A vida tem tanta
coisa para a qual não temos resposta! Nestes casos, o mais sensato é ter uma
atitude positiva e encarar os factos tal como são, sem demandas, sem questões,
para que tudo se torne o mais normal possível. Foi o que fiz a partir de um
certo ponto da minha vida, que já vai longa e, assim, as estranhezas deixaram
de ser estranhas para passarem a ser simplesmente o que são.
Passei a vida
toda praticamente sozinha, posto que o meu primeiro casamento durou apenas doze
anos. E aos trinta e seis anos, eu estava novamente sozinha, como estava antes
de me casar. Só que agora tinha um filho.
Por isso, posso
dizer com toda a verdade, que fiz a vida sozinha. Aos sessenta anos encontrei
uma pessoa excepcional, com quem vivi apenas sete meses, pura e simplesmente
porque, repentinamente, ele se foi, para não mais voltar. Se existe algo que
não têm volta é a morte.
Passaram-se doze
anos desde esse acontecimento trágico que, na altura me deixou de rastos, e eu
já estava com a vida organizada, sozinha, mas com um projecto pela frente, para
ter uma rotina normal, por assim dizer, com a minha cabeça equilibrada e
emocionalmente estável, enraizada na realidade do dia a dia, em que ninguém
sabe o que vem a seguir e o mais correto é focar-se no presente, aqui e agora,
e quando eu pensava em mim, na minha vida, eu tinha a certeza absoluta de que
daí para a frente seria sempre sozinha. Não me imaginava nem queria mais
ninguém comigo. Não, não era aceitável, não fazia sentido, não havia porque
pensar numa coisa dessas, era isso que eu sentia. Era assim que eu queria estar
e ficar.
Tinha amigas da
minha idade que ainda sonhavam em encontrar o tal do príncipe encantado, mas
eu, como nunca tive essa fantasia, nem a queria para mim, não era agora que ia
pensar numa coisa dessa natureza. Sempre fui muito terra-a-terra, nunca vi o
casamento ou uma relação a dois, nessa perspectiva, por isso não era aos
setenta anos que isso ia acontecer, de certeza absoluta. Isso era mais do que
certo. Só que, a dada altura começaram a acontecer umas coisas bem estranhas.
Uma noite, depois
de ter estado a arrumar umas roupas no meu quarto, sentei-me na cama a arranjar
as almofadas para me deitar. E na altura em que me vou deitar na cama
apercebo-me de que há uma energia masculina de pé, do lado direito, junto à
mesa de cabeceira e bem em frente à janela. Era a figura de um homem alto,
magro, despido, que desapareceu imediatamente, após confirmação da minha
visualização. Achei estranho, mas eu vi e sei o que vi. Não inventei, não
imaginei, não sonhei… enfim. As tais coisas estranhas que não têm explicação.
Mistério!
O mais estranho
nisto é que eu sabia que não era a visão de uma alma, ou seja, de alguém que já
não estivesse entre nós. Era a energia muito precisa, por sinal, de alguém que,
definitivamente, eu não conhecia, não fazia a menor ideia de quem era, mas que
estava vivo, bem vivo. Estava ali, despido, indo-se deitar comigo, com todo o à
vontade. Estranho!? A que propósito? Não tinha mesmo resposta para uma coisa
daquelas. Por isso, decidi descartar e deitar-me para dormir, sem pensar mais
no assunto.
De facto, não
pensei mais naquilo. Eu não pensei mais naquilo, mas “aquilo” pensou em mim.
Uns dois ou três dias depois, de manhã, depois de ter vindo da casa de banho,
com o banho tomado e o corpo enxuto, vou para o quarto para me vestir e
novamente aquela visão me surpreende. Lembrei-me imediatamente de a ter visto
no outro dia à noite, mas agora era manhã e ali estava novamente a mesma figura
enigmática, exactamente igual, despido, e agora passava aos pés da cama. Fiquei
parada, a olhar e a pensar comigo mesma, mas quem é esta criatura, este homem
que passeia pela minha casa, mais precisamente pelo meu quarto, sem roupa, o
que me dizia que era alguém com quem eu teria intimidade, alguém que estava na
minha vida, instalado no meu caminho e partilhando a vida comigo!? Era deveras
curioso, estranho… todas as perguntas apareciam sem que houvesse a mais pequena
possibilidade de lhes dar respostas. Mas, mais uma vez eu decidi descartar,
porque não sabia o que fazer com aquela informação vinda do além, do campo
holístico, que não pára de me surpreender.
Era a segunda
vez que eu via aquela imagem. Era a segunda vez que aquela mensagem me era
dirigida. E o que é que eu poderia fazer em relação àquilo? Nada. Estava bem
definido na minha cabeça e não só, que eu não seria capaz de voltar a ter um
relacionamento. Além disso, aquela visão, mostrava-me que era um relacionamento
com bases muito sólidas, e não uma coisa passageira. Mas como? Donde viria
aquela criatura e como iria parar à minha vida? Era mesmo estranho! A meu ver,
não tinha a mais pequena possibilidade de isso acontecer. Até porque, para que
tal acontecesse, era preciso que eu quisesse e eu não queria, de jeito nenhum.
Enfim, não ia matar a minha cabeça com um mistério daqueles. Talvez fossem
mesmo maluquices minhas e eu não estivesse a ver a coisa como devia.
Passaram-se mais
uns dias. Não pensei no assunto. Fiz questão de pôr de parte e seguir o meu
caminho. Talvez uma semana mais tarde, novamente à noite, na hora de me deitar,
fui atraída pela figura que passava da casa de banho para o quarto, indo na
minha frente. E foi então que tive a certeza absoluta de que, num espaço de
tempo relativamente curto, a minha vida mudaria por completo. Num futuro muito
próximo, eu iria conhecer o meu companheiro, o meu futuro marido. E senti-me
obrigada a aceitar aquela notícia, porque ela fazia parte do meu destino, do
percurso da minha vida. Não havia escolha. Eu estava simplesmente a ser
notificada da reviravolta que a minha vida levaria.
Sentei-me na
cama olhando para o lugar onde o tinha acabado de ver, a tentar assimilar e
digerir aquilo. Como era possível? Eu sabia que não ia aparecer mais, porque
estava tudo dito e não havia mais nada a revelar. Antes, eu compreendia o que
tinha visto, mas parecia que não queria aceitar. Agora, porém, eu tinha acabado
de perceber que era algo que estava acima do meu querer. Era algo que estava
registado no Akasha e não tinha como ser eliminado ou ignorado. O universo
fizera chegar até mim uma espécie de ordem comandada pelo cosmos. E ponto
final.
A partir daí,
sim, eu pensava naquilo, como aconteceria, que voltas eu daria para ir naquele sentido.
Ou que voltas a vida daria para pôr aquela pessoa no meu caminho. Todavia, não valia
a pena ficar mergulhada naquele assunto, porque não era nada que estivesse ao
meu alcance. Era coisa do destino. Eu saberia quando chegasse o momento. A
própria vida se encarregaria de fazer acontecer as coisas.
Os dias
passaram, as semanas foram correndo, uma após outra e um mês e outro e um dia…
sem mais nem menos… as coisas aconteceram e no dia vinte e cinco de Outubro de
dois mil e vinte e quatro eu estava de aliança no dedo. Nunca pensei,
sinceramente. O homem que mudou radicalmente a minha maneira de pensar em
relação à vida. De repente, aquela “visão” de uma energia que aparecia no meu
quarto, deixou de ser apenas uma energia, para ser um ser completo, de corpo e
alma. Aos setenta e dois anos, perfeitamente consciente do que tinha feito, do
passo que tinha dado, eu estava novamente casada, pela segunda vez.
Mistérios!...
Sem comentários:
Enviar um comentário