sexta-feira, 9 de maio de 2014

Seu António - 44


Três, dois, um... a meditação tinha terminado e os nossos olhos abriam-se. Estávamos de novo na realidade, de volta à cidade Natal, Brasil - planeta terra.  

Mas eu estava extasiada com o que tinha vivido naquela meditação guiada por Irene, nossa mestre de reicky. Inajá tinha uma cara completamente desconsolada e desconsertada. Não saíra dali nem por um segundo. Bloqueou. Eu, porém, estava nas nuvens. Era indescritível a boa energia que percorria e envolvia todo o meu ser. Uma coisa linda, sem palavras que, no entanto, vou tentar descrever, por conta do insólito que decorreu. Não vou descrever a meditação, que não vem ao caso. O que vou descrever é a mensagem que veio nas entrelinhas e que considero uma coisa extraordinária. 

Desde que Irene nos mandou fechar os olhos e começou a falar, fiquei ligada nela, ou melhor, na mente dela, sem perder a mais pequena coisa. E sempre chegava antes dela. Foi assim, que a dada altura do meu caminho, deparo com uma montanha enorme e aí me pergunto: "o que estou aqui a fazer? Porque vim aqui parar?" 

Como se tivesse ouvido a minha pergunta, Irene assinala o caminho apontando uma montanha. E diz que nessa montanha há um templo. Percebi que estava no caminho certo, mas não via o templo. Procuro, mas o templo não aparece. Ela continua abrindo-nos o caminho para visualizarmos o templo, mas eu não sei visualizar. Eu "vejo" e, no caso, não via. Comecei a ficar um pouco ansiosa, com medo de não conseguir prosseguir o caminho. Talvez o meu chacra da terceira visão não estivesse preparado para o passo seguinte e que eu ainda não sabia qual era. Mas, se até ali, tinha percorrido o caminho com tamanha precisão e ainda por cima, com um considerável avanço holístico em relação a Irene, porque razão não haveria de ir para a frente!? E já um pouco desmoralizada, forcei a concentração o quanto me era possível. Invocando a ajuda dos meus guias e a permissão superior para continuar, foi então que aconteceu o inusitado. Perante toda a minha perplexão, a montanha começou a abanar de cima a baixo. A terra pesada e escura rolava e caía, como se se tratasse de um sismo. E enquanto abanava, algo surgia, algo emergia de seu seio. Finalmente parou. Olho e que vejo(?): o templo, que se escondia, encerrado que estava na montanha. Agora dava para ver os seus contornos, o enorme portão de madeira velha e os ferrolhos fortíssimos. O templo! Lá estava ele, duma imponência atroz, perdido nos escombros do tempo milenar. 

As portas abriram-se e céus, estava escuro! Tudo ali estava na maior escuridão. Irene dizia para olharmos e ver se reconhecíamos alguém. Eu achava que era impossível encontrar ali alguém, naquela imensa multidão. Era tão estranho! O que fazia toda aquela gente ali amontoada? Sentia-se a densa energia da multidão, mas ver, era quase impossível. Estava escuro. Tanto lá dentro, como cá fora. Mas de repente, há alguém que se eleva sobre o magote de gente e que sobe, não sei como, mas que se deixa ver. Era um homem e percebi que queria ser reconhecido. Surpresa das surpresas, seu António, o pai de Inajá. E então pensei: "será que ela também o está a ver?" Mas ele não falou, não disse nada e tinha um ar triste, desiludido. Seu António no templo budista, que estranho?! Não conseguia entender. E porque havia eu de o ver? Aí terminou a nossa meditação, retornando por um caminho muito bonito, ao som da voz de Irene.

De volta à realidade, comentámos, falámos, expusemos os nossos pontos de vistas e fiquei sabendo que a minha querida amiga Inajá não tinha estado lá, não tinha visto absolutamente nada, nem com todo o esforço que lhe tinha sido possível fazer. Para ela, aquele transe, por assim dizer, tinha caído no vazio. E foi aí que achei a resposta do encontro com seu António, pai dela que, àquela data, havia falecido muito recentemente. Mas só metade da resposta. Ele aparecera para mim, pelo facto de não ter conseguido conectar-se com a filha. Daí, o semblante triste que lhe tinha visto. A mensagem era para lhe dizer que ele estava lá. 

A outra metade da resposta vem agora. Quando lhe disse ter achado estranha a presença do pai no templo budista, porque ele, de todo, não era budista e isso eu sabia, ela respondeu que o pai falecera no hospital e a sua passagem tinha sido feita por um budista que se encontrava no hospital, a fim de auxiliar os que partiam, encaminhando-os por meio de um ritual budista, naturalmente. 

E tudo se explica.


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