sábado, 1 de novembro de 2025

Um dia diferente - 127

 

Vinte e oito de Abril de dois mil e vinte cinco, um dia diferente, um dia memorável. Um dia de sol, com uma temperatura excelente. Os cafés abertos e cheios de gente animada, por sinal. Quem havia de dizer que este dia chegaria!? Um enorme desafio, sem dúvida. Alguns estavam calmos, outros nem tanto. Talvez meio desorientados, sem saber o que fazer. Por isso, o convívio nos cafés, porque não?!

Eu tinha ido para a universidade sénior, onde as coisas decorreram normalmente. No regresso, pouco depois das onze, pelo caminho, aproveitei para ligar a uma vizinha e amiga, colega da universidade, que nesse dia não tinha ido. Liguei, mas ao segundo ou terceiro toque, a chamada desapareceu, simplesmente. Voltei a ligar e aconteceu exatamente o mesmo. Não achei estranho. Pensei que talvez ela estivesse num sítio sem rede. No elevador, por exemplo. Precisava de ir à Farmácia, mas primeiro tinha que ir a casa buscar a receita.

Ao chegar a casa, estacionei o carro e dirigi-me ao meu prédio. Logo aí, cruzei-me com um jovem casal, meus vizinhos que, sem mais nem menos, me informaram que não havia luz. Não havia luz? Ok, ela voltaria, pensei. Mas eles prosseguiram, dizendo “não há luz em toda a Póvoa”. Ok, continuei a pensar, ela virá quando tiver que vir. Qualquer coisa que aconteceu e pronto. Mas os meus vizinhos continuavam “não se sabe quando virá”. E percebi que a falta de luz estava a incomodá-los, o que não combinava nada com eles, que são bem descontraídos, um pouco demais para o meu gosto.

Fui a casa pegar a receita e tive que subir e descer as escadas, pela falta de elevadores, pensando na falta que faz a luz. Já na Farmácia, alguém falou que estavam sem luz. Aí já comecei a entrar na realidade e a perceber que alguma coisa de maior se passava. Contudo, não me detive demasiado com esse assunto. Saí e do lado de fora da Farmácia, estava uma mulher sentada no lancil, que tinha ouvido a conversa no interior da Farmácia e à minha passagem resolveu continuar o assunto que vinha lá de dentro, sobre a falta de luz, começando a falar para mim, para eu ouvir e ficar esclarecida, porque lhe deve ter parecido que eu não estava nem um pouco a perceber o que se estava a passar, no que não estava enganada.

Dizia “não há eletricidade na Póvoa, nem em Lisboa, nem em todo o país. Mas Espanha e França também não têm. E parece que há mais…”

Eu, que não estava nem aí para uma coisas dessas proporções, apesar do que os outros tinham falado e que não levei muito em conta, parei para olhar bem para ela, pensando no que ela acabava de me transmitir. Agora percebia o estado dela, o ar indiferente e a posição meio alheada de tudo. Não há luz, não posso fazer nada. Desinteressada, por assim dizer. Parecia que se tinha posto de parte em relação a tudo, à vida, ao seu mundo. O seu mundo estava como que submerso na escuridão, digamos. Falava comigo como se estivesse a lamentar-se para si mesma e passava a mensagem para mim, para que eu ficasse contagiada do mesmo jeito que ela.

Eu ouvia o que ela dizia, estudando a sua postura de “abandonada” pela sorte, pensando, vou para casa e não há luz… é… é chato, muito chato. Mas o que se há de fazer? Estamos todos na mesmíssima situação! Na minha cabeça imaginava a extensão do problema, uma vez que ela tinha mencionado já três países. Mas seria aquilo verdade?

E a mulher continuava “e não se sabe quando virá… parece que foi pirataria. Provavelmente um ataque terrorista… agora vamos ficar assim uma semana no mínimo…, mas pode levar mais tempo…” … …

Naquele momento, depois de ouvir tudo o que ela despejou, os meus sensores deram imediatamente sinal. Tudo bem, que podia ter sido um apagão com a dimensão que ela estava a dar. Mas, independentemente da origem que teve, não íamos ficar sem luz todo esse tempo. Era inadmissível uma coisa dessas. Tanta coisa dependente disso!? Mas… e se ela estivesse certa?!...

Queria sair dali para me informar, para saber o que se estava a passar de facto, mas, nem ela terminava a conversa, nem eu conseguia conciliar o pensamento porque, ir para casa, claro, tinha que ir mesmo, mas sem luz, não havia televisão e, portanto, não havia como saber notícias fidedignas. Que fazer?

A mulher, que continuava aparentemente a falar comigo, mas que, na verdade, falava com ela própria - porque aquilo era um lamento, um queixume, a maneira como ela estava a interiorizar o acontecimento - focava-se sobretudo no tempo que o apagão, como ela dizia, iria demorar. Uma semana no mínimo. Comecei a pensar nas proporções de um alarme daquela natureza e, de repente, parecia que a vida se tinha virado de cabeça para baixo. Sim, ela estava a conseguir passar para mim toda a angústia em que estava mergulhada.

Uma semana era muito tempo … tempo demais, o que não podia ser. Um dia já era muito! Parecia que não íamos poder sobreviver. E quando estava a ficar no auge das minhas emoções, antevejo uma onda de retrocesso, que começa a chegar até mim, contrariando toda aquela ansiedade motivada pela notícia desastrosa. Enquanto a mulher continuava a insistir no tempo, “uma semana, ou até duas semanas, não se sabe quanto irá durar” … eis que aquela onda de informação começa a descodificar-se, para me trazer a notícia, a boa notícia de que, no máximo, naquele mesmo dia à noite, a luz chegaria a nossas casas. Caso contrário, na manhã do dia seguinte, tudo estaria resolvido, o que quer que tenha acontecido. E tudo voltaria à normalidade.

Fiquei então bem mais tranquila e apetecia-me dizer-lhe, “não, olhe que não, posso dizer-lhe que hoje mesmo as coisas se resolvem e o mais tardar amanhã de manhã tudo estará normalizado”, mas não fui capaz. Não fui mesmo. Aquilo era uma informação minha, muito minha, que a minha intuição tinha conseguido acessar. A minha conexão com o cosmos é uma coisa muito minha e os outros não têm que aceitar e nem compreender. Se eu lhe tivesse dito alguma coisa, talvez ela pensasse que eu era doida. Por isso abstive-me e muito educadamente me recolhi, afastando-me dela calma e tranquilamente, para ir para o carro.

Cheguei a casa meio perdida com tudo o que estava a acontecer. Comecei a pensar nas consequências, coisas grandes e coisas pequenas, como: ficar fechado num elevador(!?) Enfim… a situação era delicada. Contudo, a minha cabeça continuava a dizer para não me preocupar, porque a luz chegaria às nossas casas naquele mesmo dia à noite. Estaria eu a sonhar? Não estava. Eu sabia e tinha plena consciência da veracidade da minha mensagem, vinda diretamente do cosmos. Todos estamos ligados, essa é a questão que muitos ainda esquecem, ignoram ou descartam. Para mim, isso faz todo o sentido, por isso me situo nessa dimensão. Não é nada demais. Isso, do meu ponto de vista. E se estamos todos ligados, o ponto de encontro será o universo.



Sem comentários:

Enviar um comentário