segunda-feira, 2 de junho de 2025

O retrato - 123

 

Em casa dos meus tios havia um quadro na parede, que era o retrato de um homem, que despertava de mais a minha atenção de criança. Não tinha nada de especial, mas estava colocado no hall, estrategicamente, bem à entrada da porta e era o único retrato naquela casa. Parecia dar as boas vindas a quem chegava. Mas parecia também como que uma autoridade.

Naquele tempo eu era a única, porque fui a primeira da minha geração. A primeira filha, a primeira sobrinha, a primeira neta, por isso, costumo dizer que vim para abrir as portas aos que vieram depois de mim e se para mim tudo foi complicado, já para os outros, foi tudo muito fácil. Não tenho dúvidas de que foi minha missão, de facto, abrir as portas. E pronto, faz parte da vida, faz parte do percurso de cada um de nós. Cada um veio para o que veio. A cada um cabe a sua parte.

Também por isso, fui a primeira a pisar aquela casa, porque todos nós vivíamos em Setúbal, com os meus avós. Mesmo depois do meu avô falecer, continuámos em casa da minha avó. Só um, o quarto, segundo filho dos meus tios, foi criado em Lisboa, em casa dos pais. E talvez por essa razão, ele seja completamente diferente dos outros. Foi criado pela empregada e pela avó paterna, porque os pais trabalhavam e estavam todo o dia fora. Foi lá que cresceu e ficou a vida toda, até hoje.

Ir a Lisboa, para casa deles, não era nada fácil para mim. Um terceiro andar, bem no centro da cidade. Não é que eu não gostasse da casa, mas não tinha com que me entreter. A casa dos meus avós, em Setúbal, era uma casa antiga, mas era um rés-do-chão, pelo que o acesso à rua era tranquilo. Quando estava chateada, podia ir para a rua brincar. Em Lisboa, isso não podia acontecer, de jeito nenhum. Mesmo que fosse, não estaria lá ninguém para brincar comigo. A única coisa a fazer era ficar quieta, vendo a empregada fazer todo o trabalho de casa, o que era bastante monótono, sem o menor interesse.

Naquela altura também ainda não havia televisão, pelo que a minha riquíssima infância de África, ficara completamente para trás, deixando-me morrer de tédio em Lisboa, onde eu nem brinquedos tinha para brincar. Aquela casa não era uma casa para acolher crianças. Era uma casa de adultos para adultos. As crianças, praticamente, não tinham lugar. Era muito difícil.

Então, eu passava o tempo observando os bibelots, tudo o que estava nas paredes, os móveis e na falta do que me entreter, enrolava-me no chão, acabando por adormecer, porque realmente não sabia o que fazer. O meu refúgio era dormir. Era a minha única defesa.  E o pior é que ninguém me compreendia nunca. Achavam que era eu que era desadequada, sem princípios, etc. Outros tempos.

A casa era muito cheia de tudo, até hoje, porque foi sempre piorando. Ao longo dos anos, e já lá vai mais de meio século, sempre conheci os mesmos móveis, as mesmas coisas nas paredes, e tudo só foi aumentando. Nada ali se põe para fora. A vida foi acontecendo naturalmente. Uns morreram, outros nasceram. Os meus tios tiveram três filhos, dois rapazes e uma rapariga, a mais velha dos três irmãos, mas só um nasceu, cresceu e por lá ficou sempre. Os outros, tal como eu e a minha irmã, era só de passagem.

O J. A., o meu primo que ficou sempre com os pais, teve uma vida completamente diferente dos outros. Os meus tios estavam a semana inteira em Lisboa e só ao fim-de-semana iam a Setúbal. E a assistência que davam às crianças era pouquíssima ou nenhuma. Ao domingo íamos todos à missa. Se fosse Verão, íamos para a praia, mas eles não se preocupavam em nada connosco. O fim-de-semana em Setúbal era apenas e somente para descansarem. Quem quisesse que trabalhasse. E eu, a mais velha, é que era responsável por todos os outros. O que quer que fizessem, era minha responsabilidade, apenas porque era a mais velha. Os meus tios deitavam-se na areia a apanhar sol e desligavam-se de tudo. Até em casa, qualquer coisa que corresse mal, era culpa minha. Eu não achava aquilo certo, mas era o que era.

A minha infância foi extremamente rica, porque boa demais para ser verdade, e talvez por isso, tenha acabado tão cedo, mudando a minha vida do dia para a noite. Aquelas idas a Lisboa eram sempre uma grande chatice. Mas os meus pais ainda estavam em África e eu não tinha outro remédio.

Hoje, acho perfeitamente natural que eu me deixasse adormecer com tanta facilidade, porque não tinha com que me distrair. Aquela casa era um castigo para mim. Nessa perspectiva, entendo também o facto de o tal retrato exercer sobre mim tanta atracção e algum mistério. Mas não era só isso. Eu sabia que aquele personagem não estava entre nós. Já tinha morrido havia muito tempo. Então porque havia de estar ali, como que a dizer, eu sou o dono desta casa? Eu sou a “pessoa” mais importante deste lar. Aqui mando eu. Aqui eu imponho-me a tudo e todos!?

Era exactamente isto que ele me dizia. Era isto que chegava até mim, sempre que me detinha, especada em frente do quadro. Até que um dia, ao ver-me ali tão concentrada e talvez já o tivesse visto outras vezes, a minha tia me disse em voz muito baixa, que ele andava por ali, isto é, que o via circular pela casa. De certo modo, apesar de ser estranho, não deixava de vir ao encontro das minhas conjecturas. Estava no seguimento dos meus pensamentos. Todavia e, apesar de eu ser tão pequena, não deixava de ser estranho ela me falar assim, dizendo aquelas coisas que parecia que não tinham cabimento.

Ao longo do tempo, a casa foi-se transformando num verdadeiro armazém, porque as coisas continuaram entrando sem que nada saísse. Quando os meus tios morreram, achei que o meu primo daria um rumo satisfatório àquilo. Mas aconteceu precisamente o contrário. Todos nós fizemos um esforço para tornar a casa habitável, com uma certa qualidade de vida, coisa que ele não deixou, porque é um acumulador compulsivo e não consegue pôr nada fora, nem mesmo o lixo.

Mais de cinquenta anos se passaram e tudo aconteceu. O meu querido primo continua lá, porque nunca viveu noutro sítio. A juntar a tudo o mais que veio, porque as paredes que antigamente tinham apenas alguns quadros, hoje em dia têm milhentos deles, que sobem pela parede até ao tecto, de uma maneira desordenada e sem explicação. Quando raramente lá entro, porque todos nós nos sentimos mal no meio de toda aquela desordem, o retrato continua lá todos estes anos. Intocável! É mesmo incrível.

Porém, se antes, naquela altura em que eu era apenas uma criancinha de cinco anos, não fazia qualquer sentido, embora a minha tia dissesse que ele andava por ali, hoje, ele faz todo o sentido, sim. Há coisas estranhas. Temos que esperar o tempo necessário para compreendê-las. Foi o caso. É que hoje eu sei que, aquele retrato que é do avô paterno dos meus primos, e que foi ali posto “por acaso”, não, não foi por acaso. O acaso é um grande enigma. Já não posso dizer que foi o acaso que me trouxe a resposta. Claro que não. A única coisa que posso dizer é que aquele retrato é, nem mais menos, o avô paterno dos meus primos, sim, que voltou a esta vida no seu próprio neto, o meu primo J. A., o único que sempre viveu naquela casa. 

Da mesma maneira que o meu primo mais novo é a reencarnação do nosso avô materno, o mais velho é a reencarnação do avô paterno deles, não meu, porque é por parte do pai. E tudo se encaixa. Por isso o “acaso” lá o colocou. Na verdade, mesmo antes de vir a esta vida, já lá estava em espírito. A minha tia, de facto, já tinha essa percepção, ao dizer que o via por ali. Só não sabia que ele voltaria de verdade, como um filho seu. Mas, certamente, foi ela que, inconscientemente, e por um “acaso” ou não, quis lá o tão especial retrato. 

segunda-feira, 26 de maio de 2025

D. Velhota - 122


Um lindo dia de Primavera, que se fazia necessário aproveitar da melhor forma possível. À mesa da esplanada, sentada a saborear as vistas e a companhia das duas vizinhas e amigas, logo a seguir ao almoço, limitava-me ao convívio, já que não bebo café como elas, nem outras coisas. Mas é bom estar em grupo, jogando conversa fora. Faz parte da vida.

Ali e naquele momento, o meu eu mais profundo ou o meu eu interior, disparou em direcção à senhora que acabava de sair, invadindo o meu espírito, com uma série interminável de perguntas, que eu não sabia porquê nem para quê, apenas porque uma curiosidade mais forte, sentia essa inconsciente necessidade.

Olhei a senhora saindo, ao mesmo tempo que as perguntas todas e mais algumas dispararam. Por exemplo, quem será esta pobre criatura, com tanta idade, como é ou terá sido a sua vida, como viverá ela, sozinha ou acompanhada, etc… etc… etc…

Perguntei a mim própria se tinha alguma necessidade daquilo e a resposta foi redondamente não. Mas é uma curiosidade que está para além das minhas fronteiras e ultrapassa o meu entendimento. Quantas vezes passo por um sítio qualquer, olho para um prédio, uma casa e começo a inquirir o meu eu sobre como será o interior daquele pequeno mundo? Sobre como serão as pessoas que lá vivem, felizes ou infelizes, novos ou velhos, sempre sem que eu conscientemente precise daquelas respostas. Mas o inconsciente acaba por se sobrepor. E não é por uma questão de bisbilhotice. É outra coisa muito diferente. É como que uma intuição que começa a trabalhar desordenadamente, acabando por ter que me controlar, porque são pensamentos de que, sinceramente, não preciso.

Naquele momento, aproveitando gostosamente a companhia e o sol que nos aquecia os pés, ao ver a senhora sair, o meu inconsciente projectou-se na figura que acabava de ver, indo ao encontro do meu olhar, para, num instante sem tamanho possível, desenrolar todo um incontrolável questionário que não tinha o menor interesse, mas que foi maior do que eu, até ao momento em que disse a mim mesma para parar com aquela “febre”.

A senhora deu meias dúzia de passadas e estranhamente, estranhamente… ao passar pela nossa mesa, olhou-nos sorrindo, parou e começou a falar. Então, pensei que talvez ela morasse por ali, embora nunca antes a tivesse visto, e talvez fosse conhecida de alguma delas. Porque não? Continuou sorrindo, um sorriso estranho porque estava completamente desdentada, sem um único dente, a boca encovada com o queixe saliente e aí começou uma conversa que nunca mais acabava.

Demos a atenção possível à senhora velhota, que desfilava toda a sua vida com pormenores  minuciosos, falando descontroladamente, sem lhe termos feito uma única pergunta. Nenhuma de nós abriu a boca para se dirigir a ela com o que quer que fosse, apenas a preocupação de não a interrompermos e deixarmos falar, pois parecia uma necessidade premente.

Ali permaneceu durante vinte minutos em que não parou de falar. O mais interessante é que eu pensei que elas a conheciam e cada uma delas pensou o mesmo, que as outras a conheciam. Portanto, nenhuma de nós a conhecia, pelo que ficámos as três um pouco baralhadas, olhando umas para as outras sem resposta plausível.

Ao fim de todo aquele tempo em que ficámos impedidas da conversar entre nós, pela atenção dispensada à senhora, percebemos pelos olhares que estávamos cansadas de a ouvir, pelo que a Rute se levantou, interrompendo por alguns segundos o discurso da senhora velhota, para dizer que estava na hora de ir trabalhar, sendo que nós aproveitámos muito bem a deixa e também nos justificámos dizendo que também tínhamos que ir às nossas vidas.

A senhora velhota terminou a conversa e para grande alívio das três, retomou o seu caminho. A minha cabeça estava cheia e assoberbada de tanta história que não interessava. Todas fomos inesperadamente bombardeadas sem grande justificação e posso dizer que estávamos exaustas de a ouvir.

Perguntávamos umas às outras, mas quem é a senhora e surpreendentemente ninguém tinha resposta, o que nos deixou sem palavras. Mas eu sabia que a origem daquele mistério estava na minha cabeça. Quando ela saiu do restaurante as perguntas assolaram a minha mente e dona velhota não fez se não responder, ainda que inconscientemente, ao meu estranho interrogatório, proveniente da comunicação das mentes.

O nosso poder telepático é muito mais forte e conecta-se muito mais do que se pode imaginar. Nem consigo entender como é que há pessoas que sistematicamente negam tudo isto. A realidade é muito mais concreta do que abstrata. O problema é que vivemos meio adormecidos e embrenhados em coisas que nos desviam da vida na sua plenitude.

 


domingo, 25 de maio de 2025

Um pedido de socorro - 121


Há anos atrás, numa outra vida, ainda que bem próxima, quando aos fins de semana o Álvaro e eu íamos para a casa de campo em Alcobaça, aconteceu uma coisa incrível. Para quem é muito relacionado com a natureza e especialmente com os animais do campo, pode até nem ser, mas para mim que, forçosamente sou citadina, onde a maior parte do tempo fui criada, cresci e vivi, este episódio é algo revelador. 

As fábulas contam as histórias “no tempo em que os animais falavam”. Neste episódio fiquei a saber que os animais falam de verdade e da forma mais inteligente possível. E não foi só no passado. É assim.

Chegámos a Covões, Alcobaça, ao final da tarde de uma sexta-feira. Correu tudo normalmente como era costume. Acomodámo-nos, jantámos, vimos um pouco de televisão e depois fomos dormir. O som do campo… ah, que delícia!... Eu chegava lá e esvaziava a minha cabeça. Era um sossego absoluto. Às vezes, ouviam-se as gargalhadas ou as vozes das crianças de uma moradia próxima, que alegremente quebravam o silêncio, mas tirando isso, nada mais se ouvia. A estrada passava longe e não havia ruídos de espécie alguma. A moradia do lado era de um casal de emigrantes que raramente lá iam, pelo que os patos da quinta mais próxima se encarregavam de se banhar e conspurcar por completo a piscina. E tirando a passarada, que era muito bem-vinda, ouviam-se uns cães de uma outra quinta próxima. Nada mais. Era um sossego abençoado por Deus e que tanto bem nos fazia. 

Ali, perdíamo-nos no silêncio e no silêncio encontrávamos tudo o que precisávamos para um verdadeiro descanso. Mas naquela sexta-feira, já estávamos na cama, quando me apercebi de que havia uma ovelha a dar sinal de vida porque, de vez em quando, fazia méheheheeee… e, então, percebi que já a tinha ouvido antes de me deitar. Não havia nada de mais nisso. Estávamos no campo. Mas eu nunca tinha ouvido anteriormente. Talvez fosse algum animal recém-chegado àquelas paragens. 

No outro dia de manhã quando acordei, o Álvaro já andava na vida dele, como era costume. Tratava do jardim, limpava a piscina e até o pequeno almoço preparava, para tomarmos juntos, quando eu acordasse. E lá estava de novo a ovelha… méheheheeeee… que coisa estranha. De repente, achei que a tinha ouvido até durante a noite, no meu sono profundo, se é que era possível. Talvez fosse apenas impressão minha, já que a tinha ouvido mesmo antes de adormecer. Continuava a ser normal uma ovelha a fazer méheheheeee, mas… mas a minha intuição já estava alerta, achando que aquilo podia querer dizer alguma coisa mais. Na verdade, não devia ser nada. Estava tudo bem. 

O sábado passou-se, conosco nas nossas lidas de fim-de-semana, com algumas saídas e descanso à mistura. Como era bom o “dolce far niento” do campo… oh vida boa! Só que, no meio de tudo isto, não deixávamos de ouvir a ovelha. Com efeito, era muito insistente. Ela sobrepunha-se ao nosso silêncio e interrompia todos os nossos momentos, independentemente do que estivéssemos a fazer ou a pensar. 

Chegou novamente a noite, sendo que, na verdade, aquilo já me estava a incomodar, porque eu tinha a sensação de que ela estava a chamar. Quem? Porquê? E não havia ninguém por perto, os donos, por exemplo? Que estranho!? A minha cabeça começava a ser invadida por uma série de perguntas sem fim. Comecei a falar no assunto e o Álvaro pôs-se à escuta para de seguida dar uma espreitadela, enquanto acabava de dar as últimas fumaças no cigarro da noite, dando uma volta no exterior da casa, para ver se captava alguma coisa mais. 

No domingo, a nossa rotina repete-se. Mas a nossa ovelha também. Volta e meia, lá vinha o méheheheeeeee. Até comentei que ela não se cansava e, provavelmente, já antes da nossa chegada, estaria a fazer méheheheeee. Agora, o Álvaro também já começava a achar aquilo estranho. Mas não era nada conosco!? O problema é que, para mim, aquilo não era um simples méheheheeeee, era muito mais do que isso. O que a minha intuição dizia é que era um verdadeiro pedido de socorro. Mas também poderia ser exagero meu!? 

Ao fim da tarde, começámos a preparar-nos para bater em retirada. Fechou-se a casa e entrámos no carro. Abriu-se o portão e entrámos no caminho de terra batida, que dava acesso à estrada de Covões, para apanhar a estrada principal. E já quase a chegar à estrada, a ovelha chama novamente:  méheheheeeeee. Olhámos na direcção do méh e parámos o carro. Havia aí uma quintinha, onde nunca estava ninguém, porque os donos só lá iam muito de vez em quando. Saímos do carro e acercámo-nos do muro que era relativamente baixo. 

Um espectáculo impressionante. As ovelhas estavam todas juntas. Uma delas permanecia de pé, com a cabeça enfiada da rede da vedação, sem conseguir tirá-la de lá. Enfiou-a, mas não saía. Há quanto tempo estaria naquela situação aflitiva? Nós tínhamos chegado na sexta-feira e ela já estava a chamar, portanto não fazíamos ideia de há quanto tempo estaria ali presa. Mas o mais interessante é que, como estava de pé havia muito tempo e porque já devia estar bastante cansada, além de que não comia nem bebia, porque a cabeça estava do lado de fora da rede, uma outra estava agachada no chão, no dorso da qual ela se apoiava, tentando assim resistir ao cansaço. As restantes estavam em volta. 

O Álvaro trepou o muro, saltou para dentro e tirou a cabeça da ovelha, fazendo tudo voltar à normalidade. Entrámos no carro e prosseguimos a nossa viagem até Lisboa, com uma enorme sensação de alívio. Mas aquela cena para mim foi indescritível. Quem ensinou à ovelha a sentar-se no chão, a fim de que a outra se pudesse apoiar? Quem ensinou aos animais uma palavra que às vezes os homens esquecem e se chama “solidariedade”? 

Bom, a palavra, eu não sei se eles conhecem, mas o sentimento sim. Estava lá, expresso na atitude de todos sem excepção. Aliás, não podia estar mais expresso do que estava. Eu estava absolutamente fascinada e ma-ra-vi-lha-da. 

Então os animais falam ou não? E precisam? Há uma comunicação inteligente que nos escapa e, na verdade, não necessitam nem de falar. Tudo o que sei, que já aprendi ao longo da minha vida sobre telepatia, aplica-se também aos animais, sem dúvida alguma. Eu tinha razão em achar que o méhehehe dela estava codificado, querendo dizer alguma coisa mais. Pelo contrário, era bem anormal. O que se ouvia era méheheheh, mas ela, coitada, gritava “socorro”, tirem-me daqui! 

O tempo em que os animais falavam é hoje e sempre. Eles, entre si, não precisam da linguagem falada. Nós humanos é que precisamos, para nos entendermos e ainda assim, quantas vezes falhamos! Ao longo dos tempos, no nosso processo de evolução, fomos perdendo as faculdades maiores e inventando outras coisas em modo de substituição. Os animais mantêm-se fiéis à sua linha evolutiva. Não é que falar seja deitar a baixo o homem, que isso não teria o menor sentido. Mas, na verdade, ganhamos umas coisas para perdermos outras que são básicas. Quantas vezes uma pessoa fala e nós percebemos que o que está a dizer é pura mentira?! Isso é telepatia, porque o que é válido é o que as mentes estão a conectar. Palavras, levas o vento, ao passo que o que está na mente não pode ser mascarado. 

Os animais têm a sua inteligência que os leva sempre à sobrevivência. Já o homem, nem sempre usa a inteligência para a sobrevivência, mas sim à destruição. Talvez um dia se canse de si mesmo e tenha de encontrar uma maneira diferente, uma maneira muito especial, de pedir socorro!?...