Didi entrou no
meu carro com uma novidade: a nora estava grávida. Depois dos cumprimentos e de
uma breve troca de palavras habituais, atalhou rápida e expressivamente, para dizer
que tinha uma coisa para me contar. Pelo ar, expressão e todo o astral, era uma
coisa boa, só podia, porque ela não cabia em si de tanta vivacidade. Indo
direita ao assunto, porque estava muito ansiosa, falou tudo duma só vez. A nora
estava grávida, à espera do segundo filho.
Compreendi a
excitação, porque se fosse comigo, não estaria menos. Além de que a nora já
tinha uma certa idade e foi muito difícil conseguir a primeira criança. Após
várias tentativas “in vitro” e depois de vários abortos, lá veio uma gravidez
que conseguiu chegar a bom termo e uma menina nasceu, a Isabela.
De vez em quando
falava no assunto, repetindo vezes sem conta que aquela criança tinha sido
muito difícil e que a nora tinha muita dificuldade em engravidar. E também
tinha vindo a dizer que ela queria muito ter outro filho, mas nas condições
dela, era praticamente impossível. Era quase um milagre.
Há uns tempos
ela veio com a conversa que suspeitava que a nora e o filho andavam a planear
outra gravidez, porque nalgumas conversas ao telefone com o filho, ele lhe
dizia que estavam no hospital, sem especificar o motivo, pelo que começou a
desconfiar que andavam novamente a tentar, embora ela achasse que não valia a
pena, tanto pela idade como pela dificuldade. Mas isso era problema deles.
Agora vinha
entusiasmadíssima e feliz da vida, porque a vinda de outro neto estava
anunciada, ainda que temendo que a nora abortasse, como aconteceu outras vezes.
Em todo o caso, o filho tinha-lhe garantido que estava tudo bem com esta
gravidez e que ia dar tudo certo. A Isabela já estava com três anos e a coisa vinha
na hora certa.
Enfim, fiquei
feliz por ela, e reforcei que daria tudo certo, com certeza. Porque não? Era
bom para todos. Uma criança é sempre um presente dos céus. Uma mãe, por
variadíssimas razões, pode não querer ter mais filhos, é compreensível. Mas uma
avó quer sempre ter mais um neto. Venham os que vierem, sempre serão muito
bem-vindos. Era só aguardar e pensamento positivo para que tudo desse certo.
A conversa mudou
de rumo para o usual, fomos à nossa vida e o tempo passou. Foi passando com
tudo a andar normalmente. As confusões da vida, a política, as guerras, etc…
etc… etc.
Uma semana
depois, era mais um dia. Um dia de universidade sénior, de tarefas caseiras, um
dia de rotina. Íamos para as aulas e Didi tinha acabado de entrar no meu carro.
Como de costume, a conversa começou com ela a pôr tudo em dia. O que acontece e
o que não acontece. Mas logo de seguida fui surpreendida com uma conversa de um
sonho que teve. E estava louca para me contar. Fui ouvindo sem ligar muita
importância, como fazia com tudo o que ela dizia. Mas desta vez, falava-me
muito animadamente de uma coisa diferente das suas conversas habituais. Dizia
que raramente sonhava, mas que naquela noite tinha tido um sonho muito
estranho.
Aí, foquei um
pouco a minha atenção, apenas porque os sonhos são um assunto de suma
importância para mim. Eu sei que a maioria das pessoas não liga, mas para mim é
vital. Dependendo do que é, têm a sua importância. Eles trazem muita
informação. Aquilo que às vezes pode parecer uma coisa tola e sem significado
nenhum, apenas para descartar, muito pelo contrário, pode ser uma mensagem
altamente codificada, impregnada na sua muito própria linguagem holística,
projectada pelos registos akáshicos, a qual é preciso saber ler, porque contêm informação
muito preciosa para nos guiarmos, assim como conhecimento. Por isso é preciso
estar bem atentos.
Foi por isso que,
quando ela me falou num sonho que tinha tido, embora não me dissesse respeito,
fiquei um pouco curiosa. Além disso e, apesar de ser um sonho dela, eu poderia
ajudá-la na interpretação. Portanto, agora eu estava bastante atenta ao que de
lá vinha, para perceber se faria algum sentido. E ela continuava a falar,
dizendo que nunca sonhava, mas este sonho era como se tivesse sido real, como
se tivesse acontecido e isso já era um dado importante. Só o facto de nunca
sonhar, ou seja, nunca se lembrar, isso já significava que ali havia coisa,
caso contrário o subconsciente não o teria registado para ser acessível ao
consciente.
Didi tinha
sonhado com o marido que tinha falecido há três anos e com quem nunca sonhou
depois da sua morte. Era como se ele estivesse ali ao pé dela. Como se
estivesse vivo! Estava bem, de óptima disposição, falando com ela animadamente,
mas (!)…, mas… e aqui é que está o cerne da questão. Dizia-lhe que queria ir
com ela para a cama. Com efeito, ela olhava para mim com um ar espantadíssimo,
como se fosse uma coisa extraordinária. Ela dizia-me que ele tinha tido um
relação extra-conjugal, ou seja, traía a mulher com uma amiga dela, que também
era casada. Mas nunca se quis divorciar dele, apenas para não lhe facilitar a
vida. Agora, no sonho, ele estava com ar feliz e queria sexo com a mulher. Ela
estava espantada, aceitando aquela realidade holística como se ela fosse real,
misturando um pouco o mundo material com o “fantástico”, digamos.
Enquanto ela
falava sobre o sonho e sobre o marido, não dei especial importância. Podia ser
apenas uma necessidade de união de almas, tanto mais que ela tem o hábito, só
porque sim, de ir ao cemitério levar flores, etc. Contudo, assim que ela falou
que no sonho ele queria ter relações sexuais com ela, a minha atenção redobrou,
porque aí soou o alerta. Era esse o ponto central da questão. Imediatamente,
percebi que, na verdade, o sonho era uma revelação que ele estava a tentar
passar para ela. Só que nem todas as pessoas se situam nessa dimensão e até
acham tudo isso uma parvoíce.
Didi estava
viúva há três anos. Nos últimos tempos, o marido não falava noutra coisa senão
nessa menina, porque queria fazer uma grande festa em família. Já não foi a
tempo, porque fez a sua passagem uns dias antes do nascimento. A sua alma já
antevia a possibilidade da reentrada ou reencarnação numa outra vida, no seio
familiar. Contudo, por razões que desconhecemos, não foi possível. O “tempo”
deve ter sido o factor. O tempo é apenas uma dimensão que não tem nada a ver
com a nossa medida. A alma precisa de tempo=espaço para se desligar, limpar o
karma e entrar na outra dimensão que lhe permitirá abrir novo ciclo de
reencarnação.
A nora, apesar
de tudo, não teve tanta dificuldade em gravidar pela segunda vez, o que deveria
ser mais difícil do que da primeira. Três anos depois volta a engravidar,
estranhamente sem grande dificuldade.
No sonho, ele
apresenta-se a ela deixando-a com a nítida sensação de que está vivo, ali ao
seu lado. Vivo e feliz. Ela estranha ainda o facto de ele querer ter sexo. Ela
não estranha, digamos que fica impressionada. O sexo é o acto que nos permite
procriar. Sem sexo não há procriação e procriação é a continuidade da vida. Há,
claro, nas sitiações “in vitro”, como é o caso. Mas para isso teve que haver
sexo, sozinho ou acompanhado. Sexo é aquilo que se sobrepõe à morte, fazendo
com que a vida seja mais forte do que a morte.
Ele vem dizer,
nem mais nem menos, que vai reencarnar, ou seja, já reencarnou, nesta nova
criança que vai nascer e que, em princípio, tudo vai correr bem e vai voltar
para o seio familiar, através, nada mais nada menos, desta criança. Bem-vinda!
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