quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Alertas - 77



Estávamos num avião da Turquish Airlines com destino a Istambul para uma viagem muito completa pela Turquia e que muito apreciámos. Por mim falo, mas a verdade é que todas gostámos muito. E apesar de toda a gente achar que era uma altura muito má por causa da turbulência no país, mesmo assim lá fomos nós e nem por um instante nos arrependemos e tudo correu muito bem. 

Era uma viagem há muito desejada. Uma viagem várias vezes alinhavada mas que nunca chegou a sair e só então percebi porquê. Se a tivesse feito antes teria perdido a maior parte da informação recolhida. Muita coisa me teria passado ao lado. E esta viagem surgiu aparentemente do nada. De uma conversa banal com uma vizinha, comentando que ia à Turquia com um grupo de amigas, o que seria num espaço de tempo relativamente curto e de repente perguntei se também poderia ir. Ela respondeu que sim e o grupo logo tratou de me incluir. Falando de férias com a minha amiga Cris, comentei sobre a viagem e ela ficou toda interessada, dizendo que também queria ir à Turquia. Estava com uma prima a ver a possibilidade de irem as duas a qualquer sítio e a Turquia era um destino que interessava a ambas. Disse-lhe como tinha surgido esta oportunidade, qual era a agência e ela deu o meu nome para se certificar e lá foi também incluída no grupo mais a prima. E assim passámos a ser sete mulheres, num total de vinte pessoas, do qual metade eram cidadãos brasileiros. 

E a Turquia realmente apaixonou-nos. Alguém me tinha avisado de que os turcos não eram especialmente simpáticos. Queria lá saber disso! Eu não precisava da simpatia deles para nada, só precisava que fossem civilizados e realmente nenhuma de nós teve do que se queixar. Apreciámos a companhia, a comida, a paisagem, as cidades, o passeio de barco no rio Bósforo, a cultura, os hábitos, a história, a Capadócia e o andar no balão, para o qual quase não tivemos tempo de dormir… mas valeu muito a pena. Tudo valeu a pena e eu particularmente encontrei respostas surpreendentes que não estava à espera de encontrar. Por isso agradeci à vida a possibilidade que me deu por ter podido realizar mais uma grande viagem que foi muito importante. Poder viajar implica ter disponibilidade de tempo, ter dinheiro e saúde. Quando tudo isto se conjuga, que não é pouca coisa comparado com o que muitos por esse mundo fora podem ter, então é mesmo razão para estar bem grata à vida. 

Quase a chegar ao destino, a Rosa que ia sentada ao meu lado esquerdo, falava sobre coisas sem importância de maior, até que, de repente, referindo-se exactamente à viagem, disse “vai correr tudo bem… vai(!)”, ao mesmo tempo que acenava que sim com a cabeça, rematando a certeza do pensamento que acabava de verbalizar. Perante esta afirmação os meus sensores logo deram sinal. Olhei para ela e apercebi-me de que os olhos se revestiam de um brilho que surgiu com a afirmação que tinha acabado de proferir, bem como o olhar repentinamente distante, como que a percorrer o que seria a sua viagem à Turquia. Isto deixou-me apreensiva. Ela tinha acabado de afirmar que ia correr tudo bem  e mais ainda, tinha reforçado a parte final da frase. Porquê(?) era agora a minha questão. O que teria ela captado - ela, a sua alma – que necessitaria de ser confirmado ou corrigido com tal convicção?  

Interiormente, distanciei-me dela, daquele lugar, e mentalmente percorri também o interior da minha alma, à procura, mas não consegui encontrar nada que se encaixasse no “alerta” dela. Sim, porque aquela afirmação não seria necessária se realmente fosse correr tudo bem. Portanto, se ela se tinha manifestado, por assim dizer, é porque alguma coisa havia lá no fundo, sem que houvesse consciência disso. Estamos a falar do “inconsciente”. Era a sua intuição a alertar para qualquer coisa, ainda que ela não tivesse consciência disso. Mas a minha intuição acusou e fiquei a saber que qualquer coisa poderia correr menos bem. Enfim, estávamos ali para o desse e viesse e era melhor esquecer o assunto. Adiante se veria. 

Chegámos. O avião tinha feito a sua aterragem de modo impecável e preparávamo-nos para sair. Pegámos nas bagagens de mão e lá fomos. Dirigimo-nos para a passadeira para pegar a nossa bagagem mais pesada e o guia turco marcou um ponto de encontro para todos, junto à porta do aeroporto, para seguirmos num autocarro que nos aguardava no exterior. 

Alguém estava com pressa em fazer o câmbio, por isso fomos a um balcão ainda dentro do aeroporto, antes de irmos para o ponto de encontro. Era uma, depois outra também quis e mais uma e demorámos algum tempo ali. Depois houve trocas e empréstimos de dinheiro, abre carteiras e malas de mão, passaportes para mostrar e para guardar, etc… e finalmente estava tudo resolvido. Seguimos então para a porta onde nos aguardava o guia e o restante grupo. 

E já mesmo quase na porta de saída, a Rosa deu um grito e perguntou “a minha mala?”. Olhámos uns para os outros e de facto percebemos que ela era a única que não transportava a mala. A mala(?) começou toda a gente a perguntar, mas a mala tinha sido retirada do tabuleiro pela própria. Ou seja, a mala tinha chegado juntamente com as outras. Só que não estava com ela. A Rosa estava em pânico, sem saber o que fazer. O sangue subira-lhe à cabeça e o rosto estava vermelho da aflição de se ver sem a mala. Foi aí que pensei “então era isso, a mala dela”! Quando ela ainda no avião tinha feito aquela afirmação de que ia correr tudo bem, era a necessidade de afirmação de algo que poderia ter dado errado. 

Entretanto, lembrámo-nos de que tínhamos estado no balcão do câmbio e era quase certo a mala ter ficado lá por distracção, o que foi posteriormente confirmado pelas câmaras de segurança que tinham seguido o nosso trajecto e recolhido a mala que ficara abandonada. A Rosa aparecia afogueadíssima, cheia de calores, com o guia turco já com a mala, depois de uma hora de espera para que o assunto fosse resolvido, para nosso grande alívio. Estava resolvido o problema e a coisa, apesar do susto, tinha sido pacífica. Apenas alguma espera com que não contávamos. O factor “intituição” tinha funcionado e o “alerta” estava agora dissipado. 

 

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