domingo, 29 de setembro de 2024

OM - 120

 

Om, a sílaba mágica, porque símbolo universal. Na verdade, Om é o puro som do universo. O princípio de tudo, porque é onde tudo tem a sua origem. Tudo vem do Om, como tudo se transforma e se esfuma em Om. Ele não está ligado apenas ao nosso pequeno mundo. Abrange todos os mundos, visíveis e invisíveis e tudo o que neles está contido, dentro e fora.

Om ou Aum, é por isso considerado sagrado e muitas religiões orientais o adoptaram como portal divino da energia universal. Mas não só, em África também é a toda poderosa. Os terreiros de Umbanda, onde Om actua por excelência, centrando tudo em si. Umbanda é a união de duas palavras: Aum e banda. Aum é Om e banda significa lado, portanto, do lado de Deus. Om é tudo, porque vem do nada, se é que é possível entender. Om existe até mesmo antes da sua própria existência, se é que também isto é possível entender. Uma energia fundamentalmente holística, que nos diz que o Todo é maior do que a soma das partes. Ultrapassa, sem dúvida, toda a nossa linha de compreensão.

Quando eu era criança e andava na catequese, porque a minha família era católica praticante, aprendi essa coisa do Om, que já então me fascinava, precisamente por não conseguir atingir. Aprendi que Deus era omnipotente, omnisciente e omnipresente. E o facto de haverem três om’s era uma coisa deveras transcendente. As três potenciais forças absolutas para definir a natureza de um deus, o deus dos monoteístas. E dava por mim, muitas e muitas vezes, meditando inconscientemente, porque nessa altura ainda nem sabia o que isso era, mas inconscientemente já o fazia, meditando sobre essas três “qualidades” que definiam Deus. E a verdade é que ficava verdadeiramente extasiada, porque me sentia mergulhar num mar de perguntas que não podiam ter resposta. Primeiro, porque ninguém falava nisso. Segundo, mesmo que falassem, não me dariam a resposta, porque na verdade não existe uma resposta.

Om é inalcançável, porque é deus. Om é usado para mantras e tudo o que é ritual religioso para atrair as boas energias do universo, que todos tanto precisamos. Claro que no ocidente apenas alguns, a élite espiritualista, trabalha com Om, mas no oriente é muito familiar e do mais sagrado que pode haver, o que não deixa de ser interessante. Se não, vejamos: Om representa um deus – o deus único, supostamente - mas no oriente, onde é precisamente mais usado, existe uma infinidade de religiões, cada uma com o seu deus. Qual deles é o verdadeiro? Porque só o verdadeiro é único. Então, om está ligado a qual deus? Ou todos eles são omnipotentes, omnipresentes e omniscientes? As coisas complicam-se e entram em completa contradição. Mas o oriente é o que é, é mesmo assim, e quem somos nós para contrariar seja quem for quanto à fé e suas crenças?!

Por mim, como sempre acreditei num deus único, fica mais fácil aceitar a definição de omnipotente, omnisciente e omnipresente. Sem dúvida! Porém, nunca me passou pela cabeça regatear com alguém sobre quem é quem porque, da minha perspectiva, sendo só um, não tem que saber, querendo ou não, o facto é que é o mesmo para todos e ponto final. Mas também não tiro o direito a ninguém de ter uma opinião diferente da minha.

Uma noite destas, antes de adormecer, estava eu nas minhas preces muito pessoais, que não são sempre iguais, variando em pequenas coisas que as tornam mais criativas e mais profundas, quando me veio à ideia dirigir-me ao deus da minha fé, através da transcendência do sagrado Om, para de seguida enumerar as suas divinas atribuições dos três om’s: omnisciente, omnipotente e… e… o terceiro om não saía. Concentrei-me, para melhor o chamar, mas ele não vinha. Concentrei-me mais ainda, mas ele não vinha de jeito nenhum. Parei com tudo na minha cabeça para mergulhar profundamente na busca do terceiro om, mas ele decidiu que não viria.

Achei isto muito esquisito, porque nunca tal me tinha acontecido e não estava disposta a aceitar esta estranhíssima falta de lembrança. Não era possível! Porquê? Não tinha explicação. Barafustei com a minha cabeça, agarrei-me fortemente às minhas tácticas, mas o om não aparecia de jeito nenhum. Repetia os dois que me vinham à lembrança: omnipotente, omnisciente, na expectativa de que o terceiro viesse automaticamente, mas depois de todos os esforços possíveis, tive que me render, porque percebi que não conseguia atraí-lo e acabei desistindo, para minha grande frustração.

Não fazia sentido nenhum aquele lapso de lembrança ou de memória, porque as três coisas estão tão interligadas e fazem tanto sentido, que acabam por ser uma só. E assim acabei por adormecer com uma forte sensação de derrota. Tenho imensa dificuldade em aceitar as minhas falhas. Mas é o que é. Nem adianta muitos porquês, porque não têm resposta. É aceitar e pronto, o que para mim às vezes é difícil. Foi o caso. Por isso, decidi esquecer, para me entregar ao sono, e me libertar daquele dilema. Isto era o que eu pensava.

E não foi difícil adormecer, nem por isso. A decisão estava tomada, pelo que rapidamente entrei no processo do sono. Quando dormimos, achamos que nos desligamos de tudo, mas não há nada mais falso do que isto. É um puro engano. O meu espírito pode ter vagueado sabe-se lá por onde, porém, estava gravado no meu subconsciente, que queria lembrar-me do terceiro om, mesmo sem consciência disso, e então, durante o sono, o inconsciente fez o seu trabalho e pela manhã, ao abrir os olhos, ainda sem bem ter a noção de que já tinha acordado para um novo dia, antes mesmo de ter consciência de outra coisa qualquer, fosse o que fosse, ao abrir os olhos, até mesmo sem ter tempo de me lembrar da cena da noite anterior e da frustração que me causou aquele ridículo esquecimento, de uma forma estranha mas impactante, doida para se mostrar, na perfeição e sem a mais pequena dúvida, o terceiro om chegava como uma ordem, impondo-se a tudo, com toda a sua força e o poder a que faz jus, para meu grande espanto e admiração, aí estava ele: omnipresente. Agora sim: omnipotente, omnisciente e omnipresente.


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