Onze de Setembro de 2001. Eu tinha vindo
do almoço, com uma colega que não tinha estado comigo no dia anterior, dia do
meu aniversário e vinha muito bem disposta. Entrei na minha sala e
dirigi-me ao meu local de trabalho para ver se tinha havido alguma ocorrência, durante a minha ausência. Mas antes mesmo de me instalar, dois colegas
engenheiros, altos cargos de estrutura, um dos quais meu chefe
directo, estavam encostados à minha secretária, olhando atentamente a
emissão da RTP, num écran que estava em frente à minha secretária. Quando deram pela minha presença, apressaram-se a informar-me de
que tinha havido um terrível acidente. Um avião tinha chocado com as
torres gémeas em Nova York.
Fiquei a falar sozinha, em silêncio,
repetindo para mim mesma o que tinha acabado de ouvir: "um avião chocou
com as torres gémeas"... meu Deus, como é que podia acontecer uma coisa
daquelas? Bem, podia, como não!? Que horror!
Um grande acidente, diziam eles, ao
mesmo tempo que insistiam para que eu visse o que eles
estavam a ver. E repetiam: "já viu uma coisa assim"? E as imagens
passaram novamente, com eles chamando a minha atenção, apesar de eu estar
cem por cento focada na televisão, para me inteirar do que, em princípio, não passaria de um incidente.
Para eles, aquelas imagens já eram
repetidas. Para mim, era a primeira vez que as via. E acompanhando o filme, apercebo-me de
que não vi o mesmo que eles, ou seja, o que eles diziam ter sido um acidente,
para mim não era acidente nenhum. Eu vi quando o avião começa a descrever uma
curva em direcção ao edifício. Para mim, estava mais do que claro, de que aquilo
tinha sido propositadamente. Ao contrário do que eles me queriam fazer crer,
aquilo não tinha nada de acidental.
E disse em voz alta e bom som que aquilo
não era um acidente. Eles olharam para mim, espantados, dizendo
"então não viu?" Sim, dizia eu, claro que vi, mas o que eu vi não
foi um acidente. Não há ali falha alguma, antes pelo contrário. Ele vai
intencionalmente ao edifício. Ele vai ao alvo com toda a convicção. Aquilo é
um atentado, dizia eu, sem a menor sombra de dúvida. E eles sorriam, com
cara de idiotas, qual atentado, coisa nenhuma. Um acidente!
Nesta altura, eu, que já estava passada
com eles, só pensava, meu Deus, a guerra começou. Isto é muito grave. E eles
continuavam a achar que eu estava a fantasiar, que estava louca e riam a gozar comigo. Eu
estava sem palavras, aterrada e apalermada com a falta de perspicácia daqueles
dois, que não eram quaisquer dois. Eram pessoas idóneas, responsáveis, com
cargos de grande responsabilidade. Homens já maduros, com experiência de vida
bastante; homens com cursos superiores, cultos, etc., etc... mas a falta de visão
deles, deixava-me completamente perplexa! Era uma coisa que não tinha
explicação.
E, inesperadamente, o
segundo atentado aconteceu, em directo, com o mundo nos olhos postos
perante algo que parecia impossível de acreditar. Só que, agora, já não havia
como "esconder". Não havia como arranjar desculpas, perante
aquela loucura toda que estava diante dos nossos olhos. Mas eles
continuavam a apreciar o "acidente", continuando a achar
espantosa a "coincidência". Uma enorme coincidência!? Dois acidentes, em condições idênticas, num tão curto espaço de tempo!?
A minha consternação era tão grande com a
burrice deles…, mas a minha apreensão conseguia ser ainda maior, porque aquilo
era o prenúncio de uma guerra mais do que declarada à América, ao
mundo. Donde viria? Dos Árabes?... Era uma hipótese.
Mas os meus colegas e superiores
continuavam impávidos e serenos nas suas convicções de falsos santos e
inocentes homens de boa fé, desdenhando das minhas preocupações e dos meus
comentários de horror pelo que se seguiria. Seríamos todos envolvidos numa
guerra sem tréguas, era só isso em que eu pensava e uma enorme tristeza foi
invadindo todo o meu ser, enquanto aquelas imagens terríveis continuavam
a passar, envoltas num terror sem precedentes, em directo e a cores, onde
se ouvia o estrondo de seres humanos que se atiravam ou caíam de todos os
andares das torres mais altas do mundo, até então superadas só pelos Árabes.
Era o inferno em vida. O mundo inteiro
estava em choque. A América vibrava na mais alta frequência de energia negativa possível e
inacreditável. Parecia um pesadelo que não ia acabar mais. Uma dor avassaladora
arrasava a terra. O planeta azul estava mergulhado no caos.
Tenho a certeza de que eles sabiam o que
se estava a passar. Era impossível não saberem. É claro que eles viam o mesmo
que eu. Mas tinham medo de opinar. Quando as pessoas são inseguras, omitem-se e
anulam-se, preferindo calar-se para não arriscar. Então, não há intuição que
valha, não há nada que fale mais alto e ficam cegas e surdas e mudas, se preciso
for, porque é seguro. Assim não correm o risco de errar. Mas esse, sim, é o
pior erro que se pode cometer.
E condoídos pelo infeliz acidente dos dois aviões, continuavam lamentando a
terrível coincidência, porque era uma incrível coincidência!...
Não acreditando no que ouvia e deixando-os
profundamente indignados, pelo menos na aparência, perguntei: "não me
digam que vai ser preciso um terceiro, para entenderem o que se está a
passar"?
E o terceiro aconteceu.