que não acredite, mas falta ali qualquer coisa que a bloqueia, sem lhe
dar a mais pequena oportunidade. Normalmente, nestes casos, é porque a pessoa,
apesar de acreditar, acha ou acredita que não é capaz de acessar outra
dimensão, que é demais para ela e por aí… o facto é que ela não consegue. Ao
contrário de mim, que desde que me conheço, o mundo espiritual faz parte da
minha vida. Sem ele eu não era nada. Houve uma altura em que até fugia dessas
coisas, por achar que apenas queria ser uma pessoa “normal”. A questão é que
percebi que não adiantava fugir. Eram as coisas que vinham ter comigo e não eu com
elas. Depois, como negar aquilo que era óbvio demais!? E definitivamente, a bem
da minha saúde emocional, acabei aceitando aquilo que era eu.
Muitas coisas me
foram reveladas e ao longo da vida fui descobrindo que, afinal, isso era um
verdadeiro presente dos céus, porque não são todos que têm essa faculdade. Isso
é um autêntico tesouro. Abre-nos as portas para outras dimensões do conhecimento,
da sabedoria e coisas que não estão nos livros, simplesmente porque a ciência
não tem como provar.
Ao longo da
minha vida as portas têm-se aberto e de que maneira! Coisas com que eu nunca
sonhei, foram-se desbloqueando, deixando-me sem palavras. A reencarnação é uma
delas. Acreditar é uma coisa. Eu acreditava porque achava que fazia todo o
sentido. Acreditava por isto e por aquilo, mas ter acesso de modo a saber quem
é quem, acho que é muita coisa.
Sempre achei
que, apesar de toda a minha familiaridade com a vida espiritual, jamais estaria
à altura de um dia vir a saber alguma coisa a esse respeito. Contudo, e sem ir
à procura, as coisas vieram ao meu encontro. De repente, comecei a ter
“mensagens” do campo holístico, simplesmente informando-me quem aquela criança
era, o que me deixava completamente perplexa, com dúvidas, até. Dúvidas essas
que, rapidamente se esfumaram, para dar lugar a uma certeza praticamente
conclusiva. Também estou certa de que essa certeza é somente e apenas minha,
não a podendo passar para os outros, porque não há como provar. Os outros
acreditam ou não, a não ser que também tenham a mesma informação e então, estamos
em sintonia.
E,
surpreendentemente, continua a revelar-se, porque neste caso do netinho de
Altair, havia um pormenor de suma importância para mim. Mais uma vez o mundo
espiritual trazia uma nova informação, que complementava e fechava de vez todas
as dúvidas da reencarnação. Até então eu só tinha encontrado reencarnações no
mesmo sexo e nunca em sexos diferentes, o que me deixava um pouco insegura.
Porquê? Como? Eu sabia que a reencarnação não tem nada a ver com sexo. Todas as
almas passam por experiências em corpos masculinos e femininos. Mas eu nunca
tido validado um caso de diferença de sexo e isso deixava-me inquieta, apesar
de que todas as informações eram corretas. Mas não tinha justificação para
isso.
À medida que o
tempo foi passando, mais fácil e vasto o número de processos de reencarnação a
que o mundo espiritual se vem revelando. Os primeiros foram assim uma coisa
inédita, uma experiência maravilhosa. Eu até tinha dificuldade em aceitar,
apesar de saber que era fidedigno. Depois, à medida que foram aumentando,
foram-se tornando uma coisa quase natural, para não dizer mesmo o mais natural
possível, sem drama, sem nenhum espanto, aquele espanto de quem descobre um
segredo guardado a sete chaves. Só faltava realmente este pormenor do sexo.
O mundo
espiritual apenas se revela, com toda a naturalidade, deixando as suas marcas
nas informações que nos passa, para que o possamos entender melhor e por uma
razão muito especial: o amor. Para que o amor seja fortificado e engrandecido
no seu todo. Para que venha ao de cima e seja, cada vez mais, a coisa mais
importante das nossas vidas, do nosso ser.
E finalmente, acabava de presenciar um caso em que uma alma que que acabava de deixar um corpo feminino, reencarnava agora num corpo
masculino. Uma vez mais, o universo falava, dizendo-me que eu estava certa e
que esta era uma informação que validava todo o meu conhecimento. Mais do que
isso, era verdadeiramente uma transcendente prova do amor único, porque
universal.