sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

A vida espiritual (cont.) - 96

 

Almancil, Março de 2001, meditação guiada (II). 

Seguida da mandala, a meditação do nível II. Felicidade abre um livro. Todos à sua volta sentados em posição de lótus, preparados para ouvir e seguir a voz da guia espiritual. 

É um campo muito verde, cheio de árvores. Cada um deverá escolher uma árvore e eu já estou enraizada. Que sensação boa, cheia de braços e ramificações, olhando para o alto, as minhas folhas balançam ao sabor do vento, num lindo dia duma Primavera florida e orgulhosa dos seus frutos desabrochando de aspecto delicioso. Eu e a árvore numa perfeita sintonia, com a luz trespassando os ramos, entrando por todos os lados. A guia pede para prestarmos atenção a um raio de sol que entra pelo centro da copa e percorre todo o tronco da árvore. O tronco da árvore é o nosso próprio tronco. Algumas raízes estendem-se, outras descem ao fundo da terra. A minha consciência desce com elas e de repente está muito escuro onde estou, algures nas profundezas no centro da terra. E eu não gosto do escuro. Porém, a guia diz-nos que lá em baixo vamos encontrar um lugar cheio de luz. A mesma luz que no início me trespassou, entrando pela copa, percorreu o meu tronco e está comigo no centro da terra. É um lugar muito bonito. A luz que brota da escuridão revela-nos sempre lugares de uma beleza inaudita. Agora estou bem. Há um ribeiro e a guia manda-nos mergulhar as raízes nessa água cristalina que corre cantando, revelando toda a pureza da sua energia. É um quadro muito prazeiroso. Quem o conseguiu atingir, testemunhá-lo-á. Para mim é muito fácil entrar em sintonia com o guia. A minha capacidade receptiva é muito boa, o que significa que o meu chacra está muito aberto. Então, Felicidade manda-nos seguir por onde a luz nos leva. É uma espécie de gruta. À medida que vamos andando, a gruta vai-se abrindo, o sol iluminando mais o seu interior e a guia diz que vamos sair por um descampado, do qual eu já havia avistado um jardim. Em volta desse jardim há um campo de trigo ensolarado, por onde caminhamos agora, tendo no meio uma espiral de luz dourada. O meu corpo funde-se com essa luz por alguns instantes. Espero que os outros o consigam porque é uma sensação deliciosa. Continuando, caminhamos por esse campo, em corpo de luz durante algum tempo, contemplando toda a natureza, recebendo todos os benefícios daquele lugar radioso de luz pura, de cheiros indecifráveis, passando por entre espigas de trigo louro banhado de luz, de toque suave, até chegarmos a um lago. No meio desse lago avisto uma fonte que brota no seu centro e num impulso corro ao seu encontro. Felicidade pede-nos para entrarmos no lago. Já lá estou, no centro, onde agora me vejo como um cristal, estando o meu corpo de luz apoiado na fonte que brota do lago. Sinto-me leve, leve, dançando em torno do meu próprio eixo imaginário, tal qual uma estátua, mas uma estátua transparente, que se move num lento movimento e de repente apercebo-me de que não estou sozinha. A guia diz-nos que se aproxima o nosso anjo. Ei-lo na minha frente. Na meditação do primeiro nível eu nem o queria receber. Era um estranho. Agora eu e ele estamos felizes, brincando. Ele está feliz, toca-me levemente com as pontas dos dedos erguendo-me no alto e eu giro, giro, em torno de mim mesma, plena de bem-estar, cheia de luz e graça e ele orgulhoso da sua pupila. Agora parece que toda a vida estivemos ligados e que nunca fomos estranhos um para o outro. Agora o reconheço perfeitamente. Isto significa que houve um grande progresso na minha evolução espiritual. Ele e eu estamos felizes. E é agora que sucede algo extraordinário. Algo que em nada tem que ver com o caminho que a guia nos aponta. O anjo, na minha frente, aponta a sua mão direita para o lado, a direita dele. Tem o seu braço direito esticado, apontando para a direita com a mão e o dedo indicador esticado. Presumo que ele quer que eu olhe naquela direcção que é a minha esquerda. Eu paro de girar, fico de frente para ele e olho na direcção que ele aponta, a minha esquerda. Não me apercebo logo do que se trata. Mas olhando mais atentamente, começo a avistar ao longe, um lugar escuro. Continuo a olhar e então vejo alguém que, andando apressado e compondo a lapela do casaco do fato que tem vestido, atravessa o escuro vindo na minha direcção. Olhando-o mais fixamente acabo por reconhecê-lo. Vem apressado, quase correndo e por cima dele há uma faixa de luz, horizontal, que deita chuva. É uma chuva de prata. Soube mais tarde que significa, para quem a recebe, limpeza espiritual. Toda igual, certinha, caindo abundantemente sobre ele. E ele apressava o passo com medo de chegar “tarde de mais”. Mentalmente pergunto ao anjo o que faria ele ali, ao que o anjo, mentalmente, responde que no momento ele é a minha outra “metade”, ou seja, a minha energia complementar. Fico parada, sem saber o que pensar e o que fazer, mas querendo continuar no caminho da guia. Então o anjo detém-me, continuando na minha frente e como que respondendo à minha pergunta, ele deixa cair, depositando nas minhas mãos, um par de alianças grossas de ouro maciço, lindas, elas estão agora depositadas nas minhas mãos. Olho-as, um pouco espantada, admirando-as, enormes e reluzentes, perguntando-me, o que faço com elas, para que me servem? O anjo fecha as minhas mãos, transmitindo-me que elas são minhas… simbolizando o meu livre arbítrio(?!)… E tudo não tem nada a ver com a meditação guiada. 

Quero sair dali. Ele deixa-me passar. Ouço a voz da guia dizendo para continuarmos o caminho. Mas eu já tinha continuado até ao ponto onde havia um túnel por onde entrámos. Era um pouco escuro, mas logo encontrei a luz e a saída que dava para uma pequena ponte cheia de roseiras e outras flores, deixando o ar bem perfumado. Talvez seja a resposta ao direito da minha escolha, ao direito ao livre arbítrio, à liberdade. 

Finalmente, somos conduzidos a um jardim, onde nos sentamos, descontraímos e de novo voltamos ao nosso mundo material, com todo o eu peso e as suas consequências. 

E debaixo deste delírio muitas respostas foram dadas.

 


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