sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Inajá - 66






Inajá, uma das tias avós por parte de pai, dos meus sobrinhos netos - porque netos da minha irmã -, uma mulher sempre muito bem disposta e pronta para tudo, estava doente.


Apanhada pela dengue, padecia de febres altas, dores musculares e tudo o mais que o vírus provoca. Não tínhamos o hábito de nos falarmos todos os dias, nem todas as semanas, era quando calhava, para saber das notícias de ambas as partes, porque Brasil é Brasil e Portugal é Portugal. Dadas as circunstâncias, as coisas alteraram-se. A cada dia que passava ela só piorava, o que fez com que eu começasse a telefonar diariamente, ansiando por uma alteração positiva no seu estado de saúde. Contudo, Inajá não melhorava e sempre que falava com ela a sua voz era mais débil, sendo notório o seu acelerado enfraquecimento, o que muito me inquietava, deixando-me terrivelmente angustiada. Até ao dia em que, tendo desligado o telefone, depois de ter acabado de ouvir a sua voz, percebi que a coisa estava mesmo feia, feia a sério e alguma coisa teria que ser feita.

 

No caminho do trabalho para casa, enquanto conduzia no meio do trânsito infernal, ia pensando que precisava de fazer alguma coisa para reverter a situação. Depois daquele telefonema eu achava que no dia seguinte ela já não estaria neste mundo, nem para me atender o telefone, nem para mais nada. Aliás, ela própria tinha essa consciência, sendo tão honesta quanto possível em relação ao facto de o seu corpo não estar a conseguir aguentar por mais tempo, todo o sofrimento por que estava passando.

 

Mas não, isso era uma coisa que não podia acontecer. Fora de questão. Eu queria Inajá viva e bem viva. Ela era amada por todos nós e não podia morrer. Então percebi que tinha que me ligar às minhas fontes espirituais, as mais fortes, mais poderosas, para aquelas situações de último recurso, em que não há mais nada a fazer.

 

Chegou a hora de me deitar e sentada na minha cama, que é o sítio e a hora em que estou preparada para estas situações, porque o dia acabou, tudo terminou e o espírito pode entrar na outra dimensão, aquela onde me ligo da forma mais verdadeira à fonte de todas as coisas, aquela que considero ser o sobrenatural, focada na minha intenção, comecei por visualizar a minha amiga. Através de um tubo de luz de cor indefinida fui visualizando, visualizando, à medida que afastava todas as outras imagens que tentavam sobrepor-se. Fui abandonando o meu ego, o meu eu material e navegando por aquele túnel de luz, fui aproximando as nossas duas entidades: ela e eu. Quando nos aproximámos uma da outra, estava pronta para “ver” a realidade do mundo dela, tendo-me excluído completamente do meu. Sentada na minha cama, em posição de lótus, eu estava lá, com todos os meus sentidos despertos. E assim pude vê-la, jogada numa cama de hospital, cuja cabeceira estava bastante elevada.

 

Fiz a chamada do seu corpo energético e à medida que ia testando as suas energias, ia percebendo a prostração e a dor porque estava passando. Iluminei todo o quarto, pedi luz, mais luz para transmutar toda a energia negativa que tomava conta dela, ordenando a retirada do mal. E de repente aconteceu uma coisa fantástica. De dentro dela começaram a sair mosquitos, muitos mosquitos, era um verdadeiro enxame. Uma nuvem negra que se libertava do seu corpo e saía em direcção ao espaço. Era um nunca mais acabar de mosquitos. Fiquei parada a olhar aquele espectáculo absolutamente transcendente. E quando finalmente eles acabaram de sair, a minha amiga deu sinal de vida e começou a virar o corpo lentamente na cama, ao mesmo tempo que entreabria os olhos. Ordenei que viesse alguém vê-la. E logo apareceu um médico que chegou junto dela, tendo começado a observá-la. Depois veio outro médico e mais outro. Veio ainda um quarto e formaram uma equipa. Os médicos todos de volta dela examinavam-na cuidadosamente enquanto falavam uns com os outros. Enviei luz para toda a equipa médica, muita luz e fiquei observando.

 

Passado algum tempo, a equipa médica retirou-se e veio uma enfermeira que trouxe um caldo para ela tomar. Inajá já se sentou e com a ajuda da enfermeira conseguiu então tomar o caldo todo, o que foi uma grande vitória, porque há alguns dias que não conseguia comer nem beber. Estava reagindo, finalmente. A enfermeira foi-se embora e deixou-a deitada com a cabeceira um pouco mais baixa. Agora eu sabia que ela estava bem. Já tinha uma cor e o semblante estava aliviado.

 

Estava na hora de me desligar, de abandonar aquele plano e voltar à minha realidade, à minha dimensão. Já no meu mundo, cansada pelo esforço de visualização, deitei-me para dormir, com a convicção de que alguma coisa tinha sido feita pelo bem dela.

 

No outro dia acordei, levantei-me e fui trabalhar. O dia foi passando e quase à hora de me vir embora, precisava de lhe ligar para saber notícias. Como estaria? Sentia um certo receio, mas precisava de ter coragem para lhe falar. Não podia deixar de lhe telefonar, independentemente do receio do que poderia vir do outro lado. Ela estava tão mal no dia anterior que a dúvida era muito grande.

 

Peguei no telefone e comecei a marcar. A chamada estabeleceu-se e alguém atendeu do outro lado. Todo o meu ser estremecia de ansiedade. Mas fosse o que fosse tinha que saber. Aquele passo tinha que ser dado. E finalmente a voz que acabava de ouvir era a voz de Inajá, fresca e sorridente, com a sua gargalhada de sempre… eu nem queria acreditar. Ela tinha conseguido reagir e ali estava ela inteira, em franca recuperação. O meu coração pairava de alegria. Tudo tinha passado.

 

Ansiosa, perguntei como tinha sido aquela súbita reviravolta. Contou então que no final do dia anterior tinha tido a visita de uma “equipa médica” que tinham estado de volta dela muito tempo, fazendo não sei o quê e que depois de se irem embora começou a sentir-se muito melhor. Depois veio uma enfermeira com “alguma coisa para comer” e até conseguiu comer tudo. E a partir daí começou a melhorar a olhos vistos.

 

Ela falava e eu revia nas palavras dela tudo o que tinha presenciado enquanto estabelecia o meu plano de cura à distância. E tudo se tinha passado exactamente como eu havia visto e no mesmo fuso horário, de acordo com a hora indicada por ela mesma. Era uma coisa fantástica. Se há muita coisa que não tem explicação, esta é uma delas.

 

Inajá estava bem e isso era tudo o que eu queria. O que eu fiz com ela é uma coisa que não se aprende e que não tem preço. É intuitivo e o que reverteu para ela reverteu para mim também. Foram apenas as forças do bem que foram activadas. A vontade, o amor incondicional, a fé, essas foram as únicas vitoriosas. E essas são as únicas coisas na vida que não se corrompem e não se vendem por nada.

 

Viva a vida!

 

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