Inajá, uma das tias avós por parte de pai, dos meus sobrinhos
netos - porque netos da minha irmã -, uma mulher sempre muito bem disposta e
pronta para tudo, estava doente.
Apanhada pela dengue, padecia de febres altas, dores musculares e tudo
o mais que o vírus provoca. Não tínhamos o hábito de nos falarmos todos os
dias, nem todas as semanas, era quando calhava, para saber das notícias de
ambas as partes, porque Brasil é Brasil e Portugal é Portugal. Dadas as
circunstâncias, as coisas alteraram-se. A cada dia que passava ela só piorava,
o que fez com que eu começasse a telefonar diariamente, ansiando por uma
alteração positiva no seu estado de saúde. Contudo, Inajá não melhorava e sempre
que falava com ela a sua voz era mais débil, sendo notório o seu acelerado
enfraquecimento, o que muito me inquietava, deixando-me terrivelmente
angustiada. Até ao dia em que, tendo desligado o telefone, depois de ter
acabado de ouvir a sua voz, percebi que a coisa estava mesmo feia, feia a sério
e alguma coisa teria que ser feita.
No caminho do trabalho para casa, enquanto conduzia no meio do
trânsito infernal, ia pensando que precisava de fazer alguma coisa para
reverter a situação. Depois daquele telefonema eu achava que no dia seguinte
ela já não estaria neste mundo, nem para me atender o telefone, nem para mais
nada. Aliás, ela própria tinha essa consciência, sendo tão honesta quanto
possível em relação ao facto de o seu corpo não estar a conseguir aguentar por
mais tempo, todo o sofrimento por que estava passando.
Mas não, isso era uma coisa que não podia acontecer. Fora de
questão. Eu queria Inajá viva e bem viva. Ela era amada por todos nós e não
podia morrer. Então percebi que tinha que me ligar às minhas fontes
espirituais, as mais fortes, mais poderosas, para aquelas situações de último
recurso, em que não há mais nada a fazer.
Chegou a hora de me deitar e sentada na minha cama, que é o sítio
e a hora em que estou preparada para estas situações, porque o dia acabou, tudo
terminou e o espírito pode entrar na outra dimensão, aquela onde me ligo da
forma mais verdadeira à fonte de todas as coisas, aquela que considero ser o
sobrenatural, focada na minha intenção, comecei por visualizar a minha amiga.
Através de um tubo de luz de cor indefinida fui visualizando, visualizando, à
medida que afastava todas as outras imagens que tentavam sobrepor-se. Fui
abandonando o meu ego, o meu eu material e navegando por aquele túnel de luz,
fui aproximando as nossas duas entidades: ela e eu. Quando nos aproximámos uma
da outra, estava pronta para “ver” a realidade do mundo dela, tendo-me excluído
completamente do meu. Sentada na minha cama, em posição de lótus, eu estava lá,
com todos os meus sentidos despertos. E assim pude vê-la, jogada numa cama de
hospital, cuja cabeceira estava bastante elevada.
Fiz a chamada do seu corpo energético e à medida que ia testando
as suas energias, ia percebendo a prostração e a dor porque estava passando.
Iluminei todo o quarto, pedi luz, mais luz para transmutar toda a energia
negativa que tomava conta dela, ordenando a retirada do mal. E de repente
aconteceu uma coisa fantástica. De dentro dela começaram a sair mosquitos,
muitos mosquitos, era um verdadeiro enxame. Uma nuvem negra que se libertava do
seu corpo e saía em direcção ao espaço. Era um nunca mais acabar de mosquitos.
Fiquei parada a olhar aquele espectáculo absolutamente transcendente. E quando
finalmente eles acabaram de sair, a minha amiga deu sinal de vida e começou a
virar o corpo lentamente na cama, ao mesmo tempo que entreabria os olhos.
Ordenei que viesse alguém vê-la. E logo apareceu um médico que chegou junto
dela, tendo começado a observá-la. Depois veio outro médico e mais outro. Veio
ainda um quarto e formaram uma equipa. Os médicos todos de volta dela
examinavam-na cuidadosamente enquanto falavam uns com os outros. Enviei luz
para toda a equipa médica, muita luz e fiquei observando.
Passado algum tempo, a equipa médica retirou-se e veio uma
enfermeira que trouxe um caldo para ela tomar. Inajá já se sentou e com a ajuda
da enfermeira conseguiu então tomar o caldo todo, o que foi uma grande vitória,
porque há alguns dias que não conseguia comer nem beber. Estava reagindo,
finalmente. A enfermeira foi-se embora e deixou-a deitada com a cabeceira um
pouco mais baixa. Agora eu sabia que ela estava bem. Já tinha uma cor e o
semblante estava aliviado.
Estava na hora de me desligar, de abandonar aquele plano e voltar
à minha realidade, à minha dimensão. Já no meu mundo, cansada pelo esforço de
visualização, deitei-me para dormir, com a convicção de que alguma coisa tinha
sido feita pelo bem dela.
No outro dia acordei, levantei-me e fui trabalhar. O dia foi
passando e quase à hora de me vir embora, precisava de lhe ligar para saber
notícias. Como estaria? Sentia um certo receio, mas precisava de ter coragem
para lhe falar. Não podia deixar de lhe telefonar, independentemente do receio
do que poderia vir do outro lado. Ela estava tão mal no dia anterior que a
dúvida era muito grande.
Peguei no telefone e comecei a marcar. A chamada estabeleceu-se e
alguém atendeu do outro lado. Todo o meu ser estremecia de ansiedade. Mas fosse
o que fosse tinha que saber. Aquele passo tinha que ser dado. E finalmente a
voz que acabava de ouvir era a voz de Inajá, fresca e sorridente, com a sua
gargalhada de sempre… eu nem queria acreditar. Ela tinha conseguido reagir e
ali estava ela inteira, em franca recuperação. O meu coração pairava de
alegria. Tudo tinha passado.
Ansiosa, perguntei como tinha sido aquela súbita reviravolta.
Contou então que no final do dia anterior tinha tido a visita de uma “equipa
médica” que tinham estado de volta dela muito tempo, fazendo não sei o quê e
que depois de se irem embora começou a sentir-se muito melhor. Depois veio uma
enfermeira com “alguma coisa para comer” e até conseguiu comer tudo. E a partir
daí começou a melhorar a olhos vistos.
Ela falava e eu revia nas palavras dela tudo o que tinha
presenciado enquanto estabelecia o meu plano de cura à distância. E tudo se
tinha passado exactamente como eu havia visto e no mesmo fuso horário, de
acordo com a hora indicada por ela mesma. Era uma coisa fantástica. Se há muita
coisa que não tem explicação, esta é uma delas.
Inajá estava bem e isso era tudo o que eu queria. O que eu fiz com
ela é uma coisa que não se aprende e que não tem preço. É intuitivo e o que
reverteu para ela reverteu para mim também. Foram apenas as forças do bem que
foram activadas. A vontade, o amor incondicional, a fé, essas foram as únicas
vitoriosas. E essas são as únicas coisas na vida que não se corrompem e não se
vendem por nada.
Viva a vida!
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