Om, a sílaba
mágica, porque símbolo universal. Na verdade, Om é o puro som do universo. O
princípio de tudo, porque é onde tudo tem a sua origem. Tudo vem do Om, como
tudo se transforma e se esfuma em Om. Ele não está ligado apenas ao nosso
pequeno mundo. Abrange todos os mundos, visíveis e invisíveis e tudo o que
neles está contido, dentro e fora. Om ou Aum, é por isso considerado sagrado e
muitas religiões orientais o adoptaram como portal divino da energia universal.
Mas não só, em África também é a toda poderosa. Os terreiros de Umbanda, onde Om
actua por excelência, centrando tudo em si. Umbanda é a união de duas palavras:
Aum e banda. Aum é Om e banda significa lado, portanto, do lado de Deus. Om é
tudo, porque vem do nada, se é que é possível entender. Om existe até mesmo
antes da sua própria existência, se é que também isto é possível entender. Uma
energia fundamentalmente holística, que nos diz que o Todo é maior do que a
soma das partes. Ultrapassa, sem dúvida, toda a nossa linha de compreensão.
Quando eu era
criança e andava na catequese, porque a minha família era católica praticante,
aprendi essa coisa do Om, que já então me fascinava, precisamente por não
conseguir atingir. Aprendi que Deus era omnipotente, omnisciente e
omnipresente. E o facto de haverem três om’s era uma coisa deveras
transcendente. As três potenciais forças absolutas para definir a natureza de
um deus, o deus dos monoteístas. E dava por mim, muitas e muitas vezes,
meditando inconscientemente, porque nessa altura ainda nem sabia o que isso era,
mas inconscientemente já o fazia, meditando sobre essas três “qualidades” que
definiam Deus. E a verdade é que ficava verdadeiramente extasiada, porque me
sentia mergulhar num mar de perguntas que não podiam ter resposta. Primeiro,
porque ninguém falava nisso. Segundo, mesmo que falassem, não me dariam a
resposta, porque na verdade não existe uma resposta.
Om é
inalcançável, porque é deus. Om é usado para mantras e tudo o que é ritual
religioso para atrair as boas energias do universo, que todos tanto precisamos.
Claro que no ocidente apenas alguns, a élite espiritualista, trabalha com Om,
mas no oriente é muito familiar e do mais sagrado que pode haver, o que não
deixa de ser interessante. Se não, vejamos: Om representa um deus – o deus
único, supostamente - mas no oriente, onde é precisamente mais usado, existe
uma infinidade de religiões, cada uma com o seu deus. Qual deles é o
verdadeiro? Porque só o verdadeiro é único. Então, om está ligado a qual deus?
Ou todos eles são omnipotentes, omnipresentes e omniscientes? As coisas
complicam-se e entram em completa contradição. Mas o oriente é o que é, é mesmo
assim, e quem somos nós para contrariar seja quem for quanto à fé e suas
crenças?!
Por mim, como
sempre acreditei num deus único, fica mais fácil aceitar a definição de
omnipotente, omnisciente e omnipresente. Sem dúvida! Porém, nunca me passou
pela cabeça regatear com alguém sobre quem é quem porque, da minha perspectiva,
sendo só um, não tem que saber, querendo ou não, o facto é que é o mesmo para
todos e ponto final. Mas também não tiro o direito a ninguém de ter uma opinião
diferente da minha.
Uma noite
destas, antes de adormecer, estava eu nas minhas preces muito pessoais, que não
são sempre iguais, variando em pequenas coisas que as tornam mais criativas e
mais profundas, quando me veio à ideia dirigir-me ao deus da minha fé, através
da transcendência do sagrado Om, para de seguida enumerar as suas divinas
atribuições dos três om’s: omnisciente, omnipotente e… e… o terceiro om não
saía. Concentrei-me, para melhor o chamar, mas ele não vinha. Concentrei-me
mais ainda, mas ele não vinha de jeito nenhum. Parei com tudo na minha cabeça
para mergulhar profundamente na busca do terceiro om, mas ele decidiu que não
viria.
Achei isto muito
esquisito, porque nunca tal me tinha acontecido e não estava disposta a aceitar
esta estranhíssima falta de lembrança. Não era possível! Porquê? Não tinha
explicação. Barafustei com a minha cabeça, agarrei-me fortemente às minhas
tácticas, mas o om não aparecia de jeito nenhum. Repetia os dois que me vinham
à lembrança: omnipotente, omnisciente, na expectativa de que o terceiro viesse
automaticamente, mas depois de todos os esforços possíveis, tive que me render,
porque percebi que não conseguia atraí-lo e acabei desistindo, para minha
grande frustração.
Não fazia sentido
nenhum aquele lapso de lembrança ou de memória, porque as três coisas estão tão
interligadas e fazem tanto sentido, que acabam por ser uma só. E assim acabei
por adormecer com uma forte sensação de derrota. Tenho imensa dificuldade em
aceitar as minhas falhas. Mas é o que é. Nem adianta muitos porquês, porque não
têm resposta. É aceitar e pronto, o que para mim às vezes é difícil. Foi o
caso. Por isso, decidi esquecer, para me entregar ao sono, e me libertar
daquele dilema. Isto era o que eu pensava.
E não foi
difícil adormecer, nem por isso. A decisão estava tomada, pelo que rapidamente
entrei no processo do sono. Quando dormimos, achamos que nos desligamos de tudo,
mas não há nada mais falso do que isto. É um puro engano. O meu espírito pode
ter vagueado sabe-se lá por onde, porém, estava gravado no meu subconsciente,
que queria lembrar-me do terceiro om, mesmo sem consciência disso, e então, durante
o sono, o inconsciente fez o seu trabalho e pela manhã, ao abrir os olhos,
ainda sem bem ter a noção de que já tinha acordado para um novo dia, antes
mesmo de ter consciência de outra coisa qualquer, fosse o que fosse, ao abrir
os olhos, até mesmo sem ter tempo de me lembrar da cena da noite anterior e da
frustração que me causou aquele ridículo esquecimento, de uma forma estranha mas
impactante, doida para se mostrar, na perfeição e sem a mais pequena dúvida, o
terceiro om chegava como uma ordem, impondo-se a tudo, com toda a sua força e o
poder a que faz jus, para meu grande espanto e admiração, aí estava ele:
omnipresente. Agora sim: omnipotente, omnisciente e omnipresente.