quinta-feira, 16 de julho de 2009

Eu tinha um dom - 3


Eu tinha um dom. Um dom muito especial.

Desde muito nova eu ansiava a idade e o rumo certo para ter um filho. Eu queria ser mãe e educar na perfeição uma criança, como se isso fosse possível e se fosse um filho meu, tanto melhor. E sempre que via uma grávida sentia uma grande atracção. Essa atracção começou a tomar proporções maiores e eu ficava quase que hipnotizada. No meio dessa estranha sensação, descobri que conseguia ver perfeitamente se a criança, independentemente do tempo de gestação, era menina ou menino. Essa coisa tornou-se um hábito regular, normal e aprendi a viver com isso.

Era como se a mulher grávida  se tornasse transparente, deixando-me ver o seu interior, ao mesmo tempo que emanava uma energia que eu canalizava e definia sem o menor esforço. Muitas vezes cheguei a dizer, inclusive, com quem a criança se pareceria e outros pormenores subtis, mas relevantes para a futura mãe. Eu tinha a certeza absoluta. Não era uma questão de me pôr a adivinhar nem a pensar. Apenas olhava e um olhar fortuito bastava. Não havia magia nenhuma nem truque algum. Nem poderia haver. Como isso se explicava não sei. Não era um jogo. Havia um elo inexplicável entre mim e o feto, independentemente do tempo de gestação. Não era uma coisa que se pudesse explicar.

Aos 26 anos engravidei. Seria menino ou menina? Havia pouquíssimos médicos que já faziam ecografia e o meu médico era um deles. Aos seis meses de gravidez fiz a ecografia mas a posição da criança não deixava ver o sexo e eu não tinha a menor ideia do que seria. Foi surpresa total.

Com o nascimento do Henrique perdi essa faculdade que nunca mais voltou. 

Ainda hoje não tenho explicação para isso. Mas eu tinha algo que considerava um verdadeiro "dom".


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