sábado, 10 de abril de 2010

O Chinês - 15


O jantar estava já no fim quando ele chegou. Vi-o ao entrar a porta e pensei "é chinês". Falou com os organizadores e sentou-se na minha frente, onde havia um lugar vazio. Fez o pedido e falava bom português, sem qualquer sotaque. Pensei "enganei-me, não tem nada de chinês, é bem português e ponto final". 

Mas eu olhava para ele e continuava a achar que parecia chinês. Havia umas coisas, mas eram tão subtis, isto é, tinham tão pouca consistência, por exemplo, era de pequena estatura como os chineses em geral, mas como um monte de portugueses também; tinha o cabelo muito curto e como era liso ficava todo espetadinho, como muitos portugueses também têm e tinha andar de chinês, achava eu, mas isso poderia ser uma "chinesice" minha.  

Por outro lado, não lhe achava nada de chinês. Não tinha olhos de chinês, não tinha nenhuma característica física que o identificasse como chinês, nem uma só para amostra. Que parvoíce a minha em achar que o homem era chinês, o sr. Carlos, como o trataram. Nem o nome era chinês, logo, eu estava com invenções. Não sabia de onde me tinha vindo aquela fantasia, mas não conseguia deixar de o ver como chinês. 

Levantei-me para ir ao WC e quando voltei ele estava sentado numa cadeira ao meu lado direito. Como o espaço era apertado, pedi licença para passar. Ele levantou-se e apressou-se a dizer que o tinham mandado sentar ali. Percebi que estava atrapalhado e disse-lhe que tinham feito muito bem, que estava muito bem ali ao meu lado e deu um sorriso desajeitado. Era óbvio que era tímido. 

A dançarina entrou e vieram os aplausos. Era uma garota muito nova e engraçada. Começou o espectáculo e algumas pessoas tiraram fotografias. Então ele perguntou-me se gostava de dança do ventre. Disse-lhe que sim e que eu mesma já tinha dançado. Fez-me várias perguntas sobre as danças e fui respondendo conforme sabia. Depois perguntou-me sobre os homens. Disse-lhe que os homens eram igualmente muito bons dançarinos, mas no ocidente, especialmente na Europa, não era comum. No Brasil já havia muitos.  

Depois perguntou-me se eu já tinha vivido noutro país. Respondi-lhe que não, a não ser em criança, que tinha estado em África. Ele disse que era funcionário público reformado, que trabalhava num Ministério e que, por motivos de trabalho, tinha vivido dois anos na China... 

Há coisas que não se explicam(?!).

 

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