Passei o inverno correndo as lojas vezes sem conta, na expectativa de encontrar um casaco em pelo sintético. Mas não era um casaco qualquer. Tinha que ser um casaco comprido, em pelo sintético, sim; leve, fofo e com padrão de bicho: leopardo, tigre, cobra… qualquer coisa assim, que para mim não fazia diferença. Só precisava de ser bicho.
Em vão, porque todos os que encontrei não preenchiam os requisitos. E se bem que eu o tivesse deixado de procurar, no fundo continuava a querê-lo, só não sabia como. Até já me tinha entretido a ver na internet, mas nada se parecia com o que eu queria.
Um dia à noite, sentada no meu sofá da sala a ver o telejornal na televisão, passou a notícia de um jogador de futebol qualquer, em que aparece uma foto dele com a namorada, uma jovem linda, top model, de mãos dadas com ele e com um casaco comprido… mas não era um casaco qualquer. Olhando com mais atenção, percebi que era o que eu queria, aquele mesmo, portanto, ele existia.
Incrível! Eu tinha finalmente achado o meu casaco de “sonho”,
porque logo comecei a fazer contas e a ficha caiu. Modelo, devia ter ganho o
casaco num desfile qualquer e deveria ser de uma colecção de algum estilista, o
que me fez pensar que barato não poderia ser. Mas era aquele o casaco certo,
sem dúvida alguma. Enfim, mesmo que o encontrasse, custaria um balúrdio. Não
valia a pena pensar mais no assunto. Caso encerrado.
O tempo foi passando e um dia acordei muito cedo, mal raiava,
ainda estava escuro e o sol ainda nem sequer estava no horizonte, apenas uma
luz muito ténue anunciando a madrugada de um final de Janeiro. Acordei e o
primeiro pensamento consciente que tive foi a certeza de que não tinha mais
sono. Lembro-me perfeitamente de ter pensado, aflita, que o sono tinha terminado
ali e a preocupação com o que eu iria fazer até serem horas decentes para me
levantar. E como durmo com as persianas abertas deixando entrar a luz, olhei
para o relógio de parede e vi que eram, nada mais nada menos que seis horas da
manhã.
Por que raio não teria mais sono? Aquilo não era normal. Parecia
que ao meu ouvido algo sussurrava, dizendo-me para acordar, porque estava na
hora, mas para quê? Não havia nada para fazer, pelo que, aparentemente isto não
se podia explicar. O certo é que eu sabia que não tinha acordado por nada, isto
é, eu tinha acordado por uma razão especial, ainda que racionalmente isto não
fizesse sentido. Acontece que há muito que aprendi que há coisas que não se
explicam. Assim, não tive outro remédio se não aceitar as coisas como elas
eram, como se apresentavam e esperar para ver.
Chateada, levantei-me e fui buscar o tablete para me entreter e
ajudar a passar o tempo até o dia amanhecer. De volta ao conforto da cama,
peguei no tablet, e não tendo emails para ver, sigo para o safari. Veio-me
imediatamente à memória a busca do “casaco comprido de pelo sintético para
senhora” porque, na verdade, eu tinha deixado de pensar nele apenas em modo
consciente, porque inconscientemente ele continuava na minha cabeça. E só para
me chatear ainda mais porque, primeiro: eu já tinha feito isto e nada; segundo:
estava muito chateada por estar acordada sem sono àquela hora, mas como não
tinha mais o que fazer, voltei ao assunto e então, um “site” novo apareceu e
mais casacos começaram a passar.
Começo a ver, a ver e de repente… lá estava ele. Tal qual, o
casaco de pelo da jovem modelo da televisão, que tanto me tinha encantado.
Incrível! Parecia que tinha sido posto ali propositadamente para mim, só podia
ser. Que coisa incrível!
Comecei a ver os pormenores, tentando encontrar algo de errado,
algo que me dissesse que não, que ainda não era aquele, nem que fosse para não
ficar com pena de não o ter. Mas não, estava tudo certo. Era aquilo que eu
queria. Comecei a ver o preço e então, com grande espanto percebi que era um
preço bastante acessível. Que raio! Continuo a ver mais coisas sobre o casaco e
dizia “disponível apenas por dois dias”. Uau! Vejo os tamanhos e havia o meu
tamanho em stock. Vejo o preço em euros, quarenta e quatro, ponto, qualquer
coisa. Não chegava sequer a quarenta e cinco euros. E os portes? O casaco vinha
da China, é certo, mas não havia portes a pagar para toda a Europa. Eu nem
queria acreditar!...
Ah, mas era da Internet e eu tinha medo, mas também, por aquele
preço, não era tanta a desgraça, no caso de alguma coisa não dar certo. Começo
a ver as opiniões das pessoas que já o tinham adquirido e as opiniões eram
todas muito boas: confortável, preço acessível, etc. Porque não? Mais algumas
informações e o casaco era um artigo de há três anos atrás. Queria lá saber, se
era aquilo mesmo que eu queria!? Esperei que o dia amanhecesse e após o almoço,
contactei a minha nora no Estados Unidos para lhe perguntar acerca do site.
Respondeu-me que era um site muito conhecido de roupa on line e que não haveria
problema.
Estava resolvido. Peguei no cartão de crédito e fiz a encomenda
que, segundo eles, demoraria cerca de trinta a quarenta dias. Agora era
esperar. Talvez ele não viesse. Talvez viesse mas não correspondesse ao que as
fotos mostravam. Talvez… talvez… talvez… era só esperar para ver. Estava feito.
Passaram-se três semanas, até que um dia, ao abrir a minha caixa
de correio, lá estava um papel dos CTT anunciando uma encomenda proveniente da
China. O meu casaco de pelo sintético de leopardo! Eu não queria acreditar.
Agora era verdade. E como seria ele?
Fui ao correio, levantei a encomenda que mais parecia uma
almofada, entrei no carro e disparei rumo a casa. Entrei rapidamente e rasguei
o plástico e o papel. Lá estava ele. Que lindo, o pelo, imitação de leopardo!
De uma assentada o casaco saiu todo do pacote. Era casaco que nunca mais
acabava, mais parecia uma manta. Vesti e olhei-me no espelho. Claro que eu não
era a garota top model, mas o importante é que o casaco, o casaco sim, era o
tal, tal e qual eu tinha visto, tal e qual eu queria e agora sabia porque tinha
acordado naquele dia às seis horas da manhã.
Bingo!
Luísa és uma pessoa linda e escreves maravilhosamente. Bjs
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